O cinema enigmático de FREDERICO MACHADO e a descida órfica aos Infernos de seu pai, NAURO
por Bioque Mesito
A trilogia filmográfica de Frederico Machado, baseada na obra de seu pai, o poeta Nauro Machado, oferece um mergulho profundo no suspense e na atmosfera sombria, com destaque para Lamparina da Aurora. Este filme, narrado pelo próprio poeta, conduz os espectadores por uma trama enigmática envolvendo um casal de idosos e um misterioso forasteiro. Em contraste, O Signo das Tetas desafia as convenções do cinema contemporâneo com uma abordagem contemplativa e poética, explorando temas de erotismo e solidão. Já O Exercício do Caos apresenta uma narrativa não linear e sensorial, que pode ser desafiadora para alguns espectadores devido à sua preferência por sensações sobre a razão. Abaixo, comento essas três obras essenciais.
O EXERCÍCIO DO CAOS
Título original: O exercício do caos
Direção: Frederico Machado
Gênero: Drama/Mistério
País/Ano: Brasil, 2013
Além das convenções
O Exercício do Caos, dirigido por Frederico Machado, é uma obra cinematográfica que desafia as convenções do gênero ao buscar a pureza e a essência em sua narrativa. Ambientado em uma fazenda no interior do Maranhão, o filme retrata a vida austera e misteriosa de um pai autoritário e suas três filhas adolescentes. A ausência da mãe, supostamente desaparecida, paira como um enigma sobre a família, enquanto elas lidam com a exploração do capataz e seus próprios dilemas internos.
A trama é construída de forma minimalista, com poucos diálogos e cenários limitados, destacando a economia estética proposta pelo diretor. Os personagens, sem nomes e com poucas características distintas, refletem a busca pela purificação da forma, conforme sugerido pelos versos do poeta Nauro Machado, que permeiam o filme.
Ao longo da narrativa, dividida em três segmentos (Exercício, Limbo e Caos), o espectador é levado a explorar diversas interpretações e significados, sem que uma única linha narrativa prevaleça. O filme brinca com o terror e o absurdo, especialmente no último segmento, proporcionando momentos de intensidade e ritmo.
No entanto, O Exercício do Caos não é uma obra de fácil acesso. Sua abordagem não linear e sua preferência pelas sensações em detrimento da razão podem ser desafiadoras para alguns espectadores. A falta de aprofundamento na psicologia dos personagens e a ausência de diálogos que diferenciem as irmãs também podem frustrar as expectativas de alguns.
Apesar disso, o filme se destaca pela performance do elenco, que entrega interpretações envolventes mesmo diante da economia de diálogos. As nuances sutis da trama e a habilidade do diretor em conduzir o espectador por um universo repleto de mistério e simbolismo são pontos positivos que merecem reconhecimento.
O Exercício do Caos pode não agradar a todos os paladares, mas é inegável que representa uma abordagem corajosa e singular dentro do cinema contemporâneo. Seu reconhecimento em premiações e festivais evidencia sua importância como uma obra que desafia as convenções e convida o público a explorar novos horizontes cinematográficos.
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O SIGNO DAS TETAS
Título original: O signo das tetas
Direção: Frederico Machado
Gênero: Drama
País/Ano: Brasil, 2015
Odisseia de autodescoberta
O filme O Signo das Tetas, do cineasta Frederico Machado, nos leva a uma jornada de autodescoberta e busca por redenção através dos olhos de um homem sem nome, interpretado por Lauande Aires. Nesta odisseia existencial pelo interior do Maranhão, somos apresentados a uma série de encontros e experiências que desafiam a fronteira entre razão e loucura, realidade e fantasia.
O filme se destaca pela sua abordagem fragmentada e silenciosa, que gradualmente constrói uma narrativa complexa e multifacetada. À medida que o protagonista atravessa diferentes cidades e se envolve em variadas situações, somos confrontados com seus conflitos internos e sua luta para reconstruir seu passado e encontrar um sentido para sua vida.
Lauande Aires entrega uma performance cativante, transmitindo a angústia e a melancolia do protagonista de forma visceral. Sua jornada é marcada por uma série de catarses, desde o contato com a arte e a natureza até encontros sexuais com prostitutas, todos eles carregados de simbolismo e significado.
A habilidade de Frederico Machado em criar imagens belíssimas e evocativas é evidente em cada cena do filme. A câmera captura cada detalhe dos corpos e dos cenários, enquanto o diretor brinca com a dualidade entre o real e o fantástico, o erótico e o religioso. As imagens das mulheres nuas no rio, a cena de sexo entre Lauande Aires e a atriz Rosa Ewerton Jara e de sua mãe idosa tomando banho são especialmente marcantes, evocando uma sensação de melancolia, fúria e desolação.
O Signo das Tetas é uma obra que desafia as convenções do cinema contemporâneo, optando por uma abordagem mais contemplativa e poética, baseada na obra do poeta Nauro Machado (pai do cineasta Frederico Machado). A divisão em capítulos e a utilização de elementos simbólicos e surrealistas contribuem para criar uma atmosfera única e intrigante, que convida o espectador a refletir sobre os temas da identidade, da sexualidade e da busca pela transcendência.
Embora possa ser interpretado como um filme hermético e de difícil acesso, O Signo das Tetas recompensa aqueles que se dispõem a mergulhar em sua complexidade e profundidade. É uma obra que ressoa muito além da tela, deixando uma marca indelével naqueles que se aventuram em sua jornada de autodescoberta e redenção.
LAMPARINA DA AURORA
Título original: Lamparina da Aurora
Direção: Frederico Machado
Gênero: Drama/Mistério
País/Ano: Brasil, 2017
A condição do humano
Lamparina da Aurora é o terceiro filme de Frederico Machado, obra cinematográfica que mergulha nas profundezas do suspense e da atmosfera sombria, trazendo consigo uma aura enigmática e perturbadora. Baseado na obra poética de Nauro Machado e narrado pelo próprio poeta, o filme se desenrola em uma trama que envolve um casal de idosos e um misterioso forasteiro, interpretados por Buda Lira, Vera Barreto Leite e Antônio Sabóia.
O diretor Frederico Machado mais uma vez mostra sua maestria em criar um ambiente denso e intrigante, onde os personagens são reduzidos a corpos que agem e reagem em um cenário que sugere perigo, morte e crise existencial. A ausência de diálogos e a predominância dos sons ambientes das cenas contribuem para intensificar a atmosfera de suspense e mistério, levando o espectador a uma imersão profunda nos segredos e nas angústias dos personagens. Com críticas positivas e uma recepção calorosa nos festivais por onde passou, este é um filme que certamente deixa sua marca nas mentes e nos corações daqueles que se aventurarem a explorar seus recônditos mais obscuros.
Os elementos arranjados e manipulados transmitem uma atmosfera, mensagem e estética avessa à narratividade proposta pelo diretor, pois reforça a ideia de que estamos diante de uma performance visual, onde cada cena é meticulosamente construída para transmitir uma sensação de desconforto e inquietação. A câmera imóvel e os personagens estáticos em pontos específicos do enquadramento criam uma atmosfera de estranheza e alienação, enquanto a trilha sonora pesada contribui para amplificar a tensão emocional.
Lamparina da Aurora flerta com o suspense e o terror, mas transcende essas categorias ao explorar temas universais como a solidão, o desejo, a decadência dos corpos e a incomunicabilidade humana. O filme sugere uma infinidade de leituras possíveis, desde a circularidade do tempo até os efeitos da natureza e o peso da religião, convidando o espectador a se perder em um labirinto de significados e interpretações.
Embora possa ser considerado hermético demais para o espectador, o filme desafia as convenções do cinema contemporâneo e busca oferecer uma experiência cinematográfica única e provocativa. Com uma narrativa enérgica contrastada por imagens letárgicas, o filme cativa pela sua autenticidade e pela sua capacidade de instigar reflexões profundas sobre a condição humana e o mistério da existência.
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