Antonio Guimarães de Oliveira*
Em São Luís, temos um dia específico para celebrar nossos poetas (obras impregnadas de poesias), poesias (composições em versos livres e/ou providos de rimas), poemas (composições em versos ou algo que sugere ou evoca poemas, através da beleza e sensibilidade). Esta data trata-se de uma homenagem ao escritor e poeta ludovicense José Tribuzi Pinheiro Gomes, com pseudônimo de Bandeira Tribuzi, nascido no dia 2 de fevereiro de 1927. Projeto instituído, pelo vereador Marcial Lima, e aprovado amplamente por todos os edis, que compõem aquela casa.
Em nossas palestras, ou mesmo em parlatórios, salas de aulas, somos, muitas vezes, inquiridos: o que é ser poeta e criar poesias e poemas? Respondo-lhes: Embora a eternidade seja uma realidade, o fato é que se torna impossível compreendê-la, através de nossas mentes conturbadas de paixões, e isso de um todo nos empurra a um mundo mágico (interno). Torna-se às vezes, difícil, mas não impossível responder a tal pergunta, pois somos donos de nossas vontades, mas não dos nossos sentimentos. Eles simplesmente existem e se manifestam de forma peculiar. Mesmo diante das inúmeras dificuldades e impossibilidades, não existirá honra ou glória em deixar o sentimento fluir e se perder. O poeta é um capturador de sentimento. E usa as formas poéticas para retratar essa imensidão de “sentir”. É impossível desistir de escrever e de criar. Está na natureza humana. Desistir? Ora, isso é uma obra do acaso… Nesta minha bela cidade, por exemplo, constantemente, ando por ruas revestidas de pedras e ladrilhos. Com seus casarões, com ou sem eiras e beiras, somos “avivados” por sombras imortalizadas do passado: Antônio Gonçalves Dias e seu amor platônico por Ana Amélia, Joaquim de Sousa Andrade (Sousândrade), e seu errante e futuristico “O Guesa”, Maranhão Sobrinho, um boêmio inveterado e seus “Papéis Velhos”, Antônio Lôbo, um tísico suicida e sua “Carteira de um Neurastênico”, Raimundo Correia e seus “Primeiros Sonhos”, Bandeira Tribuzi e sua “Louvação a São Luís”, José Chagas e seus telhados e a sua “Maré Memória”, Ferreira Gullar e o “Poema Sujo”, Lago Burnett e sua “Estrela do Céu Perdido”, Erasmo Dias, fanho e com uma rapidez cerebral inigualável, Bernardo Almeida, com um cigarro Calton entre os dedos, vociferava “Éramos Felizes e Não Sabíamos”, Waldemiro Viana e seu “Graúna em Roça de Arroz”, Nauro Machado e a sua “Antibiótica Nomenclatura do Inferno”, Jomar Moraes, e seu “Encantador de Palavras”, Nascimento Morais Filho, e seus “Azulejos e Clamor da Hora Presente”, Carlos Cunha, e sua perfeição gramatical, dentre outros.
“Quero só uma flor
para dar à metafísica”
[Bandeira Tribuzi]
Pergunta-se: na Atenas Brasileira, ainda existem poetas? Sim, afirmo: poetas, poesias e poemas ainda marcantes, e com nomes, normas e estilos. Citarei nomes e constelações, que ainda orbitam entre nós, perdoe-nos as omissões não propositadamente, mas somente pela memória. Ei-los: José Maria Nascimento, Mhario Lincoln. Manoel Guimarães, Herbert de Jesus Santos, José Alexandre Júnior, Ewerton Neto, Laura Amélia, Ivan Sarney, Antonio Guimarães, Luis Augusto Cassas, Joselito Veiga, Francisco Baia (Aiab), Kleber Lago, Luísa Cantanhede, Paulo Melo e Sousa, Linda Barros, Danilo, Sharlene Serra, Eloy Melonio, Chico Tribuzi, Salgado Maranhão, GIlmar, Joãozinho Ribeiro, Roger Dageerre, Fernando Novaes, Florisvaldo Sousa, Ricardo Miranda Filho, José Eulálio Figueiredo, Joaquim Itapary, Josias Sobrinho, Lourival Serejo, Firmino Freitas, Couto, Aurora da Graça, Bruno Tomé Fonseca, Regis Furtado, Nicolau Fahd, Dilercy Aragão Adler, Júlia Emília, Albert Mont Blanc, Wanda Cunha, Cristiane Lago, Raimunda Frazão, Goreth Pereira, Rafaela Rocha, Sabryna Mendes, Roberto Franklin, Uilmar Junior, Carvalho Junior, Rogério Rocha, Arlete Nogueira da Cruz, Bioque Mesito, Antonio Aílton, Daniel Blume, José Neres, Sônia Almeida, Anely Guimarães, Alex Brasil, Rossini Corrêa, Arthur Prazeres, Fernando Reis, João Batista do Lago, Edomir Oliveira, Wescley Brito, Marcos Boa Fé, Nerlir, Pedro Neto, Kalynna Dacol, Adonay Ramos, Barrozo Braga, Evandro Júnior, Neurivan Sousa, Wybson Carvalho, Ivone Silva Oliveira, Nonato Reis, José Carlos Sanches, Carlos Alberto Lima Coelho, Mário Luna, Ceres Fernandes, Wilson Martins, Wilson Cerveira, Raimunda Frazão, Goreth, Bentivi, Antonio de Pádua Silva Sousa, Ferreira da Silva, Moisés Abílio (in memoriam), José Raimundo Gonçalves (in memoriam), Félix Alberto, Celso Borges (in memoriam), Nathan Sousa, Adriana Araújo, Paulo Rodrigues, Kissyan Castro, Rogério Du Maranhão, Augusto Pellegrini, Antônio Melo, Bruno Azevedo, Manuel da Cruz Evangelista e outros.
“Entrego minha alma ao céu de abril e à rebeldia”
[Bandeira Tribuzi]
Experienciamos “Os Antroponáuticos”e o “Parangolé”, e grandes grupos, formados em redes sociais, reuniões noturnas, bares e mesas nos Bairros Praia Grande e Desterro: Os Integrantes da Noite, e seus poemas marcantes, Os Vadios da Praia Grande, e os poemas impregnados por sabor alcoólico e fumo maldito ou não; Os Herdeiros de Madame Maroca, e seus e poemas lascivos ou lúbricos; Os Declamadores do Bar do Léo, com suas verves; Os Poetas da Praça dos Poetas, e suas declamações; Os poetas do Laços poéticos, e seus poemas líricos; O grupo Flores da Noite, e os “Xirizais”, do finado Oscar Frota; Grupo As Tertúlias, e seus poemas mórbidos, recheados de suas doenças crônicas e amores perdidos. Definimos ainda os poetas “Vendedores de Terrenos no Céu”, que excentricamente e literariamente, afloram suas mentes e fantasias nesse mundo.Temos ainda os anônimos, escondidos por pseudônimos, timidez ou mesmo por falta de oportunidade em publicar suas lavras.
Resta-nos continuarmos criando o melhor ou não, não importando quantas vezes caímos, pois levantaremos e lutaremos, vez que nossas belezas estão em nossas verves e vidas. Às vezes, poderemos acordar ou não nos amanheceres, com raios ou trovões, e constatarmos o esplendor do Universo, em uma obra do Criador, e que nunca nos faltem esperanças nesse novo amanhecer…
Antonio Guimarães de Oliveira – 02.02.2024 – São Luís-MA.
POEMA
Clara a manhã. Clara a serenidade
Branco o horizonte. O teu vestido branco
Puríssima a nuvem. A água nítida
Tua carícia já sem cor de diáfana
E se pousares a face em meu peito ou teus cabelos
traçarem no ar a ternura mais tépida
ficará sem limites e inconcreta a paisagem
onde meu coração somente será rubro
como a rubra malícia dos teus seios
[Bandeira Tribuzi, Alguma existência, 1948.
In: TRIBUZI, B. Poesia Reunida. SECMA/ALHUMBRA, 1986, p. 9]
Que beleza de texto, Antônio Guimarães! Oportuno e abrangente. Sem se preocupar com o palco e a plateia, você se posicionou na cena. E que cena! Cena que vem do passado e rasga o presente, com nomes de pessoas, lugares, momentos. Achei muito interessante a sua abordagem. Parabéns, poeta! E viva a poesia!
É verdade mesmo, Eloy, muito bom o texto do Antônio Guimarães, sensível, informativo, democrático e com amplitude, mesmo que no espaço da necessária concisão. Parabéns, Antônio, viva a poesia e seu(s) dia(s)!