No próximo dia 23/11/2023, às 19 horas, a escritora, professra e pesquisadora Ceres Costa Fernandes lança, na Academia Maranhense de Letras, livro que é resultado de anos de suas pesquisas sobre Lucy Teixeira, esta que, nas palavras de Ceres, é simplesmente a maior das escritoras maranhenses de todas as épocas.
Sabemos que não foi, e não é, uma fácil tarefa. A maranhense Lucy Teixeira, uma sempre itinerante, deixou muitos rastros esparsos e dispersos em diversos lugares do Brasil por onde estudou e atuou, mas também muita coisa no estrangeiro, principalmente na Itália, onde residiu. Talvez isso tenha contribuído para o desconhecimento da sua importância e de sua escrita para a literatura, seja local ou nacional, pois Lucy era uma gigante. Seu papel no modernismo maranhense, cuja consolidação é atribuída somente a Bandeira Tribuzi, sem deixarmos de reconhecer este, não foi ainda completamente esclarecido. E é Ceres quem levanta essa questões e nos dá a conhecer essa mulher, essa literalmente fenomenal escritora: Lucy Teixeira.
Abaixo, trazemos texto do escritor Lino Moreira sobre o novo livro de Ceres, bem como comentários de dois poetas excepcionais conhecedores da magnitude de Lucy.
O ESSENCIAL DE LUCY TEIXEIRA, DE CERES COSTA FERNANDES
Lino Moreira*
Este livro, O essencial de Lucy Teixeira, autoria de Ceres Costa Fernandes, da Academia Maranhense de Letras, nasce com a missão de evitar a morte dessa grande intelectual maranhense. Mas ela não está morta, há vários anos, tendo falecido na fé de sua religião, acreditando em uma segunda vida? Está. Lucy falava, porém, da vida eterna.
Esta obra de agora quer impedir, apenas, a segunda morte terrena dela, a morte pelo esquecimento, pela indiferença das coisas do espírito, pela luta renhida pelo poder. Tarefa como essa é viável, mas não tão comum. Sua realização necessita, todavia, de dedicação, disciplina e amor pelas coisas de nossa terra, qualidades abundantes em Ceres. O exemplo ameaçador de que sempre me lembro é o do saudoso Jomar Moraes. Se ainda não morreu de novo é porque sua dedicação integral à cultura do Maranhão produziu frutos extraordinários, que necessitam de divulgação às novas gerações. Suas obras, por sua qualidade, precisam de reedições.
Para falar de Lucy, é preciso pesquisar com afinco, às vezes durante horas, semanas e meses à procura de uma informação importante e, ao fim, não encontrar coisa alguma concreta, uma fonte confiável a garantir ao pesquisador um nível aceitável de confiança no achado. Isto acontece não raramente, mas, no caso de Lucy, a dificuldade é dobrada. Ela andou pelo Brasil e pelo mundo e não pôde, no vaivém de sua vida de cidade em cidade e de país em país, pela Europa, como servidora do Itamaraty, publicar tudo que produzia. Apesar desse empecilho, contudo, não foi esse o principal motivo de não ter ela oferecido ao público leitor mais obras. É que ela não tinha o gosto pela autopromoção. Esta preparação da própria posteridade exige lançamentos de obras em lugares badalados, como se elegantes fossem, entrevistas em rádios e televisões, em que teria de aturar entrevistadores apressados e ouvir histórias de livros eternamente em elaboração.
De modo curioso, no entanto, Lucy ganhou prêmios literários antes, até, de ter seu primeiro livro publicado, como o leitor poderá verificar pela leitura desta obra. Foram amigos dela Lygia Clark, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, José Sarney, Henry Miller, Antônio Cândido, Ferreira Gullar, Bandeira Tribuzi, Oswald de Andrade, Mário Pedrosa e diversos outros do mesmo porte. Temos aí boa medida de seu prestígio nos grupos de intelectuais de projeção nacional e até internacional. Não era de sua índole, contudo, alardear as amizades com esses homens e mulheres ilustres.
Seu catolicismo era discreto e firme. Uma vez me presenteou com um exemplar em capa dura, da Legenda áurea: vida de santos, do gênero literário conhecido como exemplum, em bela edição de 1042 páginas da Companhia das Letras. É uma coletânea hagiográfica recolhida por Jacopo de Varazze, arcebispo de Gênova, que viveu de 1229 a 1298. O objetivo da obra era fornecer aos dominicanos, ordem a que Jacopo pertencia, material para sermões. Fiquei feliz com o presente, mesmo não sendo pessoa religiosa, pois ali se encontram valiosas indicações sobre a vida das pessoas daquela época e o modo de viverem honestamente o catolicismo.
Conheci Lucy quando, depois de longo período fora do Brasil, ela voltou a São Luís. Um dia, conversando com minha mãe, mencionei a ela minha nova amiga, ao que ouvi como resposta: “Lucy é minha amiga também. Estudamos no mesmo Colégio Cisne, do professor Mata Roma, mas não na mesma turma”. Minha mãe era de 1921 e Lucy de 1922. Depois, marcamos um encontro e fomos, os três, tomar um café e conversar na brisa do fim de tarde, num estabelecimento de sucos e sorvetes.
A versatilidade de Lucy era notável. Ela transitou por diversos gêneros literários: romance, conto, crônica, poesia, teatro, artes plásticas. Poliglota, tinha acesso a livros editados em inglês, francês, italiano, espanhol. A literatura não era para ela simples maneira de brilhar ou de se projetar; era, sobretudo, parte de sua vida, de seu modo de ser educado e gentil. Quantos conselhos sobre o exigente ofício de escrever ela me deu! Dizia: “Não diga tudo, deixe espaço à imaginação do leitor. Não o subestime.” E assim eu fiz.
Enfatizo o caráter pioneiro deste livro, sua importância e sua qualidade. Agora temos uma trilha aberta nos estudos sobre Lucy. Foi trabalho duro, difícil, não porque não houvesse informações sobre ela, mas porque aquilo que havia estava e em grande parte ainda está disperso. Não apenas no Brasil, mas na Itália, na Bélgica, na Suiça, na França e em diversos outros lugares. Será necessário, de parte dos órgãos culturais do setor público e de empresas privadas sensíveis ao desenvolvimento da cultura nacional, apoio à continuidade e expansão do trabalho de Ceres.
Lino Moreira é membro da Academia Maranhense de Letras (AML)
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“Eu considero Lucy como a mulher escritora de maior representatividade da literatura maranhense no século XX. Era romancista, contista e poetisa. Merecidamente seu trabalho esteve em um lugar destacado na história da literatura. Infelizmente, por viver muito tempo fora do Maranhão, seu nome não é reconhecido entre nós. O Maranhão, às vezes, esquece dos seus filhos.”
NAURO MACHADO, Poeta
O desaparecimento de Lucy é uma perda irreparável. Como escritora, ela destoa de todas as escritoras maranhenses seguindo a linha de Clarice Lispector. Agora sua obra é praticamente desconhecida entre nós, tendo grande destaque em países como a Espanha, Itália e Bélgica.
JOSÉ CHAGAS, Poeta
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