Sacada Literária

Cultura, crítica e divulgação

Paulo Rodrigues e Luiza Cantanhêde - poetas

O OLHAR SEMIÓTICO DE PAULO RODRIGUES: a poesia na vida real

por Luiza Cantanhêde

Em outubro de 2019, eu seguia viagem, rumo a Gravatá – Pernambuco, para receber o troféu “Destaque Nordeste” na categoria Poesia, e Paulo Rodrigues seguia para o Rio de Janeiro, como vencedor no “Prêmio Álvares de Azevedo” no Concurso Internacional de Literatura promovido pela união Brasileira de Escritores-UBE/RJ, com o livro inédito de poesia UMA INTERPRETAÇÃO PARA SÃO GREGÓRIO.

Eu tinha certeza de que um poeta como Paulo Rodrigues, que traz no olhar as dores, as angústias, as lutas, os sonhos e a esperança de um povo e de um país tão massacrado, coisas que também atravessam sua discursividade poética, não haveria de passar “inutilmente” pelo centro do Rio de Janeiro, sobretudo pela praça Floriano, popularmente conhecida como CINELÂNDIA, que abriga os principais pontos históricos e culturais da “cidade maravilhosa”, que foi e continua sendo palco para as grandes manifestações políticas e culturais do Brasil.

Faço esta introdução para falar da sua obra homônima “CINELÂNDIA” que começou a nascer ali, alimentada pelo cenário e que irá revelar as feridas da vida e o sentimento afligente da poesia.

O livro, vencedor no “Prêmio Literatura & Fechadura” de São Paulo, foi publicado pela Editora Folheando em 2021.

Com 68 páginas, é estruturalmente dividido em quatro seções (ou capítulos, como queiram):
-CLAQUETE
-CENA 1
-CENA 2
-THE END
Cujos títulos, exprimem bem o seu conteúdo.

Vamos encontrar um fluxo imagético, engendrado em uma linguagem que nos traz uma metáfora cinematográfica, portanto não é possível fazer uma leitura do livro tão somente baseada em termos de formas, estrofes, versos ou sintaxe.

Em sua multissemiose, Rodrigues leva para o cenário poético as significâncias e os significados de suas paisagens, sejam elas geográficas, afetivas ou sociais.
Numa linguagem assertiva e contundente os fotogramas de CINELÂNDIA, conseguem repercutir a dimensão política, o inconformismo, a violência urbana, as injustiças, que a poesia, enquanto discurso social, pode e deve abordar.

O projetor de Paulo Rodrigues nos mostra cenas e personagens reais de uma nação que despencou ladeira abaixo e arrastou o povo trabalhador para a condição de miseráveis. Estamos sem teto, sem comida, sem saúde, sem segurança e sem dignidade.
Da primeira seção: CLAQUETE
Eu retiro um trecho do poema Missiva (Pág,22):

“Precisamos fundar um planeta
Não construiremos casas e não deixaremos morrer de frio os miseráveis
O lixo não será o alimento de nenhuma criança”

Imbuído de grande consciência humana, o poeta também alimenta nossas utopias.

De Cena 1, eu trago um trecho de Amazônia, cova comum (Pág,32): 

“Cavar o chão, é útil o cosmo
Cavar o chão, cortar-se em pedaços”

A tmese de Rodrigues faz perfurações no latifúndio de nossa indignação.

Em Cena 2, Paulo nos traz as necessidades insaciáveis, a exemplo do poema Sessão da tarde (Pág,47): 

“A mãe “escancha” a menina na cintura e o aluguel venceu”

Imagem esta que evoca em mim, a sensação de ouvir Gente humilde de Chico Buarque: 

(“É gente humilde que vontade de chorar”)

E por fim, em THE END, o cinematógrafo, consegue captar a esperança Numa esquina de Havana (Pág,66):

“A música preencheu a manhã”.

Tocada e impactada com estas imagens tão reais, e sabendo do coração tão humano e combatente deste meu irmão de utopias, eu finalizo com uns versos de Aldir Blanc/ João Bosco, em o (Bêbado e a equilibrista):

“Mas,sei que uma dor assim pungente, não há de ser inutilmente”.

 

 

 

 

Antologia poética organizada pela parceria Paulo Rodrigues – Luiza Cantanhêde, com poetas do coletivo Vozes do Vale

 

 

LUIZA CANTANHÊDE
(De Santa Inês – MA)
Formada em Contabilidade. É membro fundadora da Academia Piauiense de Poesia; da Associação de jornalistas e escritoras do Brasil-MA; Membro da Academia Poética Brasileira; da Sociedade de Cultura Latina do Maranhão e do mulherio das letras.
Tem poemas publicados em antologias nacionais e internacionais. Publicou Palafitas (2016) Amanhã, serei uma flor Insana (2018) e Pequeno ensaio amoroso (2019, poesia) pela Editora Penalux.