Sacada Literária

Cultura, crítica e divulgação

Alex Castro (1959) - Fonte: inconsequenti.blogspot.com

Poemas de Jorge Luís Borges, Paul Auster e Nietzsche – em traduções de Rogério Rocha

 

Traduções de Rogério Rocha*

 

Inscripción sepulcral

(Poema de Jorge Luis Borges)

 

 

Para mi bisabuelo, el coronel Isidoro Suárez

Dilató su valor sobre los Andes.
Contrastó montañas y ejércitos.
La audacia fue costumbre de su espada.
Impuso en la llanura de Junín
término venturoso a la batalla
y a las lanzas del Perú dio sangre española.
Escribió su censo de hazañas
en prosa rígida como los clarines belísonos.
Eligió el honroso destierro.
Ahora es un poco de ceniza y de gloria.

 

 

Jorge Luís Borges – Foto de Borges por Louis Monier, Paris-1979. Fonte: fundacionborges.com.ar

 

 

[Tradução 1]

Inscrição Sepulcral

 

Para meu bisavô, o coronel Isidoro Suárez

 

Espraiou sua coragem sobre os Andes.

Desafiou montanhas e exércitos.

A ousadia estava inscrita em sua espada.

Na planície de Junín, fincou, vitorioso,

o desfecho da batalha,

sujando de sangue espanhol as lanças do Peru.

Cravou suas proezas

numa prosa grave como clarins em guerra.

Escolheu o exílio honrado.

Agora é um punhado de cinzas e glória.

 

[Tradução 2]

Inscrição Funerária

 

Ao meu bisavô, coronel Isidoro Suárez

 

Estendeu seu valor como ponte sobre os Andes.

Confrontou montanhas e exércitos.

A espada era o hábito de sua audácia.

No campo de Junín, selou, triunfante,

o destino da batalha

e banhou em sangue espanhol as lanças peruanas.

Redigiu seus feitos heroicos

numa prosa firme como trombetas de combate.

Preferiu o digno exílio.

Hoje, é resto de cinza e de glória.

 

 

*

 

 

Um poema sem título

(de Paul Auster)

 

10.

 

Ice – means nothing

Is miracle, if it must

Be what will – you are the means

And the wound – opening

Out of ice, and the cadence through

Blunt Earth, when crows

Come to maraud, Whrever you walk, green

Speaks into you, and holds. Silence

Stands the winter eye to eye

With spring.

 

 

Paul Auster – Fonte: www.radiofrance.fr

 

[Versão 1]

 

Gelo – nada é por acaso

Se as coisas seguem seu rumo –

És sentido e ferida – aberta

Sobre o gelo, e a cadência pela

Terra bruta, quando os corvos

A vêm saquear. Por onde quer que

Caminhes, o verde, que o envolve,

Também fala em ti. O silêncio põe

O inverno diante da primavera.

 

 

[Versão 2]

 

Gelo – é que nada

É milagre, se tiver de ser

O que será – és o sentido

E a chaga – aberta

Ao frio, e o balanço

Que avança a terra trêmula,

Quando os corvos pousam

Para brilhar. Onde quer

Que caminhes, o verdor

Reverbera em ti, e o abraça.

O silêncio põe face a face

O inverno e a primavera.

 

[Versão 3]

 

Gelo significa que nada

É milagre, se está escrito

Que será – dentre caminhos

E estigma – aberto no gelo,

E o equilíbrio sobre a terra

Cega, quando os corvos

Vêm pilhar. Por onde vás,

O verde fala em ti, e o abraça.

O silêncio coloca o inverno

Olhos nos olhos com a primavera.

 

*

Ecce Homo

(Friedrich Wilhelm Nietzsche )

 

 

Ja! Ich weiß, woher ich stamme!
Ungesättigt gleich der Flamme
glühe und verzehr’ ich mich.
Licht wird alles, was ich fasse,
Kohle alles, was ich lasse:
Flamme bin ich sicherlich!

 

[Versão 1]

 

Sim, sou da ordem do fogo!
Indomável meu escopo,
Quando queimo sumo.
Deito tudo ao chão;
Enquanto devasto – então:
Eu sei quanto arde o fumo.

 

[Versão 2]

 

Eu sei, no sangue clama
Intragável chama,
No fogaréu sôfrego.
Envolto em gases rubros;
Quando há temor – os encubro:
É a fogueira a lamber meu ego.

 

 

Rogerio Rocha