Sacada Literária

Cultura, crítica e divulgação

Alberico Carneiro, poeta, romancista e editor - foto: divulgação

ALBERICO CARNEIRO – especial 80 anos – entrevistado por ANTONIO AÍLTON

ANTONIO AÍLTON ENTREVISTA

O POETA E EDITOR

ALBERICO CARNEIRO

 

Alberico Carneiro nasceu em Primeira Cruz – MA, 15 de maio de 1945. Poeta e romancista brasileiro. Editor, por muitos anos, do Suplemento Literário e Cultural JP Guesa Errante, suplemento cultural e literário do Jornal Pequeno. Dirigiu o setor de Editoração e Assuntos Culturais do Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado (SIOGE), tendo criado, na entidade, o suplemento Vagalume, em 1988, órgão premiado nacionalmente. É o autor de, entre outros títulos, O diário de um alcoólatra (1973), O Andrógino (1975), O Jogo das Serpentes (1985), As Damas Negras em Noite de Núpcias (1994), Ilha do Amor: tratado do amor natural (2013). Alberico é um poeta profícuo e possui vários livros inéditos.

 

 

Capa de Ilha do Amor – Tratado do amor natural

 

  1. Antonio Aílton – Alberico Carneiro, você acaba de completar 80 anos. Transformou-se num “octógono”, como você diz, brincando com o “octogenário”. É certamente a amplitude do vivido, um acervo íntimo de experiências. Qual o significado íntimo desses 80 anos, em termos de experiência vital, gozo, doação e plantio para o mundo?

Alberico Carneiro – Aprendi com a maturidade ou com a experiência que a pressa é inimiga da criação, da invenção e que a maturidade é um resultado, que se tem, após várias leituras de si mesmo e do mundo. As leituras acontecem, suspeito, na gestação, em família, em salas de aulas, durante viagens territoriais ou geográficas ou através de estudos ou leituras de livros, de filmes, de composições musicais, de conversas, diálogos, da Natureza e das artes em geral; através da leitura da alegria e da dor; do bom humor e da bílis; das temporadas na zona de conforto e fora dela; através da convivência com o amor e a vivência com a solidão. Basicamente, somos produto dos desafios das leituras de fora e dentro da essência do ser, para uma consciência de fome e sede, de pobreza e riqueza, de extrema miséria e riqueza físicas e espirituais, cujos desdobramentos incidem sobre personalidade, moral, caráter, senso de dignidade, respeito mútuo, contemplando o si mesmo e o próximo, os semelhantes, os dessemelhantes e os que, por convenção, consideramos diferentes.

Enfim, a maturidade propõe a leitura da vivência sobre o que, quanto mais estudamos, muito pouco sabemos, existência e morte. Fundamental: ouvir mais e falar menos, usando o recurso da sabedoria do silêncio, como forma de reflexão sobre a fala, a palavra do outro. Às vezes, é necessário retornar à sabedoria da ignorância plena, primacial, para poder usar a máxima do poeta espanhol João da Cruz, “Para ser pleno é necessário, antes, esvaziar-se”.

Por último, não acredito no que me fazem pensar sobre outras pessoas, antes de conhecê-las. Há mais surpresas no conhecimento do que nas ficções. Eu nasci num lugar simples, no hoje, município de Primeira Cruz, em 15 de maio de 1945, e estou ligado à Terra Natal, pelas folhas da placenta e pelo cordão umbilical. E a minha biografia decorre daí, da minha infância, de onde me vem a energia de viver nos altos ou baixos da viagem humana, de maneira inarredável. Quando me sinto à mercê ou refém de fragilidades, é na criança do Arquipélago do Farol de Sant’Ana, de Primeira Cruz, que recarrego as energias, acompanhado por Mirugodém.


  1. O que tem sido a poesia para ti, ao longo dos anos em que você foi tomado para seu caminho. Em que momento houve o encontro com ela, como se deu isso, e qual tem sido o seu papel em tua vida, desde então.

Alberico Carneiro – A poesia para mim é como uma entidade que me complementa, extensão de um outro eu que criei para me dar suporte de sobrevivência espiritual, subjetiva, anímica, emocional, por fora da realidade cronológica. Aconteceu, quando tive consciência do stress da rotina e necessitei criar, paralelamente à vida cotidiana, uma persona de ficção, como forma de poder sustentar alguns trampos do cotidiano.  Sem a ficção, a vida é insuportável. Acho que Nietzsche, Fernando Pessoa e Ferreira Gullar disseram isso de outra maneira.

  

  1. Antonio Aílton – Na estrofe de um poema seu, “Simulacro”, você diz, poeticamente, é claro, numa belíssima síntese: “Sou quem me inventei./ O real não existo./ Coroai-me rei, serei rei/ como todos, protagonista”. Como você percebe sua contribuição e seu protagonismo para as nossas letras e para nossa cultura de modo geral, dentro desse olhar sincero, com simplicidade, mas sem falsa modéstia, que você sempre cultivou?

Alberico Carneiro – A hora do fazer poético se constitui de solidão e silêncio. É como num parto. O poeta gera, concebe, gesta, dá à luz e, depois, cria. É um processo entre o criador e o ser criado, como na Criação do universo por Deus, a partir do nada, daí porque o poeta, em essência, quer dizer, não a pessoa, mas o Vate, desse ponto de vista, é, como réplica, um deus.  A literatura para mim é vanguarda e, também, é válida como tal. Creio que a palavra chave para um resultado bom é inventar (invenção): Non nova, sede nove. ( Não novo, mas diferente). Às vezes, como tantos escritores, vivo com um tema na cabeça por longo tempo. Sou aquele catador de tichas, baganas, bitocas e guimbas da madrugada, que o sol descarta ao crepúsculo, no chão de folhas mortas. Gosto de quando o estalo vem e acendo uma dessas guimbas, para viver o quanto é caro o barato do baseado da invenção. Para mim, a poesia tem a missão de salvar pessoas de situações difíceis, não só a poesia das palavras. Se ela mata, então, Deus não é poeta. A minha contribuição é esta, como sugestão: – Rale, crie, invente e se reinvente, quer dizer, faça seus próprios sulcos com os próprios pés. Sem o simulacro a arte está irremediavelmente perdida.

 

  1. Antonio Aílton – Qual sua compreensão sobre o papel da literatura, especialmente da poesia, hoje, em termos de Brasil e de Maranhão?

Alberico Carneiro – Houve quem dissesse que a poesia não serve para nada. Talvez alguns poemas não sirvam para nada. Mas a poesia, que é obra de criação, de inspiração, iluminação, epifania e insight é tudo que nos restou para peitar a morte, pois a poesia nos tira do tempo cronológico e nos põe no fluxo da memória, que anula as unidades de tempo. E quando ela é colocada em alguma forma de arte, constitui um tesouro sem precedentes. Acho que Bergson, quando criou a teoria do tempo psicológico, deu leveza a todas as formas de arte. Sei que há os polemos, as polêmicas de Heráclito, um gênio de quem muito gosto, como poeta. É dessa poesia, que o Maranhão e o Brasil nos deram e dão, que nos amamentam com o melhor colostro. Falei sobre o assunto em algumas páginas do Vagalume e do JP Guesa Errante. Se o Governo do Estado e o Municipal, de São Luís, investissem 1% do que gastam em propaganda, em Literatura, com certeza, estaríamos no ranking dos melhores holofotes. Mas Literatura não é diversão, distração e entretenimento, então, como não dá voto aleatoriamente, aqui, estamos no mato, os cachorros contra nós.     

 

  1. Antonio Aílton – Como professor de Língua e de Literatura, você já ensinou em cursinhos, em universidades, como a UEMA, mas tem educado também os poetas. Um dos pontos que você enfatiza é a necessidade de diferenciarmos POESIA de POEMA. Como você concebe essa diferença, e quais os equívocos que o poeta pode cometer, a esse respeito?

Alberico Carneiro – Se um poeta põe poesia de excelência em seus poemas, não vai mudar nada se ele disser que seus textos são poemas ou poesias. O contraditório que lanço, em relação a esses estatutos, são mais uma questão de considerar matéria e memória distintas, o que a Teoria Literária e a História da Literatura endossam. A forma é material; a expressão é intangível, indizível. A Poética, de Aristóteles; Defesa da poesia, de Sir Philip Sidney, Uma defesa da poesia, de Percy Bysshe Shelley e o ABC da literatura e A arte da poesia, de Ezra Pound, A poética do silêncio, de Modesto Carone, A dor dorme com as palavras, Mariana Camilo de Oliveira, A obscuridade da poética de Paul Celan, discutem bem o assunto, que é, às vezes, controverso. Mas não vamos fechar a questão. Pessoalmente, só me detive nesse quesito, porque, como aluno e professor preciso delimitar certos pressupostos.

 

  1. Antonio Aílton – Fale-nos um pouco sobre a escrita e as propostas estéticas que você quis apresentar no percurso que vai de O andrógino (1975) ao sensivelmente erótico A Ilha do Amor (2013), passando pelo O jogo das serpentes (1985).

 

Capa do romance O andrógino, de Alberico Carneiro

Alberico Carneiro – Antes, publiquei O diário de um alcoólatra, cujo título original era O homem caramujo, com o qual concorri ao Concurso Cidade de São Luís e fui premiado. Não é um diário. Esse título foi um equívoco. O jogo das serpentes já tem alguns poemas seminais. Ilha do amor é uma obra de gêneros mistos, da qual gosto muito. O Andrógeno, confesso, foi um romance que fiz por desafio de conversa com uma cineasta paulista, que foi minha colega, na Faculdade de Letras, em São Luís, lá pelos idos de 1969. Seria um roteiro cinematográfico. O texto prova isso. Eu ainda não tinha senso de autocrítica, nem sabia fazer roteiro cinematográfico. Para sobreviver, fui professor por quase toda minha vida. A partir de 1988, quando fiz Mestrado UEMA/UFRJ, do qual não defendi Dissertação, portanto não concluí, após assistir às aulas de professores brilhantes, como Fred Góes, tudo mudou, do vinho para a água. Mas todos meus livros são filhos da persona literária que criei para meus escritos. Eu os amo a todos, principalmente os mais frágeis. Também há um outro livro de poemas, Um cão só plumas, 183 p., incluído no Memorial de Primeira Cruz, tomo n. 2., 1999. E há o tomo I, do Memorial de Primeira Cruz, 1998. Quanto a minha inquietação com as formas, tem explicação. Sou fruto do Litoral de Primeira Cruz, onde o povo, essencialmente, inventa línguas e estórias. O que escrevo tem a ver com a oralidade. E eu sou, com prazer, fruto desse berço, criador de neologismos, tiras, gírias, lendas, mitos. Tudo, absolutamente tudo, em mim, vem dessas raízes.

 

  1. Antonio Aílton – Alberico, vejo você na vivência da prosa e, sobretudo da poesia, como alguém inquieto em relação à criação artística, que está sempre atualizado, promovendo a inovação, educando, buscando a conexão com o presente e com futuro. Qual tem sido o teu caminho de criação/produção mais recente, e teus projetos de escrita? O que podemos esperar?
Capa de O diáriao de um alcoólatra – Alberico Carneiro

Alberico Carneiro – Quando comecei a deixar de ser professor, comecei, de fato, a me dedicar ao escritor. Aí minha cabeça passou a ser um laboratório da escrita. Isso lá por 1988, na época do curso de Mestrado. Aposto, a partir daí, do Ilha do Amor e de outros trabalhos mais recentes, inéditos, numa safra e colheita melhor, como em Um grão de nós, Viagem ao condomínio dos neurônios, Os subterrâneos do celeiro etc. Em prosa, há o material do Vagalume e do JP Guesa Errante, além de um romance, Até que a morte nos separe, na gaveta. Com esse texto, recebi carta de classificação entre os 30 finalistas do Concurso Casa de las Américas. Creio que nos anos de 1980.

 

  1. Antonio Aílton – Você sempre foi o nosso grande editor de suplementos. Chegou a receber prêmios fora do Maranhão pelo talvez maior suplemento cultural e literário que já houve aqui, o Também editou por anos o fenomenal Guesa Errante, no Jornal Pequeno, com a saudosa Josilda Bogéa e colaboradores. Qual a importância desses trabalhos para tua vida e qual o significado desses suplementos para a história da literatura e da cultura no Maranhão?

Alberico Carneiro – Nos Suplementos Culturais & Literários, Vagalume, e JP Guesa Errante, estão 21 anos de dedicação às letras maranhenses, da minha parte e de outras pessoas, entre elas, o saudoso Jorge Nascimento; o saudoso jornalista, escritor e cinéfilo José Frazão, Wilson Martins e Maria José Vale de Oliveira, no caso do Vagalume e, no caso do JP Guesa Errante, a saudosa professora e jornalista Josilda Bogéa Anchieta, o jornalista, compositor, cantor e escritor, poeta Cesar Teixeira, o cineasta Frederico Machado, Antonio Aílton, Bioque Mesito, o cinéfilo Vicente Júnior, Celso Borges, Ricardo Leão, além de outros.

Capa do Suplemento Vagalume – Ano V, n. 16, out./nov. 1992.

 

Capa Suplemento Literário e Cultural JP Guesa Errrante – anuário 3, 2005.
  1. Antonio Aílton – Além dos nossos próprios esforços com aquilo que criamos, ofertamos e fazemos, enquanto escrita e criação, o que nos falta, em relação ao poder público e privado, num estado como o Maranhão?

Alberico Carneiro – Nas últimas duas décadas, depois que o SIOGE foi extinto por Decreto, em 1994, quer dizer, o Serviço de Obras Gráficas e ficou só o de Imprensa, o Diário Oficial, vivemos um momento de decadência de incentivos, quer dizer, na contramão da História. Tivemos os áureos tempos também do Concurso Cidade de São Luís, da Prefeitura Municipal da Capital do Maranhão. Não temos mais o Concurso da SECMA, como uma expressão capaz de estimular os amantes das palavras. Falta sensibilidade em relação ao que pôs o nome do Maranhão, no topo, no Brasil e em Portugal, a Literatura. Faltam escritores, como gestores nas instituições culturais. Como disse o saudoso escritor Bernardo Coelho de Almeida, éramos felizes e não sabíamos. Verdade. Quando a Literatura Maranhense teve como gestores Arlete Nogueira da Cruz Machado, Bernardo Coelho de Almeida, Reginaldo Teles, Jomar Moraes, Benedito Buzar, Lino Moreira, Laura Amélia Damous a Literatura foi prioridade. 

 

  1. Antonio Aílton – Que recado você deixa aqui à leitora, ao leitor? Que poema do teu coração você nos deixaria aqui, como selo de abraço da tua poética?

Alberico Carneiro – As leitoras e os leitores são para os autores e suas obras de criação literária, como os seres humanos em relação a Deus, isto é, sem os seres humanos Deus não existe, embora exista. Assim, também, acontece com os livros, que hospedam protagonistas, personagens e figurantes, que dormem em prateleiras de estantes de bibliotecas ou livrarias. São cadáveres que precisam de alguém que os abra e ressuscite. E esse papel de messias dos livros só é desempenhado pelos leitores/leitoras, que são coautores, pois a poesia só passa a existir, quando alguém a acessa, via leitura. Sim, aí a poesia estará em seu devido lugar ou espaço, não no texto lido ou no leitor, mas entre estes entes, num subtexto que cada leitor cria e em que se torna porta voz da mensagem dos livros lidos, já transformados em lázaros. E os poemas de meu coração que deixo para leitoras e leitores são alguns inéditos de que se podem tornar coautores, se publicados e lidos.

 

 

Poemas

(Inéditos de 2021 a 2025)

 

 

A poesia

 

A poesia não mora. Ela namora.

Quem mora é o poema.

A poesia não tem casa,

só tem caso e esporádico, sem

vínculo de casamento.

 

A vantagem de ser invisível é

poder entrar numa página e,

se preciso, se for imprescindível,

fugir do excesso de vocábulos.

 

Sem som, nem imagem e

nem imaginem a poesia se

hospedar apenas em

palavras, palavras, palavras, palavras.

 

A poesia, no entanto, per

                       segue os cegos até

descobrirem que o indizível

não tem cor

                    po

                    esia

                    não

                    tem

                    cor

                    po,

                    só

                    se

                    cor

                    po,

                    on

                    de

                    se

                    hos

                    pe

de

 

 

(Poema inédito, 2024, in Mirugodém)

 

 

Ucrânia    

06-03-2022

 

Ainda não há uma fórmula fácil sobre viver.

Espero que ninguém a esteja procurando.

Enquanto isso, os irracionais apostam em sobreviver.

 

Há dias de sol e outros nublados.

Nada mais elementar do que uma incerteza.

Sem alternância, você não veria a Lua

descendo e subindo para os quartos

de suas fases de festas noturnas.

 

Há hipótese e dúvida em cada projeto e

a única certeza é que ainda não há

certeza sobre coisa alguma.

 

É provável que Sísifo saiba

que não há uma segunda via e

que o plano B é

apenas um amortecedor camicase.

 

O improvável é a base da lei das probabilidades e

a esperança continua mantendo o alarme falso

sobre a existência de

para quedas, estepes ou airbags.

 

Para quase 8 bilhões de pessoas atônitas,

ainda não caiu a ficha sobre como

um único homem pode operar igual ao Corona Vírus.

 

Estupefato, o mundo não entende o êxodo e o exílio

de um pedaço do coração da Ucrânia.

 

(Poema inédito, 2022, in O Orobus)

                                              

Camicase            

06-08-2023

 

Subir, sem tal

vez seja fácil.

Alguém não sabe

que todos os degraus

são falsos?

 

Salto.

O pulo não é prática

exclusiva

de camicases.

 

Minha natureza está

em quando

o para

quedas não

abre

no voo em queda

livre,

quando não há

amor

tece

dores

de amizades.

 

2

O que você leva

dessa leva de terra

de sua gleba de sete léguas?

 

O que você leva

do planeta Terra,

além dos sete palmos,

onde seu corpo, também,

como os corpos de todos,

ficará sob silêncio e treva?

 

Por que, então, em vida,

você zomba dos demais,

como se fosse uma exceção à regra,

embora finja ignorar que não,

sob máscara de bagagem quilométrica?

 

Pense em sua alma,

que precisa estar leve, livre

para dar curso à jornada da alma,

sem cacarecos.

 

Só o amor te dá luz,

na hora do silêncio enorme

da solidão da morte.

 

Então, suba ao palco do teatro da vida, apenas

para representar o seu papel e

deixar algum recado,

para fazer funcionar e valer a pena

a continuação do espetáculo.

 

(Poema inédito, in Amarcura)

 

 

 

 

 

 

 

*

 

 

Antonio Aílton, entrevistador, é poeta, crítico literário, pesquisador, autor de MARTELO & FLOR: Horizontes da forma e da experiência contemporânea.