por Paulo Rodrigues*
“Em cismar, sozinho, à noite
mais prazer encontro eu lá;
minha terra tem palmeiras,
onde canta o Sabiá”.
[Gonçalves Dias]
Estive na VII Feira de Literatura, Cultura e Turismo da Região dos Cocais, em Caxias. Recebi das mãos do poeta Wybson Carvalho sua Antologia Poética que foi lançada pela EDUFMA. São 240 páginas de uma poesia viva, pulsante, capaz de comover o leitor durante todo o percurso.
O poeta, em cada poema, vem nos mostrar sua linguagem madura. São metáforas fortíssimas combinadas com imagens surpreendentes. Devo confessar que fiquei, inclusive, muito tocado pela forma como Wybson trabalha a questão do tempo na sua poética.
No entanto, vou abordar nesta análise da obra de um dos maiores expoentes da literatura caxiense, o pathos, a veneração por sua terra, o prazer por pertencer ao mesmo torrão de Gonçalves Dias, nosso maior poeta romântico. Podemos verificar no poema Canção do Exílio a conversa intertextual que predomina na geografia lírica do autor de Neófitos da Terra:
em minha terra havia palmeiras e o canto dos sabiás.
nela, exalava o perfume dos jardins urbanos.
dela, ouvia-se a linguagem singela do cotidiano.
com a minha cidade crescia a romântica dos poetas…
a inimizade humana passava por sobre ela
em eólica turbulência rumo às outras plagas,
para derramar-se noutros cenários de ganância existencial.
à minha terra, na infância, ouvia-se sinfonias sabinas
nas manhãs iniciais de um futuro já desenhado ao abandono.
e, agora, quais árvores darão abrigo a outros pássaros canoros.
para entoar um canto de saudade?
Esse poema é um dos mais conhecidos do poeta. Com um ritmo que aumenta a saudade e um vocabulário expressivo constrói um roteiro sentimental de Caxias. Wybson Carvalho vai tecendo suas impressões sobre a cidade (com um tom de humor impressionante).
Na última estrofe, o eu lírico faz interrogações sobre o futuro literário da terra do autor de Os Timbiras: “e, agora, quais árvores darão abrigo a outros pássaros canoros”. A intertextualidade costura a coesão textual ao longo da crestomatia estudada. Há um tom de conversa no pé do balcão com muitos autores da nossa literatura.
Outro poema, na sequência, dá ênfase ao amor pela Princesa do Sertão:
quem amou, verdadeiramente, te chamou de princesa
e quando quiseram arrancar de ti o sumo nobre…
não aceitou beber o cálice com teu sangue.
quem ama, fielmente, te chama de lírica poesia
e quando querem declamar de ti o poema nativo…
atenta para ouvir os versos brancos do teu véu.
quem nunca amará, em verdade,
te trairá sob cunho promíscuo…
e quando quiserem usufruir de ti
a beleza em ônus mercenário…
ofertará a plebe teu reino
e te deixará órfã de viva natureza…
O poema está dividido em três estrofes que conectam passado, presente e futuro como ramos que brotam do chão de Caxias. O poeta louva a cidade, louva a produção da palavra e cobra compromisso de todos: “quem nunca amará, em verdade, te trairá sob cunho promíscuo”.
Cachos de Flores é um poema que convida os leitores para olhar a história, a cultura, a construção simbólica dos bardos de nossa querida cidade.
Ele é apaixonado por sua gente. Tanto é assim que Salgado Maranhão comentou: “no correr das últimas quatro décadas, nenhum outro poeta teve a virtuosa obstinação de cantar sua cidade (Caxias-MA) com tanto esmero e, por vezes, dissabor quanto Wybson Carvalho”.
Wybson é, de fato, um poeta que canta e encanta Caxias!
*
*PAULO RODRIGUES – Professor de literatura, poeta, escritor e autor de O Abrigo de Orfeu (Editora Penalux, 2017); Escombros de Ninguém (Editora Penalux, 2018). Ganhou o prêmio Álvares de Azevedo da UBE/RJ em 2019, com o livro Uma Interpretação para São Gregório. É membro da Academia Caxiense de Letras.
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