[Pedido acerca do Prêmio Artístico e Literário Cidade de São Luís, ao prefeito Eduardo Braide, por ocasião da posse do seu segundo mandato, em 01/01/2025. Intenção de voz coletiva dos poetas e escritores de São Luís]
Excelentíssimo Senhor,
Prefeito Eduardo Braide,
merecidamente eleito
do povo desta cidade,
São Luís do Maranhão,
para que a todos agrade.
Prefeito não é perfeito,
disso nós todos sabemos.
Agradar a todo mundo,
nem o Jesus Nazareno!
Mas você já bem provou
que não é homem pequeno.
Pois, bem, Sr. Eduardo,
Prefeito de São Luís,
venho trazer um assunto
esquecido por quem quis
fazer da nossa cidade
um lugar menos feliz.
– Contudo permita, antes
do miolo da questão,
relembrar-lhe uma riqueza
deste nosso Maranhão,
que com certeza já guarda
dentro do seu coração.
Quero relembrar-lhe o imenso
poeta Nauro Machado.
Deve tê-lo visto andar
antes de ser transladado
e que hoje tem bela Praça
no Reviver do passado.
Também deve conhecer
um poeta festejado
por seus recentes 100 anos:
José Chagas foi chamado
o Cantor de São Luís,
de sobrados e telhados.
Falo apenas desses dois,
para não causar-lhe aresta.
Mas podia chamar uns cem
poetas para essa Festa,
ou mil versos da Athenas,
de panteão que inda resta.
Sabe qual o maior livro
escrito a esta Cidade
dos azulejos do tempo
para além da humanidade?
Certo, Os Canhões do Silêncio,
brado de uma eternidade.
Pois ali diz Chagas,
como eu e você:
“Ó minha cidade
deixa-me viver
a canção da saudade
nesse entardecer”!
E sabe qual o poeta
que maldisse São Luís,
pra nos revelar o quanto
ela tem de meretriz,
que se vende a qualquer custo
nos tornando seres gris?
“Ó terra má, flor de antraz,
mãe madrasta e meretriz,
dando à minha alma sem paz
o que eu tenho e nunca quis,
no corpo que ainda em mim jaz
pisando o chão de São Luís”
Nauro disse – embora nunca
deixasse a Ilha que amou.
E cuja ingratidão dos seus
governantes declarou,
porque mais nos revoltamos
contra os ingratos que amamos.
Mas também Chagas em seu
“Patrimônio da Humana Idade”
faz críticas de arrepiar
não importa a quem desagrade,
pois muitos não querem ouvir
o triste lado da verdade.
A verdade é que poetas
locais são desvalorizados,
sobrenadam em elogios
como se glorificados,
mas os vivos rapam prato
de recursos tão minguados.
Poeta nesta cidade
devia ser coroado,
pois assim deveria ser
todo o bem que nos foi dado
e este é um bem do Maranhão,
superando outros estados.
Pois, caro Sr. Prefeito,
fiquei só em dois poetas
porque são representantes
daquilo que nos afeta
que é do que quero tratar
para adentrar nossa meta.
Sabia que Os Canhões
do Silêncio assim chamado
por seu autor José Chagas
de plano tão elevado
foi por Lei em São Luís
sumamente publicado?
E que mesmo aquele grande
poeta Nauro Machado
também teve livros seus
na Cidade premiados?
Que o poder Municipal
cumpriu tão grande ordenado?
São exemplos, são exemplos!
E ainda este menino
que, puxando a cachorra,
por andar mais peregrino,
também recebeu a bênção
desse Prêmio, em seu destino,
podendo assim propalar
o seu livro tão sonhado
que de outro jeito, seus
poemas eram enterrados,
mas por conta do apoio
teve-os também publicados.
Pois desde ’cinquenta e cinco,
muito antes de nascerdes,
alguns tiveram a visão
de não deixar à mercê de
brutos irresponsáveis
a Poesia, nossa sede.
Então existe essa Lei
literária e artística
que se bem realizada
trará benesse política
que deveria ser cumprida
para não se tornar tísica.
Por que é que uma cidade
em vez de andar para a frente
há de andar para trás
feito calango demente?
A cabeça que não pensa
torna o corpo mais doente.
Recorro ao senhor, Prefeito,
– Eu e tantos outros mais
que esperam o seu olhar –
que restaure esse Concurso
pois nos fará bem demais.
Ao melhor do nosso estado
é mais um passo que dais.
Sabia que neste ano
[de 2025]
já completarão uns dez
que contamos com afinco
com o Edital que esperamos,
mas que a porta está no trinco?
Sabemos que há a FELIS
que também Lei se tornou;
que por ser mais portentosa
muita grana arrebatou
– Mas por que não coroá-la
com este alto louvor?
Ou espalhar mais vitórias
duas, três vezes por ano?
e elevar São Luís
em muitos diversos planos
porque o que nosso é vosso,
ganha o povo, e vosso é o ganho.
Desafio-o, Excelentíssimo
Senhor Prefeito Eduardo,
a tirar dessa cidade
esse tão estranho fardo
de cidade de poetas
que se esquece dos seus Bardos.
Sem mais delongas, Prefeito,
nosso Prêmio Literário
Cidade de São Luís
retome, em novo cenário…
Porque poderoso é o terno
mas, se um livro é eterno,
eterno é seu corolário!
Antonio Aílton, poeta e professor, em nome dos poetas, demais escritores e educadores de São Luís do Maranhão, em 01/01/2025, dia da posse de segundo mandato do Sr. Prefeito Eduardo Braide. Válida, outrossim, ao Sr. Secretário Municipal de Cultura, responsável imediato.
*
Antonio Aílton (1968) é Doutor em Teoria da literatura (UFPE). Publicou: A camiseta de Atlas (EDUFMA/FAPEMA, 2023), Ménage – Antologia trilíngue de poesia (Helvetia, 2020, em parceria com o poeta Sebastião Ribeiro); Cerzir – livro dos 50 (Poesia, Editora Penalux, 2019); Martelo & Flor: Horizontes da forma e da experiência na poesia brasileira contemporânea (EDUFMA, 2018); Compulsão agridoce (Poesia, Paco Editorial, 2015); Os dias perambulados & outros tOrtos girassóis (Prêmio Cidade do Recife. Fundação de Cultura do Recife, poesia, 2008); Humanologia do Eterno Empenho: conflito e movimento trágicos em A Travessia do Ródano de Nauro Machado (FUNC, Prêmio Cidade São Luis, ensaio 2003) e As habitações do Minotauro (FUNC, Prêmio cidade de São Luís, poesia, 2001). É atuante no panorama cultural da cidade de São Luís do Maranhão, membro da Academia Ludovicense de Letras e editor do portal Sacada Literária.
e-mail: [email protected]
JOSÉ NERES disse:
Magnífico texto. Acredito que ficamos muito tempo calados diante do descaso para com a cultura letrada é tratada. Desde o primeiro mandato do EHJ que o Concurso Cidade de São Luís foi relegado a último plano.
Com o cachê pago para algum desses cantores e bandas (de fora, claro) que “animam” as festas de nossa cidade daria para voltar a fazer o Concurso. Mas falta vontade política e reina o desinteresse pela literatura local.
Infelizmente, tudo sob os nossos olhos.
Obrigado pelas palavras e consideração, caro escritor/poeta, professor J. Neres, que dão a certeza de que estamos no caminho certo ao reivindicarmos aquilo que nos é de direito. Não é mais possível nos calarmos diante do descaso como a literatura e as artes em geral têm sido tratadas, em relação às iniciativas do Município. Importante quando você lembra o volume estratosférico de recursos pagos a cantores e bandas de fora, e que uma razoável parte disso já daria para realizar este Concurso. A AML tem feito a sua parte, como bem lembra Laura Amélia, tomado a frente, a ALL também, porém queremos o nosso Concurso Literário Cidade de São Luís, com sua importância e suas pelo menos10 modalidades de volta!
a. Prêmio Aluízio Azevedo, Categoria Romance;
b. Prêmio Antônio Lopes, Categoria Ensaios;
c. Prêmio Arthur Azevedo, Categoria Peça Teatral;
d. Prêmio Coelho Neto, Categoria Contos;
e. Prêmio Dona Carochinha, Categoria Literatura Infantojuvenil;
f. Prêmio Graça Aranha, Categoria Novela
g. Prêmio João Lisboa, Categoria Jornalismo Literário.
h. Prêmio Sousândrade, Categoria Poesia;
i. Prêmio Humberto de Campos, Categoria Crônicas;
j. Prêmio Ribamar Lopes, Categoria Literatura Cordel.
VIRIATO GASPAR disse:
Lembro, meu querido irmão Antônio Ailton, que eu também comecei minha trajetória literária, em nossa Ilha, vencendo o Prêmio Sousândrade, pouco antes de completar 18 anos, com meu livro Teodisséia, que depois nem publiquei, por achá-lo ainda muito incipiente e desigual. E tornei a ganhar esse mesmo honroso Prêmio, se não me falha a memória, em 1972, com meus rabiscos sonetais. Esse Concurso Cidade de São Luís é uma necessidade absoluta, uma oportunidade para que novos talentos sejam revelados e, de outra parte, um incentivo aos que se iniciam na aventura das letras. Endosso plena e totalmente tuas palavras. Precisamos trazer de volta esse Concurso. São Luís precisa. São Luís merece.
Viriato Gaspar
Que fantástica essa história, Viriato! Para mim, um concurso absolutamente necessário, pois já revelou grandes nomes da nossa literatura mais atual, como agora também sei do teu, tem o José Maria Nascimento, e tanta gente boa, porque essa é a sua razão de existir!
Competentíssimo e imprescindível texto, aceite meus parabéns Dr. e Escritor Antônio Ailton!
ALBERICO CARNEIRO disse:
Infelizmente, esse Concurso, que era nota 1000, que oferecia excelentes premiações, que revelou José Chagas, Nauro Machado, Ubiratan Teixeira, Viriato Gaspar e, inclusive este servo que vos fala, com um prêmio de contos, parece-me que sob o título, Homens Caramujos ou Palafitas.
Não é saudosismo ou nostalgia não. É a comprovação absoluta da m… em que
os últimos desgovernos do Maranhão afinaram a principal expressão cultural que sempre definiu o Maranhão, a Literatura.
Temos tido a zebra de prefeitos e governadores,
cujas assessorias de cultura são marcadas pelo analfabetismo literário.
Como diria Boris Casoi: Isso é uma vergonha!
NATAN CAMPOS disse:
Vale lembrar que, por razões idênticas, ano passado Américo Azevedo Neto (Grupo Kazumbá de Teatro) lutou pelo devido respeito e incentivo cultural acampando em frente a sede da SECMA. Descaso total pela cultura letrada do nosso lugar.