
Anna Liz é de Santa Luzia, Maranhão. Poeta, cronista e pesquisadora. Mestra em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. Tem participação em inúmeras antologias lançadas no Brasil e em outros países, além de já ter publicado oito livros solo. Organizou duas antologias com obras de 25 escritoras maranhenses. Este ano está lançando o livro com a escritora Silvana Meneses – Poemas mínimos. Faz parte de algumas Academias e Núcleos Acadêmicos de Letras, é membro correspondente da Academia Ludovicense de Letras. Membro da Rede sem Fronteiras. Em 2021, ficou em 3º lugar no Prêmio Alejandro Cabassa, categoria crônica, da União Brasileira de Escritores- RJ. 3º lugar no Prêmio de Poesia Samuel Barreto; Destaque literário no Selo OffFlip Nordeste, 2023.
10 poemas
de
Anna Liz
PALAVRAS DOMAM ESCUROS
Numa noite sem luar,
vibram tuas ancas e
uma luz gagueja em tuas mãos:
superfície misteriosa.
Tudo suscita amor e morte
Como um coice cego de desespero.
Onde o verso se inflama
As palavras domam escuros
entre a saudade e o abismo.
PALAVRA/MAPA
uma palavra
vale mais que um mapa
se é longa a estrada
a mesma mão que traça, risca ou desenha,
captura os desatentos
liberta os cansados
mesmo que o verso sangre
os pés na caminhada
a noite nos abraça e revela
uma única palavra ilumina
a palidez dos astros
enquanto um deus nos esquece
no escuro
a mesma palavra que corta, fere e fura a carne
domestica os incautos
e levanta os exaustos.
uma palavra vale mais que um mapa
se se conhece ou não a estrada.
A FACE CARREGADA
Não escrevo para salvar
o mundo,
sinto muito.
não tenho conseguido
salvar nem a mim mesma.
pode ser que haja arsênico
sobre a mesa da cozinha.
eu já não creio em redenção.
minha pequenez não
passa despercebida
e se eu me descrevesse
seria um quadro com
uma face
nem face de mãe
nem face de virgem
apenas uma face carregada
de tormenta.
CATARATA(S)
Tenho muitas águas
nos olhos –
um cortinado em queda
pelos meus rochedos.
não fosse o lago
(aos meus pés)
a refletir meus sonhos
eu não reconheceria
as distâncias
DO QUE ME RESTA
tudo fere minha solidão
tenho pressa de silêncio
meus rastros e restos não
se recuperam mais
e minhas mãos
expõem meus remendos
e rebocos
escrevo versos jamais lidos
mas é assim que sobrevivo.
CAMINHO DE AREIA
O decote do vestido carrega
uma vida que nunca coube
em sacramentos e passarelas.
A margem é o caminho
e a areia dita a sua história
O pai morto, o dinheiro parco
a mãe costurando no canto
a filha entendeu (desde cedo)
que abrigo são pedaços de lápis e de papel…
só a rede armada recolhe os
rascunhos de vida e
a fome de desaparecer.
DESTINO
entre nuvem e onda,
sou lua
ser unicamente humana
limita-me
as estradas são difíceis
mas minha sede orienta o voo
PONTO CARDEAL
aponta-me um ponto
e encontrarei a chama
que erradica a treva
e a solidão
seja a bússola
ao alcance da
pouca visão
guia-me sobre o fogo
da resistência,
já caí em muitas armadilhas
e o caminho é sempre o mesmo
dê-me a mão,
preciso refazer-me
e arrancar das minhas entranhas
o poema-entre-poemas
que escorre dos meus olhos.
A POESIA QUE INVENTEI
para enfrentar meus monstros
reinventei-me na poesia
preenchi as lacunas
com versos
sou um vazio gramático
meus olhos arroxeados
meu peito hemorrágico
um abismo em meu ventre
um beco pouco iluminado
a trava na garganta
conta uma história…
e nessa folha rabiscada
escancaro meu coração
revelo outra identidade
eu nunca pude chorar
agora sei:
o poema é o meu choro
DO QUE ME MOVE
flor, semente, fruto
sonho, chão,
pés, labuta
na flor e
no passado,
pisam meus calos
feito cavalo de pau.
os pés são as asas
dos que têm sede.
*


Anna Liz é uma poeta potente. Sabe os caminhos de uma sintaxe nova e instigante.
Obrigada, Paulo! Que lindeza!
Anna Liz, poetisa de primeira grandeza. Sucesso!
Amei , cada um mais lindo que o outro.
sem dúvida Anna Liz tem propriedade com as palavras e os texto. Parabéns
parabéns Ana Liz, vc é o orgulho dos Luzienses. Uma poeta brilhante, pós a poesia nasce da vida do dia a dia.