BELEZAS QUE NOS ENTRELAÇAM
por Bioque Mesito
PESSOAS-PÁSSARO
Título original: Bird People
Direção: Pascale Ferran
Gênero: Drama/Romance/Fantasia
País/Ano: França, 2014
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Pelos céus e pelas almas
Em Pessoas-Pássaro, somos convidados a mergulhar no fascinante universo aeroviário, onde os destinos se cruzam e as histórias se entrelaçam em um emaranhado de emoções e experiências. O filme, dirigido por Pascale Ferran, nos leva a uma viagem através dos corredores do aeroporto Charles De Gaulle, em Paris, onde acompanhamos a vida de uma variedade de personagens, desde funcionários do aeroporto até passageiros e turistas.
No centro da trama, encontramos dois personagens principais que representam dois mundos diferentes: Gary Newman (interpretado por Josh Charles), e Audrey (interpretada por Anaïs Demoustier). Gary é um executivo norte-americano em uma viagem de negócios que, após uma reviravolta inesperada, decide mudar seus planos e permanecer em Paris. Enquanto isso, Audrey é uma jovem camareira francesa que leva uma vida solitária e monótona.
Uma das principais atrações do filme é a forma como ele aborda o estado de espírito de cada personagem, especialmente o de Audrey. A escolha do título, Pessoas-Pássaro, é significativa, pois reflete não apenas o contexto literal do ambiente aeroportuário, mas também a sensação de liberdade e movimento que permeia as vidas dos personagens.
A direção e o roteiro de Pascale Ferran apresentam momentos inspirados, especialmente na maneira como retratam os detalhes do universo dos voos e hospedagens, sem que isso pareça uma mera propaganda das marcas envolvidas. No entanto, algumas escolhas de direção podem parecer um tanto confusas, como a divisão do filme em capítulos para cada personagem principal. Embora essa estrutura possa proporcionar uma visão mais aprofundada de cada história, a inserção de tela preta entre os capítulos pode parecer desnecessária e até mesmo subestimar a inteligência do espectador.
A narração em off de Mathieu Amalric, que antecipa as decisões do personagem de Gary, pode parecer redundante e desnecessária, uma vez que as ações do próprio personagem poderiam ser suficientes para transmitir suas intenções ao público.
No entanto, apesar dessas pequenas incoerências, Pessoas-Pássaro é uma obra cinematográfica envolvente e cativante, que nos convida a refletir sobre a complexidade das relações humanas e os mistérios da vida cotidiana. Com performances sólidas do elenco principal e uma narrativa rica em detalhes, o filme nos lembra da beleza encontrada nas pequenas conexões que fazemos ao longo de nossas jornadas pela vida.
AMOR À FLOR DA PELE
Título original: Fa yeung nin wa
Direção: Wong Kar-wai
Gênero: Drama/Romance
País/Ano: França/Hong-Kong, 2000
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A dança das emoções
O filme Amor à Flor da Pele mergulha em um mundo de relações complexas e emoções profundas, onde o amor e a traição se entrelaçam em um intricado jogo de paixão e desilusão. Dirigido por Wong Kar-wai, a obra apresenta Chow, interpretado por Tony Leung Chiu Wai, e Li-Zhen, interpretada por Maggie Cheung, dois personagens cujas vidas se entrelaçam de maneira inesperada.
A trama se desenrola em meio a um cenário de mudança e transição, onde Chow e Li-Zhen acabam de se mudar para o mesmo prédio, cada um acompanhado por seus respectivos cônjuges. No entanto, à medida que suas vidas se cruzam e eles compartilham momentos de solidão e intimidade, uma conexão especial se desenvolve entre eles.
O filme é uma exploração poética das emoções humanas, capturando a essência da atração, da dor e da esperança que permeiam os relacionamentos. A química entre Tony Leung Chiu Wai e Maggie Cheung é palpável, e suas performances são cativantes, transmitindo uma gama complexa de sentimentos sem palavras.
A direção visualmente deslumbrante de Wong Kar-wai, que utiliza cores vibrantes e composições cinematográficas arrojadas para criar uma atmosfera envolvente e sensorial, é o potencial deste filme. Cada cena é uma obra de arte por si só, evocando uma sensação de nostalgia e melancolia que ressoa profundamente com o espectador.
Amor à Flor da Pele recebeu aclamação da crítica e foi premiado em diversos festivais de cinema ao redor do mundo, incluindo o Festival de Cannes, onde recebeu o prêmio de Melhor Direção. A delicadeza e a profundidade com que o filme aborda temas universais como amor, traição e desejo o tornaram uma obra-prima do cinema contemporâneo.
Esta película é uma jornada emocionalmente cativante através do labirinto do coração humano, onde os encontros e desencontros de dois amantes perdidos ecoam as batidas de um amor eterno. É um filme que transcende as barreiras do tempo e do espaço, tocando os corações daqueles que se aventuram em sua história apaixonante.
AFTERSUN
Título original: Aftersun
Direção: Charlotte Wells
Gênero: Drama/Comédia
País/Ano: EUA, Reino Unido e Irlanda do Norte, 2022
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As expressões silenciosas
No filme Aftersun, somos transportados para o universo íntimo e emocional de Sophie, interpretada de forma cativante por uma atriz ainda desconhecida. O filme nos leva em uma jornada de autoconhecimento e reconciliação, enquanto Sophie reflete sobre as férias que passou com seu pai duas décadas atrás. Dirigido por um cineasta estreante, cujo nome ainda ecoa nas sombras do anonimato, o filme cativa pela sua sinceridade e sensibilidade.
A narrativa é uma mistura habilmente tecida de memórias reais e imaginárias, que se entrelaçam para formar um retrato emocionante e multifacetado do relacionamento de Sophie com seu pai. À medida que ela revisita os momentos de alegria e melancolia das férias passadas, somos levados a explorar os labirintos da mente humana e os mistérios da memória.
Um dos pontos mágicos da trama é a atuação convincente da atriz principal, cujo nome ainda não ecoa nos corredores da fama, mas que entrega uma performance emocionalmente poderosa e profundamente comovente. Seu retrato de Sophie é repleto de nuances e complexidades, capturando a essência da luta interior de uma mulher em busca de compreensão e aceitação.
Aftersun não obteve um olhar mais apreciativo nos grandes festivais de cinema, nem acumulou prêmios e elogios da crítica especializada, mas isso não diminui o seu valor como uma obra genuína e tocante. O filme brilha pela sua simplicidade e autenticidade, oferecendo uma visão poética e introspectiva sobre as complexidades das relações familiares e a natureza fugaz da memória.
O filme tem o poder de nos transportar para o mundo interior de Sophie, onde as fronteiras entre o passado e o presente, o real e o imaginário, se desvanecem em uma dança hipnótica de emoções e lembranças. A trilha sonora delicada e envolvente, combinada com a fotografia evocativa, cria uma atmosfera de sonho que nos envolve e nos transporta para o cerne da história.
Aftersun é uma joia escondida do cinema contemporâneo, que merece ser descoberta e apreciada por aqueles que buscam uma experiência cinematográfica verdadeiramente significativa e emocionalmente ressonante. É um filme que nos lembra da beleza e da fragilidade da vida humana, e da capacidade do amor e da memória de transcender o tempo e o espaço.
LEMON TREE
Título original: Etz Limon
Direção: Eran Riklis
Gênero: Drama
País/Ano: Israel, 2008
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Um mundo multifacetado entre conflitos
Lemon Tree não é apenas um filme; é um testemunho da habilidade humana de encontrar beleza mesmo nas situações mais desafiadoras. Eran Riklis entrega uma narrativa poderosa que mergulha profundamente na complexidade do conflito Israel-Palestina, usando um pequeno detalhe como ponto de partida para uma reflexão intensa sobre identidade, resistência e empatia.
A história gira em torno de Salma, uma viúva palestina que encontra sua vida profundamente entrelaçada com a de Israel Navon, o ministro da Defesa de Israel. Seu pomar de limões, herança de seu pai, se torna o epicentro de um embate entre a segurança de Navon e a resistência determinada de Salma. O filme é uma jornada emocionante de Davi contra Golias, mas vai além das aparências para explorar as camadas mais profundas dos personagens e da situação em que se encontram.
Hiam Abbass brilha no papel de Salma, transmitindo a solidão, a determinação e a humanidade da personagem de forma cativante. Sua atuação é complementada pelo elenco talentoso de israelenses e árabes, que dão vida a uma gama de personagens complexos e multifacetados.
Além da trama principal, Lemon Tree aborda questões universais de identidade e pertencimento, explorando os símbolos culturais e as restrições sociais que moldam as vidas dos personagens. A direção de Eran Riklis é habilidosa, equilibrando habilmente o drama político com momentos de intimidade e humanidade.
Ao longo do filme, somos confrontados com as injustiças e as dificuldades enfrentadas pelos personagens, mas também com sua resiliência e esperança. Lemon Tree é um lembrete poderoso do poder da narrativa cinematográfica para abrir nossos olhos e nossos corações para as realidades complexas do mundo ao nosso redor.
Vencedor de diversos prêmios e aclamado pela crítica, o filme é uma obra-prima que ressoa muito além das fronteiras do conflito Israel-Palestina. É um testemunho da força do espírito humano e da capacidade do cinema de nos fazer refletir, questionar e, esperançosamente, encontrar um terreno comum de compreensão e compaixão.
A GRANDE BELEZA
Título original: La grande Bellezza
Direção: Paolo Sorrentino
Gênero: Drama/Comédia
País/Ano: França/Itália, 2013
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Um banquete visual e intelectual
A Grande Beleza é uma experiência cinematográfica que desafia as convenções e transporta o espectador para um mundo de beleza, decadência e reflexão. Dirigido pelo talentoso Paolo Sorrentino e estrelado pelo brilhante Toni Servillo, o filme nos leva a uma jornada pela vida de Jep Gambardella, um escritor em busca de significado em meio ao glamour e à superficialidade da alta sociedade romana.
Desde os primeiros minutos, somos imersos na deslumbrante paisagem de Roma, onde a beleza se mistura com o caos e a extravagância. A música, os cenários e os personagens exalam uma aura de exuberância e decadência, criando um mundo onde o real e o surreal se entrelaçam de maneira hipnotizante. É como se estivéssemos navegando por um sonho febril, onde cada cena é uma pintura em movimento.
Toni Servillo entrega uma performance magistral como Jep Gambardella, um homem que vive à sombra de um único sucesso literário e busca desesperadamente por algo mais significativo em sua vida. Sua jornada de autodescoberta é ao mesmo tempo cativante e angustiante, e nos faz questionar nossas próprias prioridades e escolhas.
Ao longo do filme, somos apresentados a uma galeria de personagens excêntricos e memoráveis, cada um contribuindo para a tapeçaria complexa da narrativa. Desde os aristocratas decadentes até os artistas excêntricos, cada personagem traz consigo suas próprias obsessões e dilemas, adicionando profundidade e textura à história.
Mas o verdadeiro triunfo de A Grande Beleza está em sua habilidade de provocar reflexão sobre temas universais como amor, morte, arte e mortalidade. Sorrentino nos convida a contemplar a natureza efêmera da vida humana e a busca interminável pela beleza e pelo significado em um mundo muitas vezes vazio e absurdo.
Premiado com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 2014, e aclamado pela crítica em todo o mundo, o filme é mais uma das grandes realizações do cinema contemporâneo que transcende fronteiras culturais e linguísticas. É um filme que nos desafia a pensar, a sentir e a apreciar a complexidade e a beleza do mundo ao nosso redor. Prepare-se para uma experiência cinematográfica inesquecível que irá fascinar e inspirar.
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