Sobre Frágeis artefatos,
terceiro livro de poemas de ROGÉRIO ROCHA,
a ser lançado no primeiro semestre de 2025
Raimundo Fontenele*
[novembro/2024]
REFUNDAÇÃO
deixe estar!
o que não existe
o poeta funda
renova, reestrutura
recolhe das mãos
do silêncio
inaugura
repõe a falta
do ser
retira da sepultura
revira
refaz
revê
a sagrada reconstrução
até acontecer
deixe ser!
o que não está
o poeta inaugura
com a voz da palavra
perfura
a terra fértil
até chegar
ao que procura
incrementa um novo
saber
apascenta
a antiga ira
de débeis criaturas
revela a cura
reencontra a energia
das fervuras
a egrégora do magma
terremotos que abalam
a fundação das estruturas
palavra após palavra
sonho após sonho
loucura após loucura
Esta ínfima amostra da poesia de Rogério Rocha poderia ser o cartão de visita do seu livro Frágeis Artefatos, mas não é. Isto porque, com raríssima exceção, ele consegue manter o mesmo nível elevado de depuração técnica e signos e significados metafóricos em todos os poemas dessa obra.
Porque o poeta Rogério Rocha trabalha o verso como certamente trabalha a própria vida. Com esmero e devoção incomuns porque sabe e nos ensina que só temos uma vida e não podemos desperdiçá-la e nem perdê-la. Assim é como trabalha o verso do seu poema, empregando toda a força mental e todo aparato intelectual para que o verso caia no poema qual uma luva, mas sempre carregando para dentro deste a emoção, sem a qual o poema seria apenas um jogo inconsequente de palavras, carente de mensagem humana e de um sentido mais elevado espiritualmente falando.
Punhal de dois gumes e tridente netuniano, a poesia do Rogério Rocha corta e atravessa o mundo carcomido dos bem pensantes, eivado de ladainhas e missas negras, porque o mundo está perdido e a humanidade não tem mais um caminho seguro a seguir.
A não ser que sigamos o caminho poético desses inquebrantáveis artefatos, só na aparência frágeis, mas que têm a principal força que redime o homem: a liberdade de ser e de criar aquilo para o qual fomos chamados: curar o mundo com oração e poesia. Por que não?
*
*Raimundo Fontenele é poeta e jornalista.
Você pode ter perdido
Carta ao Excelentíssimo Sr. Prefeito de São Luís, EDUARDO BRAIDE – versão
Biblioterapia: A Arte de Curar pela Leitura
JOSÉ CHAGAS, centenário, nas palavras de VIRIATO GASPAR – Encontro de dois mestres da poesia, rendilhado de sonetos