Sacada Literária

Cultura, crítica e divulgação

PALOMITAS, cine cult – indicações de filmes [sessão 30.03.2024]

5 FILMES  — do poder transformador da arte às experiências viscerais 

 

por Bioque Mesito

 

Esta mostra possui como contraponto 20 Dias em Mariupol, um registro histórico crucial que documenta a atrocidade da invasão russa e o heroísmo dos ucranianos que resistiram à brutalidade. É um testemunho visceral da resiliência humana em face da guerra e um lembrete pungente do custo humano da violência. Cinema Paradiso é uma jornada nostálgica e emocionante pelo poder transformador do cinema e dos laços humanos. No centro dessa história está Toto, interpretado de forma brilhante por Salvatore Cascio na infância e Jacques Perrin na fase adulta. Central do Brasil é uma história sobre amor, redenção e a jornada da vida, contada de forma honesta e tocante. Uma obra-prima do cinema brasileiro que merece ser celebrada e revisitada muitas e muitas vezes. Jesus de Montreal é uma obra singular, que combina uma trama cativante, performances excepcionais e uma reflexão profunda sobre questões existenciais. Deus da Carnificina é uma experiência visceral que desafia as expectativas e deixa uma marca duradoura na mente do espectador. É um filme que nos faz questionar o que realmente significa ser civilizado e até onde estamos dispostos a ir para manter as aparências.

 

 

 

 

 

JESUS DE MONTREAL

Título original: Jésus de Montréal

Direção: Dernys Arcand

Gênero: Drama

País/Ano: Canadá/França, 1990

 

 

Messianismo ousado  

 

Jesus de Montreal mistura de forma peculiar irreverência, crítica social e reflexão espiritual. Dirigido por Denys Arcand, o filme nos transporta para o cenário vibrante de Montreal, onde um grupo de atores é reunido para encenar a Paixão de Cristo. Mas não espere encontrar uma simples reprodução dos eventos bíblicos. A trama toma um rumo inesperado quando a interpretação do grupo sobre a vida de Jesus se torna ousada e pouco convencional.

No centro desse destempero artístico está Daniel, interpretado com propriedade por Lothaire Bluteau, que assume o papel de Jesus. Sua performance carrega uma aura magnética e questionadora, desafiando as convenções e expondo as hipocrisias da sociedade contemporânea. A química entre os membros do elenco é palpável, com Catherine Wilkening, Johanne-Marie Tremblay, Rémy Girard e outros entregando performances igualmente marcantes.

O filme nos apresenta personagens e suas jornadas, também nos convida a refletir sobre questões profundas como fé, poder e liberdade artística. A abordagem ousada da história atraiu elogios da crítica e do público, conquistando diversos prêmios importantes, incluindo o Prêmio do Júri no Festival de Cannes e o Genie Award de Melhor Filme Canadense.

Uma das características mais marcantes de Jesus de Montreal é sua capacidade de mesclar humor e drama de forma orgânica, criando momentos de leveza e profundidade em igual medida. A direção de Arcand é habilidosa ao explorar as nuances dos personagens e suas interações, enquanto a cinematografia envolvente nos transporta para as ruas de Montreal e os bastidores da produção teatral.

O filme aborda de maneira inteligente e provocativa o embate entre arte e instituição religiosa, colocando em xeque os dogmas estabelecidos e desafiando o espectador a questionar suas próprias crenças. É uma obra que se mantém relevante mesmo décadas após seu lançamento, sua mensagem universal ressoando através do tempo.

Jesus de Montreal é uma obra singular, que combina uma trama cativante, performances excepcionais e uma reflexão profunda sobre questões existenciais. Um filme que não apenas entretém, mas também provoca e inspira, deixando uma marca indelével naqueles que têm o privilégio de assisti-lo.

 

 

 

 

 

 

 

CINEMA PARADISO

Título original: Nuovo Cinema Paradiso

Direção: Giuseppe Tornatore

Gênero: Drama

País/Ano: França/Itália, 1988

 

 

Um dos melhores filmes de todos os tempos

 

Cinema Paradiso é uma jornada nostálgica e emocionante pelo poder transformador do cinema e dos laços humanos. No centro dessa história está Toto, interpretado de forma brilhante por Salvatore Cascio na infância e Jacques Perrin na fase adulta. Toto é um jovem fascinado pelo cinema, cujo destino se entrelaça com o do bondoso projecionista Alfredo, magistralmente interpretado por Philippe Noiret. A relação entre Toto e Alfredo é o coração pulsante do filme, retratando uma amizade genuína que atravessa décadas e circunstâncias.

A narrativa habilmente tecida pelo diretor Giuseppe Tornatore nos leva por uma montanha-russa de emoções, desde o encantamento inocente da infância até as reflexões melancólicas da vida adulta. O filme é uma carta de amor ao cinema, evocando uma era dourada em que as salas escuras eram templos de magia e comunhão.

 

Além da amizade central entre Toto e Alfredo, Cinema Paradiso aborda temas universais como amor, perda, amadurecimento e o poder da nostalgia. A trilha sonora envolvente de Ennio Morricone e a icônica cena final, embalada pela emocionante Tema de Amor, são momentos que ficam gravados na memória do espectador.

O filme foi merecidamente reconhecido com uma série de prêmios, incluindo o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1990, bem como o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes. Esses prêmios atestam não apenas a qualidade técnica da produção, mas também seu impacto emocional e cultural duradouro.

Cinema Paradiso é uma obra-prima que transcende fronteiras e gerações, tocando os corações de cinéfilos e não cinéfilos de carteirinha. Sua narrativa delicada e sua mensagem poderosa sobre a importância do cinema como um agente de conexão humana fazem deste filme uma experiência imperdível para qualquer pessoa que valorize a arte, a amizade e as lembranças que nos moldam.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

20 DIAS EM MARIUPOL

Título original: 20 days in Mariupol

Direção: Mstyslav Chernov

Gênero: Ducomentário

País/Ano: Ucrânia, 2023

 

 

 

Os dias sombrios 

 

20 Dias em Mariupol é um documentário ucraniano dirigido por Mstyslav Chernov que acompanha uma equipe de jornalistas ucranianos que acabam ficando encurralados na cidade de Mariupol, enquanto lutam para continuar cobrindo a invasão russa do território. Sendo um dos únicos repórteres internacionais presentes no local, o grupo foi capaz de capturar imagens da destruição causada pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

O documentário se baseia nos informes jornalísticos diários, além do arquivo pessoal produzido pelo diretor que escreveu sobre seu próprio país em guerra. Mstyslav Chernov possui experiência na área e já cobriu conflitos no Iraque, Afeganistão e em Kiev, capital da Ucrânia.

20 Dias em Mariupol oferece uma visão visceral e inabalável da guerra, através dos olhos de Chernov e seus colegas, Evgeniy Maloletka e Vasilisa Stepanenko. Eles são os únicos repórteres internacionais a permanecer na cidade durante o cerco brutal, documentando a devastação e o sofrimento humano em primeira mão. O documentário foi aclamado pela crítica e recebeu diversos prêmios, incluindo o Prêmio do Público no Festival de Cinema de Sundance de 2023.

Através de imagens cruas e impactantes, o filme expõe a realidade brutal da guerra, ataques implacáveis, bombardeios indiscriminados, edifícios reduzidos a escombros, famílias dilaceradas e a perda incalculável de vidas. O documentário se baseia em duas fontes principais: os informes jornalísticos diários da equipe da AP e o arquivo pessoal de Chernov, que inclui fotos, vídeos e anotações que ele fez durante o tempo em que esteve em Mariupol.

Chernov é um jornalista experiente que já cobriu conflitos em diversos países, como Iraque, Afeganistão e Kiev, capital da Ucrânia. Essa experiência o preparou para a dura realidade que encontrou em Mariupol, mas nada poderia tê-lo preparado completamente para a brutalidade da guerra que testemunhou.

20 Dias em Mariupol é um registro histórico crucial que documenta a atrocidade da invasão russa e o heroísmo dos ucranianos que resistiram à brutalidade. É um testemunho visceral da resiliência humana em face da guerra e um lembrete pungente do custo humano da violência.

 

 

 

 

 

 

 

 

CENTRAL DO BRASIL

Título original: Central do Brasil

Direção: Walter Salles

Gênero: Drama

País/Ano: Brasil/França, 1998

 

 

 

Uma película para sempre

 

Central do Brasil é um daqueles filmes que te pega pelo coração e não te solta até o último crédito. Dirigido por Walter Salles, a película narra a emocionante jornada de Dora, uma ex-professora vivida por Fernanda Montenegro, que trabalha escrevendo cartas para analfabetos na estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Sua vida muda drasticamente quando Josué, interpretado pelo talentoso Vinícius de Oliveira, entra em sua vida após a morte trágica de sua mãe.

A química entre Montenegro e Oliveira é palpável e comovente. A jornada dos dois personagens, enquanto eles embarcam em uma viagem rumo ao interior do Nordeste em busca do pai de Josué, é repleta de emoção e descobertas. Montenegro brilha como a cética Dora, cujo coração gradualmente se abre para a vulnerabilidade e a esperança representadas por Josué.

A direção de Salles é habilidosa em capturar a beleza e a dureza das paisagens brasileiras, enquanto também mergulha nas nuances emocionais dos personagens. A trilha sonora de Antonio Pinto e Jaques Morelenbaum adiciona uma camada adicional de emoção à narrativa, complementando perfeitamente cada momento do filme.

Central do Brasil recebeu aclamação universal da crítica e do público, e não é difícil entender o porquê. O filme foi indicado a vários prêmios importantes, sendo o vencedor do Urso de Ouro no 48º Festival de Cinema de Berlim, e concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1999, e Fernanda Montenegro foi indicada ao prêmio de Melhor Atriz, uma indicação mais do que merecida por sua atuação poderosa.

As performances brilhantes de Montenegro e Oliveira são incríveis, mas o filme também conta com a participação memorável de Marília Pêra e outros talentosos atores brasileiros. Sua capacidade de tocar o público transcendeu as fronteiras do Brasil, conquistando o reconhecimento internacional e solidificando seu lugar como uma obra-prima do cinema mundial.

Central do Brasil é um filme que fica gravado na memória do espectador muito tempo depois que os créditos finais rolam. É uma história sobre amor, redenção e a jornada da vida, contada de forma honesta e tocante. Uma obra-prima do cinema brasileiro que merece ser celebrada e revisitada muitas e muitas vezes.

 

 

 

 

 

 

 

DEUS DA CARNIFICINA

Título original: Carnage

Direção: Roman Polanski

Gênero: Drama

País/Ano: Reino Unido/Irlanda do Norte, 2011

 

 

Moderados nem tanto

 

Deus da Carnificina é uma montanha-russa emocional que nos leva a um passeio pela selva urbana da civilidade em colapso. Sob a direção astuta de Roman Polanski, somos apresentados a dois casais de classe média, interpretados brilhantemente por um elenco estelar. Kate Winslet e Christoph Waltz encarnam o casal Cowan, enquanto Jodie Foster e John C. Reilly dão vida aos Longstreet.

A premissa é simples, uma discussão de playground entre seus filhos acaba por arrastar os pais para uma arena de confronto, onde as máscaras da civilidade caem rapidamente, revelando os instintos mais primitivos e os ressentimentos latentes. O filme mergulha profundamente na natureza humana, expondo as hipocrisias sociais e os limites frágeis da etiqueta.

Polanski mantém a ação dentro das paredes de um apartamento, transformando o espaço confinado em um microcosmo de tensão crescente. Os diálogos afiados e os embates verbais são como golpes de boxe, enquanto os personagens se envolvem em uma dança perigosa de diplomacia e destruição.

O elenco entrega performances excepcionais, navegando habilmente pelas camadas complexas de seus personagens. Winslet e Waltz trazem uma dose extra de cinismo e frieza, enquanto Foster e Reilly revelam vulnerabilidades ocultas por trás de fachadas de bondade.

Deus da Carnificina é um estudo fascinante sobre as nuances da interação humana, destacando as tensões sociais e os conflitos pessoais que muitas vezes são enterrados sob a superfície polida da civilidade. O filme recebeu aclamação da crítica e vários prêmios, incluindo indicações ao Globo de Ouro e ao BAFTA.

Com sua mistura única de comédia ácida e drama psicológico, Deus da Carnificina é uma experiência visceral que desafia as expectativas e deixa uma marca duradoura na mente do espectador. É um filme que nos faz questionar o que realmente significa ser civilizado e até onde estamos dispostos a ir para manter as aparências.

 

 

 

 

 

 

Bioque Mesito – foto: divulgação