Sobre poemas de Antonio Aílton e Altair Martins
Patricia Gonçalves Tenório
08 de novembro de 2024
A camiseta foi preparada para os destroços
e para o pão diário deste mundo
(Aílton, p. 16)
Somos a paisagem e o que ela habita
(Martins, p. 17)


Pablo Neruda já dizia que “o poema é de quem sente”.
Parece que, com esse verso, Neruda conhecia, lá atrás, os poetas Antonio Aílton e Altair Martins, aqui na frente. E na minha frente se apresentam esses dois poetas maiores, Aílton e A camiseta de atlas*; Martins e Labirinto com linha de pesca**.
Neruda estaria correto se os considerasse irmãos. Os livros chegaram em minhas mãos em momentos diferentes (o de Aílton, em 2023; o de Martins, em 2021), mas parecem navegar juntos pelo cosmos da poesia há muito tempo. Com versos tais como
“Toda vez que um poema se completa, uma borboleta se desprega /
dos pequenos guardados de Deus” (Aílton, p. 22)
“é porque dentro dos carros /
alguém pode estar dirigindo molhado de música.” (Martins, p. 18)
Aílton e Martins nos guiam pelo mundo assoberbado que nos rodeia, onde as pessoas não param para degustar um pôr do sol, um nascer do dia, sorriso de criança, um simples guarda-chuva.
“e sustentar a tempestade interior /
por uma frágil haste” (Aílton, p. 46)
“Nada sei da natureza bela,
porque prefiro a natureza pura.” (Martins, p. 39)
Ser poeta, nos dias atuais, é quase um palavrão, é ser pária na própria terra, patrícia – da pátria – mas sem pátria para pisar.
“O poeta é um ser desamparado /
mas dispensa a minha ajuda e a tua” (Aílton, p. 51)
“Há de se subir escadas onde se subiram paredes /
sem duvidar dos olhos a fabricar o leme.” (Martins, p. 60)
De repente, uma surpresa: a homenagem de Antonio Aílton para… Patricia Tenório.
“Que eu siga / teu prumo / a / Luz / do teu / rumo / fazendo / dos dias / o sudário / que cinges / com alegria” (Aílton, p. 55)
E Martins ressoa em eco, lança o anzol, apanha a isca do poema:
“Mas fui o que desviou da cerca, / o que ficou sem voz, / o que forneceu a isca.” (Martins, p. 74)
Sim, somos poetas-irmãos, dos que vieram antes, dos que estão vindo depois, quinze jovens escritoras e escritores que se lançam à primeira publicação coletiva e, nos primeiros raios de sol, nascem.
Enquanto
O mundo inteiro
Enlouquece
De guerras
Competições
E dor
Quinze jovens
Me entontecem
Com poemas
Escritas em prosa
E cor
“Quem escreve
É solidão
Mas
Escrita
Criativa
É comunidade”
Eu disse uma vez
Na Feira de Frankfurt
E direi
Quantas vezes
Forem necessárias
Até derrubarmos
As guerras
Os muros
Fronteiras
Orgulhos
E o mundo inteiro
Ser
Paz
Saúde
Amor


*A camiseta de atlas, de Antonio Aílton. São Luís, MA: EDUFMA, 2023.
**Labirinto com linha de pesca, de Altair Martins. Porto Alegre, RS: Diadorim Editora, 2021.
(Tenório, “Escrita Criativa, me chama que eu vou!”, 07/11/2024, 11h29)
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