Amantes da literatura são convidados para o encontro com o escritor da obra Me Chama de Cassandra, Marcial Gala, na 16ª FeliS (Feira do Livro de São Luís), com o tema: “Literatura latino-americana contemporânea e suas traduções”.
A mediação será realizada pelos escritores Alexandre Maia Lago e Bruno Tomé. O evento acontecerá neste dia 20 de outubro de 2023, no auditório Gonçalves Dias, às 19h.
“Muito importante essa integração com outras literaturas. A América Latina continua produzindo grandes escritores, porém, pouco conhecidos no Brasil. Daí a relevância da vinda do cubano Marcial Gala. É também uma oportunidade de conhecerem nossos escritores. Em suma: um intercâmbio cultural.”
ALEXANDRE MAIA LAGO
ACERCA DO AUTOR
MARCIAL GALA nasceu em Havana, em 1965. É romancista, poeta e arquiteto. Ganhou o prêmio Pinos Nuevos de contos em 1999. Recebeu o Prêmio Alejo Carpentier de romances em 2012, e o Prêmio da Crítica para os melhores livros publicados em Cuba em 2012. Gala também ganhou o Prêmio Ñ, em 2018, com Me chama de Cassandra. Atualmente vive em Buenos Aires e em Cienfuegos.
Diz Marcial Gala logo no começo da sua única obra lançada no Brasil, Me chama de Cassandra, “(…) eu reflito muito para os meus dez anos de idade”
O seu incessante pensar recai no mesmo ponto, aparentemente sem saída. Afinal, ele, o seu personagem principal, Raul (que só queria ser Cassandra), constata como está profundamente desencaixado daquele seu mundo (“me falou sobre o mundo e foi estranho”).
O seu mundo, a sua aldeia, a sua Cienfuegos natal, impingiu dores na sua formação, quando Raul se vê obrigado a “ jogar ovos na família do meu melhor amigo”. No seu íntimo, Raul não queria fazê-lo, mas foi levado por um turba raivosa e “revolucionária” a agredir aquela família de “traidores da pátria”.
Outro aborto a fórceps do espírito e da vontade de Raul foi perpetrado dentro da sua própria escola. O seu próprio “professor” inibiu a formação de um Raul escritor, que numa oficina literária apenas tinha alinhavado algumas garatujas de poesia. Aquele pequeno conteúdo foi interpretado pelo professor e pelo diretor da escola como um “poema muito inadequado”, certamente copiado de algum subversivo.
Fora dos muros da escola, os ventos cubanos sopravam frases do tipo, “poesia? (…) você vai acabar careca e com um tiro na testa.”
Amedrontado, Raul viu o seu eu- escritor ser abortado prematuramente. Jogou o poema no lixo da escola.
Esse é um pouco do desencontro de Raul consigo mesmo e com seu mundo. Essa é a oportunidade de conhecer um pouco da obra do cubano Marcial Gala, representada por essa elegante profissão de fé literária chamada Me chama de Cassandra. Estaremos com ele na Feira do Livro de São Luís, no dia 20/10/2023, às 19h, no Auditório Gonçalves Dias.
Vejo vocês por lá, abraço fraterno.
BRUNO TOMÉ FONSECA
*Bruno Tomé Fonseca é escritor, membro da Academia Ludovicense de Letras e Promotor Público do Estado do Maranhão.
DO LIVRO “ME CHAMA DE CASSANDRA”
“Um romance fascinante de um dos melhores escritores das Américas. Uma obra-prima que mistura o mito grego com a intervenção cubana em Angola. No centro deste conto incandescente, queima o sensível Raul, preso entre os Deuses e a Revolução, entre um corpo do qual ele deseja escapar e um mundo que não permite que ninguém como ele escape. Me chama de Cassandra é como a Crônica de uma morte anunciada, porém mais negra e brilhantemente melhor.”
Junot Díaz
“Há muitos anos não lia um romance que me emocionasse tanto e tão profundamente. Marcial Gala surpreende pela destreza, audácia e elegância com que articula um mecanismo ficcional muito original. Me chama de Cassandra lança um olhar corajoso e sensível sobre a participação de Cuba na guerra civil angolana. Se há livros que restauram a nossa fé na literatura e a capacidade que ela tem de nos dar a conhecer o outro, este é um deles.”
José Eduardo Agualusa
“Raul tem dez anos e é um ávido leitor de literatura clássica. Nasceu no corpo de um homem e, como a mitológica Cassandra, princesa de Troia, é capaz de prever o futuro, mas não encontra no mundo quem lhe ouça. Sabe que irá lutar na guerra em Angola e que morrerá aos dezenove anos movido pelo ódio, e sabe também como cada um dos seus familiares e companheiros de batalha irá morrer.
Durante a infância e a adolescência de Raul, o romance narra a busca por uma identidade em um ambiente hostil. Que testemunha o colapso da revolução e da utopia internacionalista. Lírico e realista, Me chama de Cassandra é um romance de formação que reconstrói o cotidiano cubano dos ano 1970, com um olhar terno e uma capacidade de reavivar mitos clássicos na história de um país em guerra.
Entre o campo de batalha angolano, e a pobre cidade cubana de Cienfuegos, entre as margens da antiga Troia e o mundo do século XX, Me chama de Cassandra conta também as batalhas, o preconceito e o drama de uma família pobre imersa nos conflitos internos. Pessoais e políticos inevitáveis daquela época. Sufocado por saber de todas as tragédias que ainda estão por vir, Raul busca espaço para descobrir e manifestar sua essência. Sublime e corajoso, este livro é a história da força inescapável do destino.”
(In: Me chama de Cassandra)
História tocante e atual. Realmente encontro imperdível com Marcial Gala!