*Este texto, que fala por si, foi escrito pelo poeta Nauro Machado em janeiro de 2009, por ocasião de divulgação do livro Os dias perambulados & outros tOrtos girassóis, de Antonio Aílton, lançado em São Luís naquele ano. Talvez haja algumas notas inquietantes no texto, que podem suscitar considerações interessantes. No final, trata-se de um diálogo entre poetas que se respeitam, e de um privilégio que é receber a atenção de um poeta da estatura do autor de O Parto.
NO CHÃO DAS OLIMPÍADAS
Nauro Machado
Antonio Aílton, nome pertencente à mais jovem e forte geração de poetas maranhenses, surgida após a do “movimento antroponáutico”, cuja bandeira foi tirada de um poema tribuziano, vem de lançar em Recife seu premiado livro Os dias perambulados & outros tOrtos girassóis.
Dono de um incontestável talento e de uma atilada visão crítica, indispensável à feitura de um verso sustentado pela inteligência, através daquela sensibilidade que, de acordo com Pessoa, está “pensando”, ou sendo receptivamente “pensada”, como no caso quase único e específico do autor de Tabacaria, Antonio Aílton usa, nos seus melhores momentos, dos pressupostos verbais utilizados pela austeridade que domina quase universalmente os poetas de hoje.
Sem usar contudo do baixo estilo, na prosa por ele buscada, Aílton consegue, em momentos privilegiados, alcançar inteligentemente a transferência da emoção para o seu correlato-objetivo, conforme feito superiormente por Eliot. Sob outro aspecto, ele é também um leitor atento, e não pastichoso, do Ponge a tomar o “partido das coisas”, embora fazendo nelas incutir a quase socialização do seu olhar humano.
Não é à-toa que no melhor poema do livro, Imagine se ponge vem beber na Praia Grande – uma pequena obra-prima que haverá de repetir-se em muitos outros – e no poema Casa das Tulhas, Aílton que, antes, em Pequena carta ao poeta trágico, já dissera: “os que vão morrer/ te saúdam”, refere-se a “ícones”, hoje quase levados pelo vento que varre tudo, vendo-se corroborado pelo poeta e ensaísta Ricardo Leão, no prefácio deste seu livro: “Depois do quarteto formado por Nauro, Gullar, Tribuzi e Chagas (…) tornou-se intolerável prosseguir sendo apenas um mero versejador sem grandes pendores”, finalizando o prefácio com uma saudação a Aílton: “Os que serão esquecidos te saúdam”.
Espero, sinceramente, que os novos poetas maranhenses, sobretudo os de alto valor como Antonio Aílton e o próprio Ricardo, se distanciem, rumando para mais longe, para além daqueles quatro citados por Ricardo Leão.
*Segue também um bilhete de Arlete Nogueira, escrito e entregue naquele mesmo momento:
São Luís, 5 de janeiro de 2009
“Meu caro poeta Antonio Aílton:
É evidente a qualidade poética deste seu Os dias perambulado & outros tOrtos girassóis, pelo qual você se firma como poeta de forma inquestionável na atual fase da poesia maranhense. Poemas que se conformam dentro de certo rigor estilístico, mantendo-se fiéis à proposta crítica, aos cenários e coisas que perturbam seu olhar atento.
(…)
Palmas para você, que se revela um observador inteligente, exercendo através de um tipo de flânerie, como bem lembrou Ricardo Leão, uma crítica causticante e certeira ao que lhe machuca e também fere a bendita e necessária sensibilidade. Parabéns, você é um grande poeta!”
Arlete Nogueira da Cruz
[Autora de Compasso Binário e A litania da Velha]
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