HOMEOSTASE
a despeito de qualquer desmembramento
trauma límbico
autonomia do hipocampo
aplacando o absurdo
talhada pelo amor
palavra sem margem
condenada à contextura
do destino
uma mulher
não acaba
anárquica
quiasmática
atlântica
homeostática
engendrando sentidos
(por não ter nada além de si)
irrompe a própria caixa torácica
faz daquilo que fica
o filete de contato
entre o pulso e os dedos.
SÍSMICO
munida de tudo
o que contém em si
a possibilidade de interpretar
meus sobressaltos
fraquejo
sempre a serviço de qualquer fogo
sei do que é feita a agonia
dos interstícios
de adivinhar confusa
o secreto das coisas que esmeram perfeição
algum brilho
poemas, perfumes, milagres
agarrada à sombra do teu amor
carência de sustento aos meus pés.
ABOLOLÔ
por força do hábito
equívoco
teimosia
masoquismo
fulgor de abril
simbiose
rotina
vício
fatalismo
insulamento dominical
magia
por afrontamento do desejo
para manter os olhos abertos
depois de ter visto num sonho
quanta surpresa se acharia
ante a dispensável necessidade de explicação
posto que não é enigma
penso em você
e sei dos tormentos
de circunstância
FORESHADOWING
como esquecer um movimento
manejar
o que nunca foi ruína
maturar o tempo
conjurar cenas
pôr de tocaia
o verso
sob o cashmere da palavra puída
profusão de verbos e sons
não prejudica os sentidos
uma língua a menos
para falar
léxico vasto o suficiente
para saber
a memória está para o imperecível
como as mãos estão
para esse futuro de antigos.
Déborah Arruda é nascida, criada e nutrida pelo sol e pelo solo de São Luís do Maranhão. Mestra e graduada em Ciências Sociais. Pesquisadora. Atua com direitos humanos e políticas públicas. Escreve para compensar a memória ruim e pela aversão ao grito. Mulher. E, também por isso, engrenagem.
COMENTÁRIO POSTADO A PEDIDO DO POETA *HAGAMENON DE JESUS*:
Para mim, que já havia lido alguns textos de Déborah Arruda, estes publicados pelo Sacada, por esse ubíquo e workaholic da poesia, meu irmão Aílton, só me dá a certeza (e a satisfação) de reafirmar que um verdadeiro poeta se sabe logo na primeira lida. Todos os demais não são nada mais que esperada e mera confirmação. Obrigado Déborah Arruda, obrigado Antonio Aílton por mais alguns talentosos momentos de poesia (nesta noite em que eu só trabalho, nada além que trabalho…). É que também eu “sei do que é feita a agonia” e “dos tormentos da circunstância”. Um abração, e obrigado de novo. H