Sacada Literária

Cultura, crítica e divulgação

Prefeitura de São Luís, com capas de livros de Nauro Machado e José Chagas

Carta ao Excelentíssimo Sr. Prefeito de São Luís, EDUARDO BRAIDE – versão

[Pedido acerca do Prêmio Artístico e Literário Cidade de São Luís, ao prefeito Eduardo Braide, por ocasião da posse do seu segundo mandato, em 01/01/2025. Intenção de voz coletiva dos poetas e escritores de São Luís]

 

 

Excelentíssimo Senhor,

Prefeito Eduardo Braide,

merecidamente eleito

do povo desta cidade,

São Luís do Maranhão,

para que a todos agrade.

 

Prefeito não é perfeito,

disso nós todos sabemos.

Agradar a todo mundo,

nem o Jesus Nazareno!

Mas você já bem provou

que não é homem pequeno.

 

Pois, bem, Sr. Eduardo,

Prefeito de São Luís,

venho trazer um assunto

esquecido por quem quis

fazer da nossa cidade

um lugar menos feliz.

 

– Contudo permita, antes

do miolo da questão,

relembrar-lhe uma riqueza

deste nosso Maranhão,

que com certeza já guarda

dentro do seu coração.

 

Expediente do livro A Travessia do Ródano, premiado no Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís, em 1996 (Em geral o livro era publicado no ano seguinte ao da premiação). Prefeito: Jackson Lago. FUNC: Joãozinho Ribeiro e Nelson Brito.

Quero relembrar-lhe o imenso

poeta Nauro Machado.

Deve tê-lo visto andar

antes de ser transladado

e que hoje tem bela Praça

no Reviver do passado.

 

Também deve conhecer

um poeta festejado

por seus recentes 100 anos:

José Chagas foi chamado

o Cantor de São Luís,

de sobrados e telhados.

 

Falo apenas desses dois,

para não causar-lhe aresta.

Mas podia chamar uns cem

poetas para essa Festa,

ou mil versos da Athenas,

de panteão que inda resta.

 

Sabe qual o maior livro

escrito a esta Cidade

dos azulejos do tempo

para além da humanidade?

Certo, Os Canhões do Silêncio,

brado de uma eternidade.

 

Capa da 1ª  edição de Os Canhões do Silêncio, de José Chagas
Capa da 3ª edição de Os Canhões do Silêncio, de José Chagas

Pois ali diz Chagas,

como eu e você:

“Ó minha cidade

deixa-me viver

a canção da saudade

nesse entardecer”!

 

E sabe qual o poeta

que maldisse São Luís,

pra nos revelar o quanto

ela tem de meretriz,

que se vende a qualquer custo

nos tornando seres gris?

 

“Ó terra má, flor de antraz,

mãe madrasta e meretriz,

dando à minha alma sem paz

o que eu tenho e nunca quis,

no corpo que ainda em mim jaz

pisando o chão de São Luís”

 

Nauro disse – embora nunca

deixasse a Ilha que amou.

E cuja ingratidão dos seus

governantes declarou,

porque mais nos revoltamos

contra os ingratos que amamos.

 

Mas também Chagas em seu

“Patrimônio da Humana Idade”

faz críticas de arrepiar

não importa a quem desagrade,

pois muitos não querem ouvir

o triste lado da verdade.

 

A verdade é que poetas

locais são desvalorizados,

sobrenadam em elogios

como se glorificados,

mas os vivos rapam prato

de recursos tão minguados.

 

Poeta nesta cidade

devia ser coroado,

pois assim deveria ser

todo o bem que nos foi dado

e este é um bem do Maranhão,

superando outros estados.

 

Pois, caro Sr. Prefeito,

fiquei só em dois poetas

porque são representantes

daquilo que nos afeta

que é do que quero tratar

para adentrar nossa meta.

 

Sabia que Os Canhões

do Silêncio assim chamado

por seu autor José Chagas

de plano tão elevado

foi por Lei em São Luís

sumamente publicado?

 

E que mesmo aquele grande

poeta Nauro Machado

também teve livros seus

na Cidade premiados?

Que o poder Municipal

cumpriu tão grande ordenado?

 

São exemplos, são exemplos!

E ainda este menino

que, puxando a cachorra,

por andar mais peregrino,

também recebeu a bênção

desse Prêmio, em seu destino,

 

Expediente do livro As Habitações do Minotauro, premiado no Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís, em 2000. Prefeito: Jackson Lago. FUNC: Nelson Brito e Josias Sobrinho.

podendo assim propalar

o seu livro tão sonhado

que de outro jeito, seus

poemas eram enterrados,

mas por conta do apoio

teve-os também publicados.

 

Pois desde  ’cinquenta e cinco,

muito antes de nascerdes,

alguns tiveram a visão

de não deixar à mercê de

brutos irresponsáveis

a Poesia, nossa sede.

 

Então existe essa Lei

literária e artística

que se bem realizada

trará benesse política

que deveria ser cumprida

para não se tornar tísica.

 

Por que é que uma cidade

em vez de andar para a frente

há de andar para trás

feito calango demente?

A cabeça que não pensa

torna o corpo mais doente.

 

Recorro ao senhor, Prefeito,

– Eu e tantos outros mais

que esperam o seu olhar –

que restaure esse Concurso

pois nos fará bem demais.

Ao melhor do nosso estado

é mais um passo que dais.

 

Sabia que neste ano

[de 2025]

já completarão uns dez

que contamos com afinco

com o Edital que esperamos,

mas que a porta está no trinco?

 

Sabemos que há a FELIS

que também Lei se tornou;

que por ser mais portentosa

muita grana arrebatou

– Mas por que não coroá-la

com este alto louvor?

 

Ou espalhar mais vitórias

duas, três vezes por ano?

e elevar São Luís

em muitos diversos planos

porque o que nosso é vosso,

ganha o povo, e vosso é o ganho.

 

Desafio-o, Excelentíssimo

Senhor Prefeito Eduardo,

a tirar dessa cidade

esse tão estranho fardo

de cidade de poetas

que se esquece dos seus Bardos.

 

Sem mais delongas, Prefeito,

nosso Prêmio Literário

Cidade de São Luís

retome, em novo cenário…

Porque poderoso é o terno

mas, se um livro é eterno,

eterno é seu corolário!

 

 

Antonio Aílton, poeta e professor, em nome dos poetas, demais escritores e educadores de São Luís do Maranhão, em 01/01/2025, dia da posse de segundo mandato do Sr. Prefeito Eduardo Braide. Válida, outrossim, ao Sr. Secretário Municipal de Cultura, responsável imediato.

 

*

 

Antonio Aílton (1968)  é Doutor em Teoria da literatura (UFPE). Publicou: A camiseta de Atlas (EDUFMA/FAPEMA, 2023), Ménage – Antologia trilíngue de poesia (Helvetia, 2020, em parceria com o poeta Sebastião Ribeiro); Cerzir – livro dos 50 (Poesia, Editora Penalux, 2019); Martelo & Flor: Horizontes da forma e da experiência na poesia brasileira contemporânea (EDUFMA, 2018); Compulsão agridoce (Poesia, Paco Editorial, 2015); Os dias perambulados & outros tOrtos girassóis (Prêmio Cidade do Recife. Fundação de Cultura do Recife, poesia, 2008); Humanologia do Eterno Empenho: conflito e movimento trágicos em A Travessia do Ródano de Nauro Machado (FUNC, Prêmio Cidade São Luis, ensaio 2003) e As habitações do Minotauro (FUNC, Prêmio cidade de São Luís, poesia, 2001). É atuante no panorama cultural da cidade de São Luís do Maranhão, membro da Academia Ludovicense de Letras e editor do portal Sacada Literária.

e-mail: [email protected]