SUIRIRI: UM VOO POÉTICO NO CÉU DE ARIADNE
*Rafael Oliveira
O que mais dizer além do encanto das palavras, das imagens e das transfigurações que a poesia sempre nos proporciona? Talvez não haja resposta exata, exceto afirmar que os poemas de Ariadne Oliveira, publicados pela editora Caravana, 2024, 56 páginas, são grandiosos, sensíveis e concisos, prontos para serem degustados. Ou melhor, lidos como quem aprecia a mais refinada iguaria extraída das palavras e de seus significados simbólicos.
É como se cada signo evocasse sensações visuais e, sobretudo, imaginativas, propiciando o prazer mais puro que um livro pode oferecer, sem pedir nada em troca, a não ser sensibilidade para desvelar sua intimidade com delicadeza, como uma mão que toca ou sente a pele das palavras com suavidade, mas que às vezes as arranha levemente com unhas sutis, atraindo os sentidos para a superfície da linguagem, moldando assim o desejo e o sentido da poesia. Afinal, “Nas terras do meu corpo/Deus foi extraditado/Ergo altares de desejo/sussurro preces insolentes/Acendo velas/apenas para mim” (p. 27).
O título Suiriri é instigante e nos leva a buscar referências em diferentes dicionários, especializados ou não. Por outro lado, pode-se propor um sentido mais metafórico: “Suiriri, pássaro que voa pelo céu poético de Ariadne Oliveira”. Além disso, os poemas não possuem títulos, talvez para desafiar o linguista francês Oswald Ducrot, para quem o título deve ser sempre “o príncipe dos significantes”. Ou, quem sabe, seja apenas uma estratégia da autora para que o leitor crie seus próprios títulos, conforme as motivações de sua leitura. Como nomear, então, este poema: “Aperto os dentes sobre nada/Travo a mandíbula furiosa/Interdito a explosão/O mundo não gosta de estilhaços, de mulher” (p. 23)?
Nos poemas de Suiriri, labirintos de palavras se entrelaçam à medida que Ariadne tece uma rede linguística e semântica, não para aprisionar, mas para libertar o “minotauro” dos sentidos em seus versos, como neste intrigante poema: “No meio de bicho,/tenho medo de gente/No meio de gente/tenho medo de mim/Em meio a mim/tenho medo de não cumprir/a promessa que fiz/não sei quando/de me tornar gente/de me tornar bicho” (p. 35).
Com isso, Suiriri possibilita leituras intuitivas e críticas que decifrem os segredos e enigmas contidos nas palavras, permitindo que se voe com os pássaros dos versos. Nesse sentido, a poeta nos convence a voar mais longe e mais alto em seus poemas-Suiriri, inclusive para perceber o poético entre as mesmices do nosso cotidiano: “Examino o chão com os olhos de Deus/Caminho por planícies nevadas de paina/Cumprimento os joões-de-barro/que pastam miudezas entre as folhas secas” (p. 13).
Na verdade, “voar” é a licença poética que Suiriri nos entrega para explorar o seu universo poético, onde palavras e poesia se confluem para formar uma precisa rede de significados. Por isso, Suiriri é uma obra fascinante, que surpreende com suas preciosidades e provocações poéticas, permitindo entender por que “o poema é um besourinho/zunindo ao redor da cabeça/até pousar na minha orelha/e me sugar das ideias” (p. 11).
*Rafael Oliveira, poeta.
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