PAULO RODRIGUES ENTREVISTA
O POETA
RICARDO NONATO

Ricardo Nonato (1979, Bahia) é poeta, artista visual, mestre em Letras pela Universidade Federal da Bahia e doutor em Teoria Literária (UFPE). É professor universitário (UFMA). Criou em 2017 o selo de arte Casa de Vento, através do qual vem publicando seus livros de modo artesanal. É autor de O menino que morava no umbigo do mundo (2006); Cântico de Quitéria (2015 – edição cartonera, 2019 – Casa de Vento); Beleza oculta (2016 – livro objeto, Casa de Vento); Fomes Temporais (2019, Casa de Vento). Participou da antologia poética Babaçu-Lâmina (Editora Patuá, 2019); tem poemas publicados no OXE – Portal da Literatura Baiana Contemporânea; publicou o estudo Nas tramas do existir: o mítico e o feminino da poesia de Myriam Fraga (2021). De 2011 até 2021 publicou o fanzine Círculo Poético de Xique-Xique – projeto desenvolvido na Universidade do Estado da Bahia, que se tornou um espaço aberto, sobretudo, para escritores e artistas visuais do eixo Norte/Nordeste. Desenvolve atividades relacionadas à criação, experiências poéticas e sua expansão na Universidade Federal do Maranhão, campus de Bacabal.
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- Paulo Rodrigues – Ricardo Nonato, você trabalha os autores contemporâneos na academia. É necessário apresentar os autores desta quadra histórica aos acadêmicos e demais pesquisadores da área de Letras?
Ricardo Nonato – Paulo, atualmente, meu interesse central é pela literatura contemporânea do Maranhão e tal perspectiva ganha concretude a partir da minha fixação no estado, tornando-se um dos objetos de estudo estabelecidos pelo Grupo de Pesquisa Formas e Poéticas do Contemporâneo – UFMA/ Bacabal, coordenado por mim e pelo professor Antonio Aílton (UEMA). Essa escolha se estende da última década do século passado até este momento, por isso, cabe compreendermos que estamos em território movediço, com as instabilidades do que ainda está acontecendo, um dos nossos grandes desafios.
Além de estabelecer escolhas de estudo, outra questão do meu interessa faz parte da prática docente, de fomentar leituras e apresentar escritores para os discentes do curso de Letras (Bacabal), uma lacuna pouco explorada. Aqui, cabe observar como os parâmetros da historiografia literária consolidada na primeira metade século XX, não são mais suficientes diante de um panorama temporal, bem mais democrática, mesmo com parâmetros de exclusão ainda existentes nos mais diversos níveis dentro da nossa cultura letrada.
Por fim, ressalto que é necessário e ampliar a experiência leitora dos discentes para além do cânone, de uma literatura disciplinarizada, colocando-os em contato com obras pouco conhecidas do grande público leitor. Com projetos a exemplo do Clarão, espécie de conversas ao vivo em plataformas virtuais, que se estendeu ao longo de 2022 até maio de 2023, tornou evidente o impacto sócio/cultural delas para a visibilidade de autores pouco conhecidos. Esses bate-papos proporcionaram um espaço muito especial, em que pudemos conhecer onze autores/autoras maranhenses (Laura Amélia, Paulo Rodrigues, Tânia Rêgo, Antônio Aílton, Luiza Cantanhêde, Sebastião Ribeiro, Celso Borges, Adriana Gama, Neurivan Sousa, Bioque Mesito), que generosamente compartilharam suas visões, inspirações e processos poéticos.
Estas lives resultaram no livro cartonero Clarão de muitos. Como explica o poeta Antonio Aílton: “(…) o Clarão foi além, porque tal “conexão” não se deu apenas no nível intelectual ou de reciprocidade, mas também no nível afetivo. E, em se tratando de lidar com as dimensões emotivas que a poesia nos traz, isso é previsivelmente inevitável”. Outro evento relevante foi o I Maranhão em cena, ocorrido em dezembro de 2024 e contou com quatro convidados: Lindevânia Martins, Luiza Catanhêde e Paulo Rodrigues.
Sendo a Universidade um lugar privilegiado para a construção do saber, o leitor dos cursos de Letras, para além dos manuais de historiografia literária, pode ter acesso a uma literatura que está “acontecendo”, pulsante, viva. Ambos os eventos, agora em 2025, na sua segunda edição, devem consolidar uma percepção da cena literária maranhense e seu fluxo dentro do espaço acadêmico.
- Paulo Rodrigues – Ricardo, lembro que durante uma conversa no Primeiro Maranhão em Cena que foi realizado na UFMA (Campus Bacabal), você afirmou: “quero apresentar a literatura e maravilhar os acadêmicos nos primeiros períodos”. A literatura tem a capacidade fascinar e motivar o ser humano?
Ricardo Nonato – A palavra exata foi “encantar”. Acredito fortemente no encantamento promovido pela leitura a partir de uma experiência singular do objeto literário e suas múltiplas relações com a vida. De fato, nos primeiros períodos do curso de Letras esse encantamento tem os contornos da descoberta. Ao apresentar para os discentes autores com circulação muito restrita, até desconhecidos à maioria dos leitores cumprimos um dos propósitos do projeto EXPERIÊNCIAS CRIATIVAS. O segundo, compreende oportunizar vivencias significativas para que os participantes possam adentrar no universo desconhecido de exploração da linguagem poética, a fim de que seja dada vazão às potencialidades artísticas e intelectuais dinamizadas pela leitura literária.

- Paulo Rodrigues – Qual a real importância da leitura do texto literário na formação acadêmica?
Ricardo Nonato – Antes de tudo, concordo com Antonio Candido: “A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante.”
E tenho a certeza de que “na leitura a obra de arte acontece” (Mangel), sendo a escola um lugar privilegiado para isso. Na escola este direito precisa ser potencializado, mas percebo que muitas vezes é negado na sua forma mais plena. Bastaria ao leitor abrir o livro, mas estamos nos perdendo, não só pela redução de espaço. Estou me referindo à escola. Nas Universidades, especificamente nos cursos de Letras, encontramos o outro lado da falta, a ausência de repertório de leituras literárias.
Literatura é paixão. Os alunos sentem o que pulsa. Todo apaixonado encontra um caminho criativo, um modo para transitar pelas inúmeras camadas do objeto literário e torná-lo irresistível como o canto das sereias. Não apenas nos cursos de Letras é preciso entender: “a leitura tem o poder de despertar em nós regiões que estavam até então adormecidas”, como explica Michèle Petit e, claro, bem mais do que isso, ao fazer girar “inúmeros saberes” (Barthes), parte da nossa complexa humanidade entra em cena e o mundo se torna infinito.
- Paulo Rodrigues – Quais as influências literárias que te formaram como poeta?
Ricardo Nonato – Confesso que fui um leitor tardio da “alta literatura”, a que na escola temos conhecimento (no meu caso não), os clássicos, brasileiros ou estrangeiros. Na universidade, descobri obras que hoje fazem parte do meu repertório, bem como de outras linguagens muito importantes para o meu processo criativo. Hoje compreendo melhor o meu percurso, marcado por muitas mudanças e vivências no campo das artes visuais, do desenho, da pintura, campos fundamentais e indissociáveis das minhas experiências literárias. Antes da poesia comecei, quase sistematicamente, pelas formas narrativas e pelo teatro. Autores como Tolstoi, Dostoiévski, Beckett, Kafka, Ibsen, István Örkény, Thomas Mann, Albert Camus, Machado de Assis, Lima Barreto, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Nelson Rodrigues, William Shakespeare, Dias Gomes, toda a tragédia grega – Ésquilo, Sófocles, Eurípedes, entre outros, Gil Vicente, e por aí vai. Depois veio a poesia, de forma avassaladora mudou a minha forma de sentir quem sou e o mundo, e continuam presentes: Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Fernando Pessoa, João Cabral de Melo Neto, Keats, Baudelaire, Eliot, Elizabeth Bishop, Maria Teresa Horta, Cecília Meireles, para citar alguns.
- Paulo Rodrigues – Poeta, qual a importância de autoras e autores negros na formação poética de Ricardo Nonato?
Ricardo Nonato – Entender o mundo e a história dos meus ancestrais ajudou a me situar no presente. De Luiz Gama, Lima Barreto, entre vários outros até os contemporâneos, Conceição Evaristo, Rita Santana, Ricardo Aleixo, Solano Trindade, Fred Caju, ressoam na minha identidade de homem negro, profundamente atordoado pelo passado e por acontecimentos do tempo presente. Hoje entendo a leitura como algo muito maior. Engloba a imagem, o som, e toda intervenção criativa mobilizada por múltiplos modos de expressão. Um poema pode começar por uma pintura, continuar como uma performance e terminar com palavras, sem hierarquias ou pudores. O que fica são as palavras atravessadas no meu olhar, como nos versos finais do inédito poema “Bom de preço”: Impossível ter tantas palavras na boca/ Disseram./ Ilusão achar que só existe/ Uma versão para a tristeza.
- Paulo Rodrigues – Ricardo Nonato, os seus textos são uma escrevivência, na prática. A Conceição Evaristo declarou certa vez: “A nossa escrevivência não é para adormecer os da casa grande e, sim, para acordá-los de seus sonos injustos”. É isso mesmo?
Ricardo Nonato – Sim. Penso a escrita com insubordinação, sentida a partir de escolhas criativas. O artista contemporâneo é um atravessamento de experiências coletivas, mas singulares, de um indivíduo em constante ebulição, uma busca por respostas inacabadas, incertas. E como disse Rilke: “Viva agora as dúvidas”. A experiência deste tipo de escrita é a prova, o desejo íntimo, um despertar para o mundo, no mundo… até mesmo um sonho do futuro.
- Paulo Rodrigues – Comente o livro Cântico de Quitéria – ainda em guerra.

Ricardo Nonato – É estranho falar sobre isso depois de tantos anos e não reconhecer mais as palavras como estão organizadas. Não publiquei muitos (pequena tiragem), mas tenho uma prática criativa que transborda em tudo que faço e isto tem cada vez mais me deixado feliz. Bem, Cântico de Quitéria é meu primeiro livro. Apesar de sua primeira edição ter sido publicada em 2015, ele já existia desde 2007, quando ficou pronto e eu estava cursando um Mestrado em Letras na Universidade Federal da Bahia. Este fato precisa ser lembrado pelo momento em que descobri Quitéria, uma personagem histórica, cujos fatos capturaram o meu interesse, sobretudo, pelo que a historiografia seria incapaz de contar. Portanto, fui motivado pelo silêncio que encontrei. Antes de tudo, um livro com voz lírica feminina, uma imersão nas muitas ausências constituídas a partir do meu confronto com poucos registros, entre eles uma biografia. Com este livro descobri que gosto de escrever estabelecendo projetos que delimito de forma nem sempre clara. Publiquei a primeira vez em 2015 por um selo cartonero, o Pé de Letras, do editor André Arribas quando morei no Recife. Foi uma aventura. Participei do processo, da montagem, capa impressa artesanalmente com serigrafia e fiz as gravuras internas, pinturas com nanquim que simulam xilogravuras, inclusive, todo leitor do livro, pensa isso. Depois, em 2017, pela Casa de Vento (meu selo de arte), fiz uma nova edição artesanal – “fina” -e uma das gravuras foi para a capa dura, um livro todo costurado à mão. Fiz 300 exemplares e acrescentei outros poemas para esta 2ª edição, atualmente esgotada. Com Cântico de Quitéria descobri o prazer de editar meus próprios livros e aceitar caminhos criativos adormecidos e outras formas de expressão artística. Depois publiquei outras aventuras: Beleza oculta (2016), Fomes temporais (2019) e com projetos para 2025.
- O leitor quer saber como funciona o processo criativo do poeta Ricardo Nonato.
Ricardo Nonato – Meu processo criativo é irregular. Não possuo rotina pré-determinada. Gostaria de ter, mas entre dispersões “propositais” e demandas da vida é difícil silenciar. Preciso parar para sentir melhor a palavra antes de escolher caminhos. Ao mesmo tempo, confesso que não consigo ignorar o impulso criativo, me sinto refém da sua força. De algum modo, mesmo com projetos inacabados, algo rompe o silencio e me sinto feliz por isso, até realizado. Demorei muito tempo para me aceitar como poeta. É difícil acolher as palavras e tornar-se íntimo delas, o que leva tempo. Hoje, entendo a poética como algo maior, não só o lugar das palavras, na minha vida, uma experiência artística transformadora. Quando penso uma imagem, a capturo, não pelo traço das palavras, mas das figuras e como constroem sentidos de liberdade. Sinto paz, mesmo que por alguns instantes. Assim, o desenho, matriz primeira do que pinto com nanquim, aquarela, tinta óleo ou tempera guache e nem me importo muito com o material ou o suporte, procuro sempre a satisfação dessa experiência libertadora. É como se ela acolhesse meus silêncios e sinto notas de felicidade. Escrevo quando posso ou tenho sustos de alumbramento em meio à brutalidade da vida. Minha poesia é motivada por questões que são obsessões acariciadas, sentidas, pesquisadas até, e das quais não consigo fugir nos pensamentos como uma “Rebentação”, do inédito Na beira do prato (2025)
Rebentação
Enfrentar o mar exige
Evitar arrependimentos
E se faltarem braços ou pernas
Algo maior
Moverá o corpo.
Nesse abismo de águas
Ninguém entende
O que se alcança,
Se fúria ou incerteza.
Para enfrentar o mar
Não se deve guardar energia
Voltar pode ser ficar no horizonte.
- Paulo Rodrigues – Ricardo Nonato, quais são os seus novos projetos literários?
Ricardo Nonato – Desde quando reconheci a escrita literária como uma parte importante na minha vida, mesmo que não escreva as palavras ficam fazendo rebelião na cabeça, hoje de forma menos conflituosa. Gosto de projetos, apesar de nos últimos anos ter abandonado alguns, muitos surgem com um poema inesperado. Em 2024 flertei com as artes visuais, aventurando pela pintura mista, expondo meus trabalhos nos espaços virtuais ou mesmo com obras presentes no espaço do Centro de Ciência da Universidade Federal do Maranhão, em Bacabal. Neste espaço quero ressaltar o recente painel localizado na entrada do prédio central, resultado da pesquisa e do trabalho criativo, mas, sobretudo, do desejo de fazer pulsar algo fundamental à minha existência, muitas vezes soterrada por outras demandas. Diria que foi uma forma de poesia sem palavras. Para 2025 devo publicar o Na beira do prato e Coração de Faca – e alguma erótica.
Painel sincrético visual, na entrada do campus UFMA – Bacabal, resultado do trabalho de Ricardo Nonato
- Paulo Rodrigues – Deixe uma mensagem para os nossos leitores.
Ricardo Nonato – Não tenham medo. Tudo lança o leitor para fora do texto. Desacelere os sentidos. Ler exige coragem. É preciso superar a aparência das coisas, só assim mundos se abrirão incontestavelmente como uma nova forma de sentir. Acredito que este seja um dos caminhos para instaurar outras possibilidades da nossa humanidade.

POEMAS
[Ricardo Nonato]
Cântico de Quitéria
Fugitiva,
Deixo todos.
Sou caçadora felina
Onça de garras de vidro
Serpente lendária.
Da cadeira assisto
Aos negros cabelos
Caindo como bagas
E olhos ardentes
Ansiosos pelo
corpo-a-corpo.
Amaldiçoado coração
O futuro é a batalha
A carabina apontando,
Estourando o inimigo.
Um respingo de sangue
E meu sorriso de pedra.
(Cântico de Quitéria, 2 ed., Casa de Vento, 2017)
Cotidiano
Hoje choveu
no céu de minha boca.
A saudade é um barco que não partiu,
E acenamos na esperança de voltarem os dias
Os minutos desperdiçados
Na espera do que já chegou,
Com a mesma expectativa do primeiro nascimento
Mas os nomes não são mais os mesmos
Os caminhos foram desmanchados
A vida tem mesmo suas surpresas
Com o que pressinto enquanto me trazes o café
quente.
(Cântico de Quitéria, 2 ed., Casa de Vento, 2017)
Despedida
Quando você partiu
As horas já haviam corrido
O Sol já havia deitado sobre meus olhos
O menino da casa ao lado já tinha filhos
Minha mãe disse adeus a minha avó.
Os pássaros em revoada caíram mortos
O rio bebeu a cidade inteira
Meus sonhos foram cantados pela cega
Da última casa da Rua da Ribeira…
Quando você me partiu eu já havia partido
Já havia envelhecido
Meus dedos já eram duros
E uma última chuva cresceu nos meus pés
Uma promessa infinita que o tempo comeu.
Você dizia te espero
Eu dizia voltarei
Mas a lua nunca mais ficou cheia
As estrelas deixaram de ter importância
Os sonhos foram desfeitos…
Quando você partiu deixou uma vela acesa no meu peito.
Lâminas cegas
I
Para Fábio Alexandrino ao som da noite faca
Reto é o riso
Sem risco
Sumiço
Faca de febre confusa.
Incompreendida dor
Sem norte
Sem rosto
Sabor e silêncio.
Amor de fogo
Abismo.
Transposto instinto
De faca.
II
Dividida esperança
Na garganta.
Noite de rodopio
Improvável
Aberto mundo
Das formas.
E fome acesa.
Depois o sono
Outra dose
Envenenando a razão
Tão necessário abandono.
Parte superior do formulário
Parte inferior do formulário
III
Hora de sangrar
A covardia cotidiana
De nosso desejo engarrafado
Fome maturada
E domesticado sonho.
O mundo e sua pressa
De lâmina arisca
Esquece dos pequenos gestos
De ternura.
Epifania
Para o amigo e poeta Antonio Aílton
A estrela da vida inteira ilumina só parte do caminho
E a cada esquina transborda algo dos dias
Além do tédio de quem espera o retorno.
A poltrona do ônibus tem o cheiro
De viagens que não fiz.
Enquanto abro um livro escorre já perto
O líquido viscoso de um pensamento abortado.
Alguém escuta Pablo num rádio de pilha
Mas o pedido de perdão é silenciado
Amor Amor Amor, pode o abandono ter outro nome?
Uma estrada quente feito pensamento apressado
Um motorista de aluguel com contas para pagar.
Dele estou separado apenas por uma porta
Também pelos anos.
Ele poderia ser um filho perdido.
É fim de ano
Do esperado bolo sem velas.
E no fechar dos olhos
Já escolhi a melhor fatia.
Na bagagem tenho alguns livros
E quatro presentes mal embrulhados.
Este é o enredo que me prende
O mundo é maior para quem viaja.
E agora vejo
As bailarinas da infância
Diante do infante
Esperando o primeiro passo
Na última parada.
A Estrela da vida inteira pode ser
O que esqueci de visitar.
This is brazil
“Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado.”
(Aldous Huxley)
nessa mesa de bar
passa um rio
e o fim do mundo
está nas mãos do próximo cliente.
nessa mesa de bar
pesa um rio
balança desigual para a carne preta
águas são remadas
na profundidade do gole ardente.
se um revolve
já está engatilhado
meu troco
pesa nessa mesa de bar.
preto vacilão esquece o que te afronta
escuta as vozes
os conselhos de Exu
cheios de esperança na passagem
nessa mesa de bar infringe
a proibição,
ao seu lado
cadeiras vazias
testemunham a madrugada
e suas dúvidas.
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Paulo Rodrigues, entrevistador, é poeta brasileiro, jornalista, autor de Cordilheira (2025), seu sexto livro de poemas.
O poeta Ricardo Nonato sabe os caminhos da boa poesia. É também um parceiro querido, que valoriza a literatura contemporânea do Maranhão.
Paulo é um dos grandes parceiros que encontrei no Maranhão. Autor de uma obra poética singular.