Sacada Literária

Cultura, crítica e divulgação

Fonte: playground.comcreate

PREPARAÇÃO – um poema de Antonio Aílton no comentário de César Borralho

O poema PREPARAÇÃO, de Antonio Aílton é uma obra que trata da preparação para os dias de Finados e da (re-finada) República, com um enfoque no ritual de limpeza e cuidados com os espaços públicos e cemitérios. Através de uma linguagem simples e cotidiana, o autor aborda temas profundos e reflexivos sobre a vida, a morte e a memória.

A estrutura do poema é livre, sem rimas ou métricas rígidas, o que confere um tom de conversa ao texto. A linguagem utilizada é acessível e direta, refletindo as ações descritas, como a limpeza das canaletas e dos meios-fios, e o branqueamento das tumbas. Essa escolha linguística aproxima o leitor da realidade descrita, criando uma conexão imediata com o cotidiano das ações narradas.

O poema aborda a temática da morte e da preparação para os dias de lembrança dos mortos, com uma abordagem que mescla o sagrado e o profano. A limpeza das canaletas e dos cemitérios simboliza não apenas a purificação física, mas também uma preparação espiritual, um ato de respeito e memória aos que já se foram.

A menção às datas, como 02 de novembro (Dia de Finados) e 15 de novembro (Dia da República), serve para situar o leitor no contexto cultural e histórico, destacando a importância desses momentos na cultura brasileira. A antecipação do dia da república para outubro pode ser interpretada como uma metáfora para as eleições que ocorrem em todo o país. Essa mudança temporal sugere a importância e a urgência do ato cívico, destacando a preparação e o engajamento necessários antes de um evento de tamanha relevância. Assim como a limpeza e o cuidado com os espaços públicos para honrar os mortos, as eleições demandam uma preparação cuidadosa e uma participação ativa da população, simbolizando um renascimento e uma renovação da república através do voto, que não escapa à questão de Finados.

Antonio Aílton utiliza uma narrativa descritiva e reflexiva, onde o ato de limpar e preparar os espaços para os mortos adquire um significado maior, quase ritualístico. O poema sugere que esses atos são uma forma de ressurreição simbólica, onde “é como se ressuscitássemos para colocar brilho nos olhos antes de nos casarmos com a morte”.

A crítica pode focar na forma como o autor lida com o tema da morte, não de uma maneira sombria, mas sim com uma aceitação serena e uma preparação cuidadosa. A limpeza e o cuidado com os espaços públicos refletem um respeito pela memória e pela história, sugerindo que a preparação para a morte é também uma preparação para a vida.

Antonio Aílton consegue capturar a essência dos rituais de preparação, transformando ações cotidianas em metáforas poderosas para a ressurreição simbólica e a celebração da memória.

Esta obra convida o leitor a refletir sobre a importância de manter viva a memória dos que já se foram e a preparar-se, tanto física quanto espiritualmente, para o inevitável encontro com a morte, que se revela como uma homenagem sincera e comovente aos rituais de preparação e lembrança.

 

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Sobre Antonio Aílton:

https://dinodealcantarablog.files.wordpress.com/2021/10/quatro-poemas-de-antonio-ailton.pdf

https://www.poesiaprimata.com/antonio-ailton/antonio-ailton-cerzir-2019/#more-33397

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´César Borralho, poeta e filósofo