Sacada Literária

Cultura, crítica e divulgação

PEDRO NETO, poesia

O SANGUE DA ROSA

O MAIS NOVO LIVRO DO ESCRITOR/POETA

PEDRO NETO

[*LIVRO EM PRÉ-VENDA]

 

por Rogério Rocha*

 

O presente livro é o mais novo trabalho de um dos talentos da nova safra de escritores do Maranhão. Trata-se do professor, poeta, cronista e contista Pedro Neto, que além de vencedor dos Prêmios AMEI de Literatura 2020/2021 e autor de mais de uma dezena de obras, tem-nos dado provas inequívocas de suas qualidades literárias. Com este “O sangue da Rosa: suplício nos porões da ditadura” não é diferente.

Nele, o lado poeta do escritor manifesta-se para, então, explorar um tema que ainda causa polêmica, acirra debates e revela as divergências interpretativas em torno dele. Estou a falar dos “anos de chumbo”, período compreendido entre 1964 e 1985, em que nosso país foi comandado por generais das forças armadas e pelas lideranças autoritárias que ditavam as regras da vida nacional.

Estamos diante de um livro de poemas sobre a mais recente ditadura brasileira. Uma dentre as tantas pelas quais já passamos, com consequências bem conhecidas, e que povoam tanto o imaginário da nossa sociedade quanto as páginas da história do nosso país.

Apesar disso, poderia ser sobre qualquer uma delas. Afinal, há e houve tantas ditaduras no mundo, e em tantos momentos da vida social, que não seria impensável afirmar que este livro possa simbolizar, de alguma forma, a essência do uso violento do poder do Estado contra o ser humano, em uma de suas facetas mais repugnantes.

Neste “O sangue da Rosa”, Pedro Neto optou por trabalhar com versos curtos, diretos e cortantes, variando entre duas, três (na maioria das vezes) ou quatro sílabas poéticas, atadas ao ritmo marcado e à forte musicalidade. A principal razão para essa escolha, a opção pela urgência dos versos, a necessidade de dizer, pela vontade de resistir, vem da Rosa que fala com muita dificuldade, por meio de uma voz que sofre, arfa, sussurra. Que é a voz de quem tem medo, de quem perde o ar, as forças, a alegria de viver, sufocada que está pela agonia do desespero.

A perspectiva da “voz-guia”, como prefiro chamá-la, é a de alguém que flerta com o ideário socialista, estando na dupla condição de alvo e vítima das perseguições do regime que, ao tempo, propunha o combate à ameaça ideológica do comunismo de inspiração soviética.

Tendo violadas a dignidade física e psicológica, Rosa valoriza cada suspiro, cada palavra transformada em sussurro, tudo aquilo que lhe atravessa o âmago do pensamento ou do som que jaz à boca. Apega-se, com isso, muito mais às memórias, à força dos planos sonhados, à necessidade de lutar para não sucumbir.

Eis aqui, portanto, um livro composto como um todo ordenado, coeso e coerente, no qual o autor intercalou poemas como que num texto único, ao modo de um ‘Poema Sujo’, tornando-o, contudo, um poema monumental, dividido em 22 partes.

Aliás, cada um dos poemas integra uma espécie de via-crúcis simbólica, composta por estações que vão sendo evidenciadas no trajeto de uma história de dor e sofrimento nos porões da ditadura brasileira. Nelas (as estações), a figura-vítima do eu lírico integrado à persona de Rosa, uma jovem mulher capturada pelas mãos duras do poder estatal, é levada a confessar ações supostamente perigosas à ordem estabelecida, e que põem em risco o equilíbrio da sociedade, subvertendo o espírito das leis e as razões de ordem política dominantes.

“O Sangue da Rosa” é feito de poesia com alta carga dramática, onde as passagens confluem para criar um todo maior. Dessa forma, ao leitor e à leitora ficará a impressão de se estar diante de um único e extenso poema, entrelaçado por uma unidade temática que assegura a integridade dos seus escritos.

Para isso, a tortura de Rosa vai sendo mostrada pouco a pouco, ponto a ponto, do primeiro ao último verso, como o sofrimento de uma mulher, cidadã brasileira, que mergulha lentamente na desesperança de um destino.

Por fim, é importante que eu diga que os versos de Pedro Neto trazem uma forte crítica social, extraindo do sofrimento aquilo que nos afeta, para o bem e para o mal. E que as imagens que vivem nos versos desse livro são fortes, impactantes, avassaladoras. Todas carregadas de um simbolismo que nos permite entrever as múltiplas faces do absurdo que avilta a condição humana ao retirá-la de seu eixo de gravidade.

 

 

 

*Rogério Henrique Castro Rocha

Filósofo e escritor

**Este texto é também o prefácio do livro, cedido por Pedro Neto para publicação neste portal.