Sacada Literária

Cultura, crítica e divulgação

PALOMITAS, cine cult – indicações de filmes [sessão 23.03.2024]

Filmes perturbadores, polêmicos e envolventes

 

por Bioque Mesito

 

 

IRREVERSÍVEL

Título original: Irréversible

Direção: Gaspar Noé

Gênero: Drama/Suspense

País/Ano: França, 2002

 

Nauseamente impactante

 

Em Irreversível, o diretor Gaspar Noé nos leva por uma jornada perturbadora e visceral, contando a história de vingança de forma não linear. A trama se desenrola de trás para frente, revelando a busca desesperada de Marcus (Vincent Cassel) e Pierre (Albert Dupontel) pelo agressor de Alex (Monica Bellucci), sua namorada. A narrativa meticulosamente construída nos leva desde o ato violento (estupro) até os eventos que o precederam, criando uma atmosfera angustiante e provocativa.

O filme se destaca pela sua abordagem narrativa única, começando do final e retrocedendo no tempo, sem confundir o espectador com cenas fora de ordem. A câmera em constante movimento, a cena impactante do estupro e a simulação de plano sequência são elementos que contribuem para a intensidade e realismo da obra. As atuações brilhantes do elenco principal elevam a experiência cinematográfica, tornando cada momento ainda mais visceral.

Irreversível não é um filme para todos os gostos, mas é inegavelmente uma experiência cinematográfica que desafia e provoca. As imagens perturbadoras do submundo parisiense, a violência crua dos acontecimentos e o áudio abafado criam uma atmosfera nauseante desde o início. O choque provocado pela narrativa de Noé é o que torna este filme uma obra-prima do cinema contemporâneo, desafiando o espectador a encarar a verdade nua e crua.

O filme recebeu reconhecimento da crítica e do público, conquistando prêmios em festivais renomados pela sua ousadia e impacto visual. A direção cenográfica impecável e a escolha por cenas sem cortes contribuem para a autenticidade das imagens, criando um ambiente quase documental em sua crueldade.

Irreversível é um filme que desafia convenções e mexe com as emoções do espectador de maneira profunda. Sua narrativa inovadora, atuações marcantes e abordagem visual arrojada fazem dele uma experiência cinematográfica intensa e memorável, capaz de deixar uma marca indelével naqueles que se aventuram a assisti-lo.

 

 

 

 

 

 

O PIANO

Título original: The piano

Direção: Jane Campion

Gênero: Drama/Romance

País/Ano: Austrália/França/Nova Zelândia, 1993

 

Uma relação silenciosa

 O Piano é um mergulho profundo em um universo de emoções conflitantes, ambientado na Nova Zelândia da época vitoriana, onde Ada McGrath (Holly Hunter), uma mulher que escolheu o silêncio como sua linguagem, enfrenta as complexidades de um casamento arranjado. A trama se desdobra em torno das negociações obscuras em torno de seu amado piano, que se transforma em um símbolo poderoso de sua voz e sua independência.

A atuação de Holly Hunter como Ada é magnífica, capturando não apenas a obstinação e a teimosia da personagem, mas também sua vulnerabilidade e desejo por liberdade. A dinâmica entre Ada e George Baines (Harvey Keitel), o homem que se torna seu cúmplice em um jogo perigoso de desejo e poder, é intensamente carregada de erotismo e mistério.

Além das performances memoráveis, O Piano é uma obra visualmente deslumbrante, com imagens que capturam a beleza selvagem e implacável da paisagem neozelandesa. A trilha sonora, que utiliza o próprio piano como um elemento narrativo poderoso, contribui para a atmosfera envolvente do filme.

Jane Campion, com sua direção habilidosa, mergulha nas profundezas da psique feminina, explorando temas de submissão e rebelião, desejo e repressão. Através de imagens sugestivas e movimentos de câmera que parecem penetrar na alma dos personagens, o filme revela camadas de significado e emoção que permanecem conosco muito depois que as luzes se apagam.

O filme mergulha nas águas turvas do amor e da traição, tecendo uma teia complexa de relacionamentos entrelaçados. A traição se desenrola não apenas entre amantes clandestinos, mas também dentro das próprias paredes do casamento, e das expectativas sociais e das obrigações familiares colidem com os desejos mais profundos do coração humano. É nesse turbilhão de emoções conflitantes que o amor e a traição se entrelaçam de forma irresistível, desafiando convenções e revelando as complexidades da alma humana.

O Piano ultrapassa a questão de ser mais uma história de amor e traição, mas uma exploração fascinante da condição humana, embalada em uma aura de mistério e sensualidade. Não é de admirar que tenha sido amplamente aclamado pela crítica e premiado em festivais de cinema ao redor do mundo.

 

 

 

 

 

A NOITE DO DIA 12

Título original: La Nuit du 12

Direção: Dominik Moll

Gênero: Drama/Suspense/Policial

País/Ano: França, 2022

 

A realidade transitória em um mote de suspense 

 

 O filme A Noite do Dia 12 é uma obra cinematográfica francesa que mergulha o espectador em um enredo de suspense e investigação policial envolvente. A trama gira em torno de Yohan Vivès, interpretado por Bastien Bouillon, um investigador da polícia atormentado por um caso de assassinato que desafia sua carreira. O filme se destaca pela intensidade com que Yohan se vê envolvido na resolução do brutal assassinato da jovem Clara Royer, papel desempenhado por Lula Cotton-Frapier, uma personagem aparentemente querida por todos.

Este filme cativa o público ao acompanhar a jornada de Yohan em uma busca incessante por pistas e segredos obscuros que o levem ao responsável pelo crime. A narrativa habilmente construída leva os espectadores a se sentirem imersos na investigação, compartilhando a obsessão do protagonista em desvendar a verdade por trás do assassinato.

O filme estreou com grande sucesso no Festival de Cannes de 2022, e conquistou 6 prêmios no César em 2023, incluindo os prestigiosos prêmios de Melhor Filme e Melhor Diretor. Esses reconhecimentos evidenciam a qualidade e impacto da produção, destacando-a como uma obra-prima do cinema francês contemporâneo.

Além disso, a atuação brilhante de Bastien Bouillon como Yohan Vivès e Lula Cotton-Frapier como Clara Royer contribui significativamente para a profundidade emocional do filme. A maneira como os personagens são desenvolvidos e as nuances sutis de suas interações enriquecem a trama, tornando-a ainda mais envolvente e cativante para o público.

A Noite do Dia 12 é um filme que combina suspense, drama e investigação policial de forma magistral, proporcionando uma experiência cinematográfica intensa e memorável. Sua trama intricada, atuações marcantes e reconhecimento crítico fazem dele uma obra imperdível para os amantes do cinema.

 

 

 

 

 

 

 

O LEITOR

Título original: The Reader

Direção: Stephen Daldry

Gênero: Drama/Romance

País/Ano: Alemanha/Estados Unidos, 2008

 

Pelas páginas multifacetadas da paixão

 

O Leitor é um filme que aborda os temas do amor, culpa e redenção em meio ao contexto pós-Segunda Guerra Mundial na Alemanha. A história acompanha o envolvimento inesperado entre o adolescente Michael Berg, interpretado por David Kross, e Hanna Schmitz, vivida por Kate Winslet, uma mulher mais velha com quem ele se apaixona. A trama acontece de forma complexa, explorando as nuances dos relacionamentos e as consequências de escolhas passadas.

Destacando-se pela abordagem sensível e profunda dos personagens, O Leitor desafia as convenções românticas ao explorar o amor através dos silêncios e das não pronúncias dos protagonistas. O filme retrata os desdobramentos e hiatos do universo romântico, adentrando nas camadas mais profundas da psique humana, especialmente no que diz respeito à culpa e ao perdão, ambientado em um período de relacionamento e costumes edificados pela crueldade e pela desumanidade.

A atuação magistral de Kate Winslet como Hanna Schmitz e David Kross como Michael Berg eleva a narrativa, transmitindo a complexidade emocional dos personagens de forma excepcional. A trama se desenrola em um romance atípico para os beirais do clímax a dois, mergulhando nas questões morais e éticas que permeiam a história, desafiando o espectador a refletir sobre os limites do amor e da redenção.

Premiado e aclamado pela crítica, O Leitor obteve reconhecimento por sua narrativa envolvente e performances marcantes. O filme destaca-se por quebrar estereótipos e apresentar personagens multifacetados, distanciando-se da dicotomia simplista entre mocinhos e vilões.

O Leitor é uma obra incrível que transcende as fronteiras da paixão tradicional, explorando temas profundos como culpa, redenção e amor em um contexto histórico complexo. Com atuações brilhantes, uma narrativa envolvente e uma abordagem sensível, o filme cativa o público ao desafiar conceitos preestabelecidos sobre relacionamentos e moralidade.

 

 

 

 

 

A EXCÊNTRICA FAMÍLIA DE ANTÔNIA

Título original: Antonia

Direção: Marleen Gorris

Gênero: Drama

País/Ano: Países Baixos (Holanda), 1995

 

A saga familiar da excentricidade

 

A Excêntrica Família de Antônia, um grande e inesquecível filme. Esta obra é uma mistura de drama, comédia e pitadas generosas de excentricidade, tudo que um cinéfilo pode esperar de uma obra-prima cinematográfica. A história se desenrola em uma pequena vila holandesa, onde a protagonista, Antônia (interpretada por Willeke van Ammelrooy), retorna após a Segunda Guerra Mundial, trazendo consigo sua filha. E é a partir daí que somos levados por uma viagem no tempo, repleta de memórias, amores, e, é claro, personagens peculiares que deixam sua marca na trama.

A Excêntrica Família de Antonia é tudo menos convencional. Com uma filha forte e independente, Danielle (interpretada por Els Dottermans), e uma série de personagens igualmente excêntricos, como Thérèse (Veerle van Overloop), Bas (Jan Decleir), e o curioso Krome Vinger (Mil Seghers), mais conhecido como Dedo Torto, a dinâmica entre eles é uma verdadeira montanha-russa de emoções.

O filme apresenta seu brilhantismo não tão-somente pela brilhante atuação do elenco principal, mas também pela sua capacidade de nos transportar para dentro da história, nos fazendo sentir parte da família de Antônia. É uma obra que celebra a vida em suas mais diversas formas, mostrando como a força, a beleza e a generosidade podem surgir até mesmo nos momentos mais difíceis.

Vale ressaltar que A Excêntrica Família de Antônia não passou despercebido pelos olhos críticos da Academia Norte-Americana, conquistando o prestigiado Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1995, e não é difícil entender o porquê. Com uma narrativa envolvente, personagens cativantes e uma mensagem poderosa sobre amor e família, este filme é daqueles que deixam uma marca duradoura na alma do espectador.

Se você está procurando por uma experiência cinematográfica única, que mistura humor, drama e um toque de excentricidade, A Excêntrica Família de Antônia é a escolha perfeita. Prepare-se para rir, chorar e se apaixonar por essa história que vai ficar gravada na sua memória por muito tempo.

 

 

 

 

Bioque Mesito – foto: divulgação