ENTRE O RIO JORDÃO E O MAR DO MEDITERRÂNEO
Na profundidade da minha visão,
mais uma bomba explode em minha mente
e o meu coração em pedaços,
já não mais tem, sequer, uma lágrima
e nem mesmo uma dor do sentimento
de ser a semelhança do infinito Deus.
A terra prometida ― agora devastada! ―,
não mais produz oliveiras e nem óleos,
para untar a estética da felicidade de um povo
antes escolhido pelo Divino…
― Mas, e agora!?
Apenas corpos a céu aberto!
― Corpos de anjos que agora são plantados
em campos de refugiados, para florarem
na próxima primavera, como desgraçados da sorte!
Quanta dessorte dessas inocentes sementes,
que apenas verão o breu do fundo da terra
e que abaixo de sete palmos jamais terão à luz.
E na Meca de Sion, um Salomão e seu miserável deus
do Norte, reluzem a vindita da morte insensata,
da aspiração do cancelamento de vidas inocentes,
em defesa da semítica cidade do Oriente
― velha e Sagrada Prostituta ―, onde
comemora-se a vitória entre taças de sangue.
No futuro, esses anjos descerão de todos os céus
e nascerão de todas as sepulturas,
para vingar a terra prometida, mas nunca cumprida.
E dirão: devolvei à Prostituta Sagrada
toda a miserável vida e toda a desgraçada sorte,
imposta ao povo que fica entre o Rio Jordão e o Mar Mediterrâneo
APOCALIPSE
I
Amanhece e o sol do Oriente sangra
Pássaros e borboletas – anjos de aço –
Dão “bom dia!” de estanhos em fogos!
A velha Palestina – enclausurada! –
Parece mesmo condenada ao pranto eterno,
À miragem apocalíptica de João.
II
Da miserável conduta de Israel, todo um povo arde:
Crianças morrem…
Jovens morrem…
Mulheres morrem…
Homens morrem…
Uma nação morre…
III
Na Meca ecumênica dos poderosos
Onde o deus-mercado se abriga
Parlamenta-se a sorte da guerra
Discute-se uma faixa de terra – Gaza –
Onde um povo esquecido, e de miserável sorte,
Vê sobre si caírem flores de fogo
IV
Abre-se a terra – antes prometida! –
E dela surgem cavalos de ferro
Cuspindo palavras que torram corpos;
Que pisoteiam com seus cascos de aço
Corações de anjos que retornarão do enterro,
Para vingar a maldade da prostituta Israel
V
Do mar surgem peixes-fogo voadores e
carnívoros. Multiplicam-se e devoram as liberdades!
E a prostituta sorri ao ver os filhos da promessa
Serem massacrados… humilhados… dizimados…
Sob a benevolência dum varão que imola,
Que mata sem paixão, pensando lavar seus pecados.
VI
Palestina! A velha senhora implora de joelhos
Um naco de terra para seus filhos plantarem o milho
E colherem a uva que lhes saciarão a fome e a sede…
Mas a nova prostituta – eterna bêbeda –
Banqueteia-se no palácio da Grande Tenda
E faz corte aos bezerros de ouro
VII
Antes do juízo final surgirá um anjo que anunciará:
“A famosa prostituta, aquela grande cidade, cairá!
E os reis do mundo inteiro que com ela deitaram,
E que comeram do milho e beberam do vinho da sua
Imoralidade; perecerão. Só então haverá liberdade.”
E um outro anjo dirá:
– Saia dessa cidade, meu povo!
Saiam todos dela
para não tomarem parte nos seus pecados
e para não participarem dos seus castigos!
Pois os seus pecados estão amontoados até o céu,
e Deus lembra das suas maldades.
Deem a ela o mesmo que ela deu a vocês;
paguem em dobro o que ela fez.
Encham a taça dela com bebida duas vezes mais forte
do que a bebida que ela preparou para vocês.
Deem a ela tanto sofrimento e tristeza
quanto luxo e glória ela deu a si mesma.
Porque ela pensa assim:
“Estou sentada aqui como rainha!
Não sou viúva e nunca mais vou sofrer!”
“Por isso num mesmo dia
cairão sobre ela estas pragas:
doenças, dor e fome,
e ela será queimada no fogo.
Pois o Senhor Deus, que a julga, é poderoso”.
DOS SONHOS JACOBINOS
Por que reclamas dos teus sonhos?
Eles não são pesadelos.
Eles não são manifestações ilusórias.
Em verdade são todos realidade,
são quadros pintados pelo monstruoso ser
que te habita ― um deus semita! ―,
condenado por toda eternidade
a contemplar o horror da tua guerra,
insensata guerra!
expostos na parede da tua consciência.
Ó Jacó, tu que fostes feito Israel,
és agora apenas um miserável rei
liderando foguetes e bombas assassinas
em toda vastidão da terra prometida.
DA PAZ DILACERADA
Quando o sangue deixa de correr nas artérias,
para correr entre seres humanos ― feito veias! ―
dilacerados nos campos santos da terra;
quando homens, mulheres e todas as crianças,
com seus corações chorando prantos de dores,
não representam primaveras e esperanças;
quando o ser humano perde a capacidade
de amar o primeiro suspiro que reluz
vida, vemos, então, que perdemos a paz.
Quando num mundo onde só o poder se deslumbra
e o amor tanta e quantas vezes só sucumbe,
uma verdade emerge sutil… e profunda:
deixa o ser de ser caminho de paz e luz!
***
*João Batista do Lago, maranhense, é poeta, jornalista e articulista.
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