Sacada Literária

Cultura, crítica e divulgação

Poeta Geane Lima Fiddan - Foto divulgação/editada

GEANE LIMA FIDDAN – a poesia em transe/trânsito

AQUI MAIS PRÓXIMO DA LINHA DO EQUADOR

 

 

Quando o espaço que se ocupa parece soturno

ausências de delicadezas

é hora de um novo voo.

Nas horas em que quase tudo

que passeia pela mente

é uma sensação desnorteante 

ainda resta um pensamento

capaz de inspirar 

as temperaturas das refulgências.

Há sempre uma saída!

 

 

 

 

 

APESAR DE TUDO QUE AINDA ASSOLA 

 

 

Na flor do Delta cascatas são enaltecidas

enquanto rios desembocam na intimidade de outros.

Ali eu era apenas uma gotícula com lembranças da mãe Gaia 

e enfrentando as turbulências, perpassando as penínsulas

e as rampas do planeta. Eu não quero saber de barro seco,

amarras de vendedores de balas.

A guerra não quer conversa comigo e eu em tempos atômicos 

quero é aprender com as argilas doces.

 

 

 

 

 

ANDANÇAS

 

 

Nos caminhos da relativa idade

ficaram estampadas tantas estradas

agora percebendo

que a vida tem várias facetas

ciclos imprevisíveis

não desejamos ser os centros das cidades.

É preciso seguir mais radiante.

Indagas-me a tua mente 

no sopro das jornadas?

Não sei de percursos invisíveis

de tuas passadas

sequer sei o que passa nesses olhos 

mas sei que sinto amor pelo que é preciso.

 

 

 

 

 

A BARCA

 

 

Escutas

a voz dos rios

as palavras sentidas

lavras do pulso sacrificado.

 

Marinha, 1945, de José Pancetti – Fonte: https://www.leilaodearte.com

Quando contemplo o sagrado

imagino que escutas a serena

a serena alma que passa

pelas ruas sem delicadezas.

 

Escuto

o teu imanente múrmurio

quando giro o sol do sono.

Perco horas,  nomes

e planos

no entanto

não sei mais velejar

sem o som

dos símbolos que se aproximam

 

 

 

 

 

 

AO MAR

 

 

Escuta

Não adianta guardar

essa brasa que magoa o corpo por dentro.

Muitas agitações são maremotos.

Internalizados 

hospedam o perigo.

Desvia-te dos ferrolhos pelos rios

E quanto às cinzas desses signos?

deixe as correntezas levarem.

Não adianta guardar pedras no peito

em silêncios que despertam incêndios 

ou em gritos que não lavam a alma

 

 

 

*

 

 

 

 

Geane Lima Fiddan, poeta, professora, nascida no Maranhão, participante do cenário literário e cultural de São Luís – MA, entre as décadas de 1990 e 2010. Hoje vive em Recife – PE. Nos anos 2000 organizou os famosos recitais do Grupo Poiesis, juntamente com o poeta Bioque Mesito e o Grupo Curare, do qual o mais memorável foi realizado no Teatro João do Vale (links abaixo). Licenciada em Letras, especialista em Linguística e Literatura Brasileira. Mestre em Língua, Literatura e Cultura pela Universidade Nova de Lisboa. É autora dos livros Argos da Matéria, O Norte e Os Guardiães-Mirins, além de inéditos.