Traduções de Rogério Rocha*
Inscripción sepulcral
(Poema de Jorge Luis Borges)
Para mi bisabuelo, el coronel Isidoro Suárez
Dilató su valor sobre los Andes.
Contrastó montañas y ejércitos.
La audacia fue costumbre de su espada.
Impuso en la llanura de Junín
término venturoso a la batalla
y a las lanzas del Perú dio sangre española.
Escribió su censo de hazañas
en prosa rígida como los clarines belísonos.
Eligió el honroso destierro.
Ahora es un poco de ceniza y de gloria.
[Tradução 1]
Inscrição Sepulcral
Para meu bisavô, o coronel Isidoro Suárez
Espraiou sua coragem sobre os Andes.
Desafiou montanhas e exércitos.
A ousadia estava inscrita em sua espada.
Na planície de Junín, fincou, vitorioso,
o desfecho da batalha,
sujando de sangue espanhol as lanças do Peru.
Cravou suas proezas
numa prosa grave como clarins em guerra.
Escolheu o exílio honrado.
Agora é um punhado de cinzas e glória.
[Tradução 2]
Inscrição Funerária
Ao meu bisavô, coronel Isidoro Suárez
Estendeu seu valor como ponte sobre os Andes.
Confrontou montanhas e exércitos.
A espada era o hábito de sua audácia.
No campo de Junín, selou, triunfante,
o destino da batalha
e banhou em sangue espanhol as lanças peruanas.
Redigiu seus feitos heroicos
numa prosa firme como trombetas de combate.
Preferiu o digno exílio.
Hoje, é resto de cinza e de glória.
*
Um poema sem título
(de Paul Auster)
10.
Ice – means nothing
Is miracle, if it must
Be what will – you are the means
And the wound – opening
Out of ice, and the cadence through
Blunt Earth, when crows
Come to maraud, Whrever you walk, green
Speaks into you, and holds. Silence
Stands the winter eye to eye
With spring.
[Versão 1]
Gelo – nada é por acaso
Se as coisas seguem seu rumo –
És sentido e ferida – aberta
Sobre o gelo, e a cadência pela
Terra bruta, quando os corvos
A vêm saquear. Por onde quer que
Caminhes, o verde, que o envolve,
Também fala em ti. O silêncio põe
O inverno diante da primavera.
[Versão 2]
Gelo – é que nada
É milagre, se tiver de ser
O que será – és o sentido
E a chaga – aberta
Ao frio, e o balanço
Que avança a terra trêmula,
Quando os corvos pousam
Para brilhar. Onde quer
Que caminhes, o verdor
Reverbera em ti, e o abraça.
O silêncio põe face a face
O inverno e a primavera.
[Versão 3]
Gelo significa que nada
É milagre, se está escrito
Que será – dentre caminhos
E estigma – aberto no gelo,
E o equilíbrio sobre a terra
Cega, quando os corvos
Vêm pilhar. Por onde vás,
O verde fala em ti, e o abraça.
O silêncio coloca o inverno
Olhos nos olhos com a primavera.
*
Ecce Homo
(Friedrich Wilhelm Nietzsche )
Ja! Ich weiß, woher ich stamme!
Ungesättigt gleich der Flamme
glühe und verzehr’ ich mich.
Licht wird alles, was ich fasse,
Kohle alles, was ich lasse:
Flamme bin ich sicherlich!
[Versão 1]
Sim, sou da ordem do fogo!
Indomável meu escopo,
Quando queimo sumo.
Deito tudo ao chão;
Enquanto devasto – então:
Eu sei quanto arde o fumo.
[Versão 2]
Eu sei, no sangue clama
Intragável chama,
No fogaréu sôfrego.
Envolto em gases rubros;
Quando há temor – os encubro:
É a fogueira a lamber meu ego.
Brilhantes, os poemas e as traduções do Rogério, bem.como a divulgação que o Ailton faz no seu Sacada Literária. Honra e glória a todos. Até aos tolos também kkkkk