SEMPREVIVA, ESBOÇO
É estranho está aqui e escrever
E saber que ninguém vai ver
Não há olhos próximos fora os meus
Não há nada lá fora hoje
É julho e a noite é quente
E não há ninguém que possa ler
O que estou a escrever
É noite e não sinto teus olhos
Estou só aqui e desejo que as coisas passem
Eu que queria estar contigo agora
Eu queria estar levemente bêbado e feliz
Tua mão em minha mão teu riso em meu riso
Mas que importa agora
Se estou sozinho aqui
E ninguém me lê?
Ah Itapecuru, as horas estão mornas
As horas todas estão assim
Carvalho esteve aqui quantos anos faz?
Viu teu dia colheu tua noite
Ah, Itapecuru, que é a vida
Que nos afeta a todos? E a morte
Essa coisa caprichosa
Leva os melhores primeiro
Meu amigo escreveu um livro azul
Um livro inicial na noite de Itapecuru
E ele ergueu bem alto
A tocha azul de suas memórias
Também há um eremita na encruzilhada
Guardando os dias da poesia
É um guerreiro de alma antiga
Que maneja uma lança pesada
E um ornamentado escudo
Também o pintor que pintou de verde
As avenidas principais, ele tingiu a terra
Com tinta amarela colhida do rio
E montou uma galeria de paisagens
No meio da ponte, oh Itapecuru
Tuas cores estão salvas em telas e quadros
Mas nem a arte salvará os dias
Encontrei flores em campos sonoros
Eu guardei o nome para não esquecer
Mas hoje não há flor nem nada
Apenas um nome escrito na saudade
Como uma estátua de sal
Na paisagem do dia as cores vazadas
Te guardei em poemas e dilemas
Eu que não queria nada
Hoje só não quero esquecer.
E onde está quem cantei primeiro?
Onde anda quem nunca teve nome?
Até parece um sonho à sombra dum catavento
Vai, corre, menino! Uma parede de fogo e fumaça
Cresce no horizonte
Vai, chama teu avô, ele conhece encantaria
Ele chorou antes de nascer
Assim a vó mais velha me contou
Salve, minha mãe, sua bênção mais uma vez
Quanto tempo não vejo o imperador que está longe?
Vejo o lilás quando as horas estranham sozinhas
Vai irmã, coloca mais livros em tua lista
Ninguém tem asas como as tuas
Pequena irmã entra no navio
Que no horizonte começa o inverno
E assim cresce o grande pé de azeitonas
Maior que qualquer prédio
Mais belo que qualquer igreja
Guardei para mim as estrelas azuis
que iluminavam campos vazios
eu que vesti armadura completa
eu que não queria nada
hoje só não quero esquecer.
*Raimundo Soares, poeta nascido em Itapecuru-MA
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