Sacada Literária

Cultura, crítica e divulgação

Michel Houellebecq - Fonte: humo.be

MICHEL HOUELLEBECQ – dois poemas traduzidos

Tradução: Antonio Aílton

 

*Michel Houellebecq, nascido Michel Thomas, na Ilha da Reunião, Departamento da França, em 1958. É poeta, ficcionista, argumentista, ensaísta francês, dos mais conhecidos e traduzidos mundialmente. Ganhou o Prêmio Goncourt, o mais famoso prêmio francês, em 2010, com o romance La carte et le territoire. Na poesia, Houellebecq tem La Pousuite du Bonheur, Poésie, La configuration du dernier rivage, Ranaissance, entre outros. Controverso e provocador, é um “enfant terrible” contemporâneo e uma das vozes mais importantes da poesia mundial atual.

 

 

EXISTIR, PERCEBER

 

Existir, perceber,

Sendo uma espécie de resíduo perceptivo (se assim podemos dizer)

Na sala de embarque do terminal Roissy 2D

Esperando o voo com destino a Alicante

Onde minha vida continuará

Por mais alguns anos

Com meu cachorrinho

E alegrias (cada vez mais breves)

E o aumento regular do sofrimento

Naqueles anos imediatamente anteriores à morte.

F onte: viajabi.com.br

 

EXISTER, PERCEVOIR

 

Exister, percevoir,

Être une sorte de résidu perceptif (si l’on peut dire)

Dans la salle d’embarquement du terminal Roissy 2D,

Attendant le vol à destination d’Alicante

Où ma vie se poursuivra

Pendant quelques années encore

En compagnie de mon petit chien

Et des joies (de plus en plus brèves)

Et de l’augmentation régulière des souffrances

En ces années qui précèdent immédiatement la mort.

 

 

A ESTRADA

 

O céu se esquartejava, dilacerado por postes,

E alguns lampiões de rua pendiam sobre a estrada

Eu olhei para as mulheres e quis todas elas,

Seus lábios entreabertos formavam polígonos.

 

Eu nunca alcançarei a plena paciência

De quem se sabe amado no eterno

Minha jornada será breve, errática e cruel,

Tão longe do prazer quanto da indiferença.

 

As plantas noturnas escalavam o telhado de vidro

E as mulheres deslizavam perto do bar tropical;

No túnel das noites, a esperança é brutal,

E o sexo das mulheres inundado de luz.

 

LA ROUTE

 

Le ciel s’écartelait, déchiré de pylônes,

Et quelques réverbères se penchaient sur la route

Je regardais les femmes et je les voulais toutes,

Leurs lèvres écartées formaient des polygones.

 

Je n’atteindrai jamais à la pleine patience

De celui qui se sait aimé dans l’éternel

Mon parcours sera bref, erratique et cruel,

Aussi loin du plaisir que de l’indifférence.

 

Les plantes de la nuit grimpaient sur la verrière

Et les femmes glissaient près du bar tropical ;

Dans le tunnel des nuits, l’espérance est brutale,

Et le sexe des femmes inondé de lumière.

 

[Michel Houellebecq]