OS VOOS, A TEORIA DO POEMA
Lila Maia
I.
Elefantes de prata e a coruja escondida
podem explicar estes círculos, estas retas
nos diversos lugares,
— um labirinto de estradas
para que o verso buscando outros tantos versos
não seja apenas o galo de uma manhã,
mas este leão possuído que devora e é devorado
pelos ruídos, pela linguagem que se pretende
clara, esdrúxula, sentida.
II.
O que de fato cabe no poema?
O rugido do leão? O chirriar da coruja?
Uuh, uuh,
que peso, rastros,
palavras impregnadas de lugares comuns
ainda conseguem ser espelhos?
III.
De que espelhos falo?
Desse desmoronamento das palavras grandes
que transbordam na página ou afundam de vez o poema?
IV.
Escrever com este uuh, uuh,
com navios que de repente não chegam a lugar nenhum.
Pois o poema é este caco de vidro que corta o inesperado
e penetra fundo até lambuzar de falsos lirismos
a tarde, o abismo.
LILA MAIA é maranhense e vive no Rio de Janeiro. Graduada em Pedagogia. Escreveu os livros de poemas: As Maçãs de Antes, (com esse livro ganhou o Prêmio Paraná de Literatura/2012 e foi semifinalista do Prêmio Portugal Telecom, hoje Oceanos). Céu Despido/ 2004 (vencedora do II Prêmio Literário Livraria Scortecci-SP) e A Idade das Águas/ 1997. Em 2013 ganhou o III Prêmio UFES de Literatura (Universidade Federal do Espírito Santo), na categoria Juvenil, com o livro de poemas O Coração Range Sob as Estrelas.
Demonstrou ser uma poeta com verve muita profunda. Belíssimo texto!