PINTURA QUASE ÍNTIMA
O fungo nas unhas desenhou um quadro barroco
nas mãos de barro do operário que ouvia ópera
pouco preocupado com os abismos nos dedos
o homem já concebia as manchas como flocos
gastas garras desconfigurando-se e derretendo
feito um sorvete suicida encarando lentamente o sol.
(Tecido Tempo – Mostra da Poesia Contemporânea do Maranhão – Antologia da AML/2023)
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CÂMERA UM
Saga em mutirão no quintal de casa
formigueiro fervendo em terra removida
como se eu visse homens na Serra Pelada.
Em vão tento conferir operários
eles não se incomodam comigo e têm pressa.
Guardar suas quentinhas para o próximo inverno
é uma missão quase suicida na frente de um humano.
Rápido um corredor cor de gasolina se avexa
ziguezagueando os minutos de um relógio que desconheço.
Transeuntes com verdes torços vão tecendo a aba da manhã
e eu desisto de pôr o pé sobre aquela vermelha torre.
Não estão inscritos no programa Auxílio Brasil
O IBGE os desconhece e o Fantástico não sabe o que perde.
Tudo está formado e me torno cúmplice
do xadrez nas folhas do pequeno abacateiro.
(Tecido Tempo – Mostra da Poesia Contemporânea do Maranhão – Antologia da AML/2023)
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GALOPES AO ENTARDECER
Penélope sabe que há muito
vem na garupa comigo
no mesmo cavalo de Ulisses.
Cavalgamos por trilhas errantes
nos galopes de silêncio e suspiros
e tanto ela quanto eu sofremos por isso
porque vivemos só pela sintonia
e Platão é padrinho desse precipício.
Os poemas de César William revelam uma profundidade emocional e habilidade excepcional na arte da poesia. Sua obra é um verdadeiro testemunho da riqueza da linguagem e da imaginação, capaz de cativar os leitores e envolvê-los em mundos literários distintos. Em “Pintura Quase Íntima”, o autor utiliza uma metáfora intrigante ao comparar as unhas deterioradas com um quadro barroco, criando uma imagem vívida que nos faz refletir sobre a passagem do tempo e a decadência da vida. O uso das palavras e a escolha cuidadosa de metáforas revelam a habilidade de César William em criar imagens poéticas que capturam a atenção do leitor. Em “Câmera Um”, o poeta apresenta uma visão única do mundo das formigas e sua incansável busca por sobrevivência. A observação atenta do autor nos leva a uma reflexão profunda sobre a humanidade e nosso lugar no mundo. A capacidade de César William de dar voz a elementos aparentemente insignificantes da natureza revela sua sensibilidade poética única. Em “Galopes ao Entardecer” nos oferece uma perspectiva íntima e emocional da relação entre os personagens Penélope e Ulisses. O poema explora os sentimentos complexos que permeiam esse relacionamento, com referências a Platão que adicionam uma dimensão filosófica intrigante. César William demonstra sua habilidade em mergulhar nas profundezas das emoções humanas, tornando seu trabalho tocante e reflexivo. Os poemas de César William faz com que sua obra seja uma contribuição valiosa para a literatura contemporânea, capaz de inspirar e emocionar seus leitores.
Caríssimo César Borralho, grato pelo seu tecer em um tear de linhas literárias e filosóficas nesta REVISTA ELETRÔNICA de alto requinte. Esses três poemas, além de integrarem parte da antologia TECIDO TEMPO, fazem parte do meu livro inédito que está no prelo, CARTA (À) MARGEM, em que apresento poemas de fases distintas.
Grato, pela leitura crítica, caro vate. Sigamos pelas veredas da poesia.
Prezado Poeta César William,
O requinte quem o traz são pessoas ilustres como vossa pessoa. Estamos ansiosos para conhecer sua CARTA (À) MARGEM. A poesia é uma jornada fascinante, e é um privilégio poder explorar suas criações poéticas. Estou certo de que suas palavras continuarão a nos encantar e a nos levar por caminhos inexplorados da sensibilidade humana.
“Quae sunt Caesaris Caesari”! É um princípio que se aplica aqui com grande justiça, reconhecendo o mérito da sua arte e a contribuição valiosa que você traz à literatura.
Com estima, César Borralho.
Grato, caro poeta César Borralho. O livro está no prelo. Será honroso ter sua honrosa presença no dia do lançamento. Até lá. Abraço.