Sacada Literária

Cultura, crítica e divulgação

Poeta Maruschka de Mello e Silva

MARUSCHKA DE MELLO E SILVA – “Tábua Etrusca”

Mostra da poesia intimista do Tábua Etrusca, de Maruschka de Mello e Silva.

A poeta, com sua voz sensível, sutil e despretensiosa – sem facilidades – pertence à mesma família melódica e evocativa de uma Cecília Meireles, da angústia e do despedaçamento íntimo de uma Florbela Espanca, e da solenidade semântico-simbólica de uma Emily Dickinson, mas se inscreve em sua voz própria e particular, a qual se deixa reconhecer, quer se leia um poema ou vários, desse livro. E isso é o mais importante num(a) poeta: sua consciência criativa, sua autonomia, sua presença única no poema. Na poesia de Maruschka também paira um traço simbólico-religioso de uma intertextualidade com o universo hebraico/judaico/cristão, mas de evocação quase salmúdica, num Áleph vital que rejeita as errâncias para afirmar a segurança do mundo no qual habita e ao qual constrói. É para a descoberta desses pergaminhos de uma escrita afirmativa, ou dessa tessitura prismática íntima, por vezes dolorosamente construída, que nos sentimos convidados.

[Antonio Aílton]

 

 

NADA TENHO DE ERRANTE

 

quando palavras são repetidas

entornam-se todo entendimento

nada tenho de errante

quero laços

minha ferida não mais reclama

devoro tua sagrada piedade

desejo que tuas palavras

se evaporem

 

 

PROCURO POR TUDO

 

Em cada secular castigo

rejeito sonhos

em arredia vigília

O azul da lua rouba a noite

sem complacência

procuro meu quinhão

em tuas dádivas

procuro por tudo que nunca tive

 

 

ÁRVORE

 

Consumida e expulsa

eu estava lá

 

afastada de glórias e retardos

entreguei o esplendor

 

que mais temo

sou árvore em amparo

e sementes

 

 

QUEM SÃO ESSES?

 

Quem são esses que

carregam

esperanças nas árvores?

 

 

ACEITO O QUE ME FOI DADO

 

Com todas as coisas que existem

desejei-te exaltando

e entoando poemas

 

a chuva vem a seu tempo

para mim haverá

lembrança e inquietude

do que não tivemos

 

aceito o que me foi dado

 

voltei a mim

fui medida e pesada

compadecida no desejo

vivo e pleno

fecho os olhos e abro o silêncio

 

 

 

Maruschka de Mello e Silva mora e trabalha em São Luís (Maranhão). Promotora de Justiça da Capital, escreve desde adolescência, tendo recebido prêmios em Concursos Literários nacionais. Está presente em várias Antologias e tem dois livros publicados: Pedras em Izkhor (editora Scortecci, 2010) e Tábua Etrusca (Viegas Editora, 2022).