Sacada Literária

Cultura, crítica e divulgação

Cartaz do filme "A Bela Intrigante"

PALOMITAS – cine cult

 Bioque Mesito*

 

 

LES AMANTS DU PONT-NEUF

[OS AMANTES DE PONT-NEUF] 

 

Título original: Les amants du Pont-Neuf

Direção: Leos Carax

Gênero: Drama/Romance

País/Ano: França, 1991

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 Romance sob as estrelas

 

Bem-vindo ao lado menos glamouroso de Paris, onde a Pont-Neuf deixa de ser apenas um cartão postal para se tornar o cenário peculiar de Os Amantes de Pont-Neuf. Aqui, um viciado sem-teto e uma jovem pintora com deficiência visual protagonizam uma história de amor inusitada, transformando a ponte mais antiga da cidade em palco para um espetáculo de emoções e superação.

No papel do viciado irresistível, temos Denis Lavant, cuja atuação é uma montanha-russa emocional que nos leva de risos a lágrimas em questão de segundos. Juliette Binoche, como a artista com visão comprometida, traz uma vulnerabilidade encantadora ao seu papel, criando uma química única com Lavant. Juntos, eles pintam um quadro de romance e desafios em meio às sombras das margens do Sena.

O diretor Leos Carax não economiza nos detalhes sujos e chiques da vida nas ruas, trazendo autenticidade à narrativa. A história se desenrola de maneira poética, capturando a beleza nas pequenas coisas, mesmo quando a vida se despedaça sob a ponte. As cenas noturnas, iluminadas pela luz amarelada da cidade, criam uma atmosfera mágica que contrasta com a realidade dura dos personagens.

A trilha sonora, pontuada por músicas melancólicas e tocantes, se destaca como uma extensão das emoções dos protagonistas. É como se a música fosse o eco dos sentimentos que não podem ser expressos com palavras, acentuando a intensidade do romance improvável.

Não é de surpreender que Os Amantes de Pont-Neuf tenha sido reconhecido com a Palma de Ouro no Festival de Cannes. A ousadia e a autenticidade do filme cativaram a crítica e o público, consolidando-o como um clássico moderno. Além disso, Denis Lavant recebeu elogios merecidos por sua atuação magnética.

Prepare-se para uma jornada cinematográfica que mistura realidade e poesia, sujeira e romance. Os Amantes de Pont-Neuf é um convite para experimentar a beleza que pode florescer nas circunstâncias mais improváveis, tudo isso enquanto a Pont-Neuf se torna mais do que uma ponte, mas um testemunho silencioso de um amor que desafia as probabilidades. Coloque sua boina parisiense imaginária e embarque nessa viagem encantadora sob as estrelas da cidade das luzes.

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COMO FAZER SEXO

Título original: How to have sex

Direção: Molly Manning Walker

Gênero: Drama

País/Ano: Grécia/Grã-Bretanha/Irlanda do Norte, 2023

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Entre a aventura e a aflição

 

Sob a direção da talentosa cineasta britânica Molly Manning Walker, How to have sex emerge como um poderoso drama que, corajosamente, aborda as questões intricadas e muitas vezes dolorosas ligadas à violência contra a mulher. A narrativa se desenrola em Mália, na Grécia, onde três amigas britânicas buscam aventuras pós-ensino médio, mas o que prometia ser um paraíso de descobertas transforma-se em um pesadelo para Tara, interpretada com intensidade por Mia McKenna-Bruce.

O filme vai além dos estereótipos comuns sobre a juventude e suas ações impensadas. Explora a complexidade das relações, a sexualidade, a amizade e os limites, apresentando-se como um reflexo sombrio e impactante. O trio central, composto por três amigas, oferece performances envolventes, dando vida aos personagens que se veem em uma espiral de eventos imprevisíveis.

A trama, inicialmente ambientada em um cenário de festas e descontração, toma uma guinada inesperada quando um evento traumático muda drasticamente a perspectiva de Tara sobre a vida e suas relações. O roteiro habilmente construído leva o espectador a uma jornada emocional, explorando temas delicados como consentimento, trauma e a difícil reconstrução do eu após um episódio devastador.

A cineasta Molly Manning Walker brilha ao esconder nas entrelinhas do filme reflexões profundas sobre a amizade, a sexualidade e a busca por identidade. A cinematografia, por vezes crua e visceral, captura a intensidade das emoções, enquanto o enredo se desenrola de maneira a provocar questionamentos e reflexões duradouras.

Em termos de reconhecimento, o filme não passou despercebido. Mia McKenna-Bruce, com sua atuação impactante, recebeu aclamação da crítica e conquistou prêmios por sua interpretação autêntica e emotiva. O filme como um todo também foi elogiado em festivais de cinema por sua coragem em abordar um tema tão sensível de maneira cuidadosa e provocativa.

How to have sex não é apenas mais um filme sobre a juventude descontrolada. É uma narrativa corajosa que mergulha nas camadas mais profundas da experiência humana, proporcionando uma visão única e perturbadora sobre as consequências da violência contra a mulher. Este filme não apenas entreteve, mas também provocou uma reflexão séria sobre a necessidade de compreensão, empatia e mudança em nossa sociedade. Prepare-se para uma jornada emocional que transcende os limites convencionais do cinema.

 

 

 

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CERTAS MULHERES

Título original: Certain women

Direção: Kelly Reichard

Gênero: Ficção

País/Ano: Estados Unidos, 2015

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Histórias que se entrelaçam

 

Em Certas Mulheres, somos convidados a desbravar a cidade de Livingston, Montana, e mergulhar nas vidas intensas de quatro mulheres, cada uma tecendo sua narrativa única sob o céu vasto e inspirador do estado norte-americano. O filme, dirigido por Kelly Reichardt, é um retrato sutil e cativante de mulheres fortes que buscam moldar o mundo à sua maneira.

No centro da trama, Michelle Williams, Kristen Stewart e Laura Dern brilham como protagonistas multifacetadas. Williams interpreta Laura Wells, uma advogada que luta por representação e justiça para Fuller, um operário vítima de um acidente de trabalho. Stewart e Dern assumem papéis igualmente poderosos, dando vida às complexidades de Gina, que embarca na construção de uma nova casa com sua filha Guthrie, e à jovem rancheira que nutre uma obsessão por Elizabeth, uma advogada recém-formada.

O roteiro entrelaça habilmente essas histórias aparentemente desconectadas, revelando os fios invisíveis que conectam as experiências dessas mulheres. A cinematografia capta a beleza imponente de Montana, proporcionando uma atmosfera que ecoa a força e a liberdade das protagonistas. Cada cena é como um quadro pintado com as cores do entardecer nas vastas terras do oeste americano.

O filme não busca respostas fáceis ou finais convencionais, preferindo explorar a complexidade da vida e das relações. Reichardt nos leva a um passeio contemplativo pelos anseios e desafios de suas personagens, enquanto elas buscam encontrar significado e moldar suas próprias existências.

Apesar de não ter recebido grande destaque em prêmios de grande escala, Certas Mulheres foi aclamado pela crítica por sua autenticidade e pela interpretação envolvente de seu elenco estelar. Michelle Williams, em particular, foi elogiada por sua entrega emocional e pela profundidade que trouxe à sua personagem.

Certas Mulheres é uma ode à força feminina, à determinação e à complexidade das relações humanas. Sob o céu de Montana, somos convidados a testemunhar as vidas dessas mulheres que, de maneiras diferentes, buscam moldar o mundo ao seu redor. Uma jornada cinematográfica envolvente que deixa uma marca duradoura, assim como as vastas paisagens que servem de pano de fundo para essas histórias fascinantes. Um filme lúgubre, seco e que nos leva a refletir sobre o feminino não como deveria ser, mas como deve ser sentido.

 

 

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EM UM PÁTIO DE PARIS

Título original: Dans la cour

Direção: Pierre Salvadori

Gênero: Drama/Comédia

País/Ano: França, 2014

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A busca por sentido existencial

 

No pitoresco cenário parisiense, Em um Pátio de Paris nos convida a explorar a vida do insone Antoine, interpretado de maneira sutil e convincente por Gustave Kerven. No filme dirigido por Pierre Salvadori, o pátio, originalmente um espaço de passagem, torna-se um refúgio para Antoine, que busca, acima de tudo, desaparecer do olhar público e encontrar um novo rumo para sua existência.

A trama se desenrola com uma reviravolta exasperada na vida de Antoine, que, em um impulso, decide abandonar sua vida anterior, incluindo família e trabalho, tornando-se zelador de um prédio em Paris. O filme aborda a insatisfação crônica de Antoine, revelando a busca por significado que muitas vezes se perde na correria do cotidiano.

O elenco estelar, incluindo Catherine Deneuve como a aposentada Mathilde, dá vida a personagens que compartilham do mesmo anseio por algo mais em suas vidas. A relação entre Antoine e Mathilde não é física ou romântica, mas uma conexão de almas perdidas, encontrando consolo mútuo em meio aos seus desesperos silenciosos.

A narrativa mergulha em temas como depressão e busca por propósito, enquanto apresenta uma galeria de personagens peculiares que habitam o pátio de Paris. Pio Marmaï como o vizinho vendedor de bicicletas, Nicholas Bouchaud como o controlador vigilante, e Oleg Kupchik como o vendedor de livros de uma seita religiosa contribuem para a riqueza do elenco diversificado.

O filme se destaca por sua abordagem mais dramática, explorando as diferentes maneiras como cada personagem lida com a depressão. O filme se distancia do clichê das comédias românticas de Salvadori, oferecendo uma reflexão mais profunda sobre a ausência de direção na vida.

Apesar da falta de destaque em grandes prêmios, o filme cativou a crítica com sua pegada dramática e o desempenho notável de seu elenco. O final, anticlimático e reflexivo, espelha a jornada dos personagens, refletindo como a ausência de um rumo claro pode afetar cada pessoa de maneira única.

É uma obra que navega entre a comédia e o drama, explorando a complexidade das relações humanas e a busca por significado. Sob o charme parisiense, o filme revela como o aparentemente simples pátio pode se transformar em um microcosmo onde as vidas se entrelaçam e os protagonistas buscam encontrar seu caminho em meio ao caos e à incerteza.

 

 

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A BELA INTRIGANTE

Título original: La Belle Noiseuse

Direção: Jacques Rivette

Gênero: Drama

País/Ano: França/Suíça, 1991

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Paixão e arte em conflito

 

No estimulante cenário da casa de campo de Edouard Frenhofer, interpretado de maneira magistral por Michel Piccoli, A Bela Intrigante nos transporta para um universo onde a arte e os relacionamentos entrelaçam-se de maneira complexa. Neste filme dirigido por Jacques Rivette, somos conduzidos pela história de um artista sexagenário, cujo retiro voluntário é abalado pela chegada de Liz, interpretada por Emmanuelle Béart, uma jovem que se torna modelo para a pintura inacabada de Frenhofer.

O enredo nos leva por um passeio pelas emoções conturbadas de Frenhofer, cuja obra inacabada, A Bela Intrigante, torna-se um reflexo das paixões não resolvidas em sua vida. Jane Birkin, como Marianne, a esposa do artista, contribui para a dinâmica ao retratar um casamento marcado pela compreensão, mas carente de desejo.

Emmanuelle Béart oferece uma performance marcante como Liz, a jovem modelo que se vê envolvida em um processo criativo quase sádico. O filme explora as tensões entre o artista e sua musa, criando uma narrativa intensa que revela o preço da busca pela perfeição artística.

A Bela Intrigante não se limita a explorar o conflito artístico, mas também adentra as complexidades dos relacionamentos afetados por essa busca incessante por inspiração. O filme é um mergulho no processo criativo, destacando as posições desconfortáveis que tanto o artista quanto sua musa enfrentam em nome da arte.

Embora o filme não tenha sido amplamente reconhecido em prestigiadas cerimônias de premiação, sua profundidade narrativa e atuações impressionantes receberam elogios críticos, sua narrativa introspectiva e performances sólidas foram elogiadas. A habilidade de Jacques Rivette em criar uma atmosfera carregada de tensão e emoção é evidente, dando vida a um drama que transcende as telas.

A Bela Intrigante é um filme extenso de quase quatro horas que vai além das pinceladas na tela, explorando os matizes complexos da paixão, arte e relacionamentos. Emmanuelle Béart, Michel Piccoli e Jane Birkin formam um trio impactante, conduzindo o espectador por um labirinto emocional que revela as nuances da criação artística e dos corações humanos. Esteja pronto para uma jornada de beleza, conflito e reflexão sobre o preço da busca incessante pela perfeição.

 

                              Divulgação

 

 

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