Sacada Literária

Cultura, crítica e divulgação

Roberto Bolaño - Fonte: Blog Alfredo Monte

Sucio, mal vestido (Roberto Bolaño)

En el camino de los perros mi alma encontró
a mi corazón. Destrozado, pero vivo,
sucio, mal vestido y lleno de amor.
En el camino de los perros, allí donde no quiere ir nadie.
Un camino que sólo recorren los poetas
cuando ya no les queda nada por hacer.
¡Pero yo tenía tantas cosas que hacer todavía!
Y sin embargo allí estaba: haciéndome matar
por las hormigas rojas y también
por las hormigas negras, recorriendo las aldeas
vacías: el espanto que se elevaba
hasta tocar las estrellas.
Un chileno educado en México lo puede soportar todo,
pensaba, pero no era verdad.
Por las noches mi corazón lloraba. El río del ser, decían
unos labios afiebrados que luego descubrí eran los míos,
el río del ser, el río del ser, el éxtasis
que se pliega en la ribera de estas aldeas abandonadas.
Sumulistas y teólogos, adivinadores
y salteadores de caminos emergieron
como realidades acuáticas en medio de una realidad metálica.
Sólo la fiebre y la poesía provocan visiones.
Sólo el amor y la memoria.
No estos caminos ni estas llanuras.
No estos laberintos.
Hasta que por fin mi alma encontró a mi corazón.
Estaba enfermo, es cierto, pero estaba vivo.
Soñé con detectives helados en el gran
refrigerador de Los Ángeles
en el gran refrigerador de México D.F.

 

 

SUJO, MAL VESTIDO (Roberto Bolaño)

 

No caminho dos cães, minha alma encontrou

o meu coração. Despedaçado, porém vivo,

sujo, mal vestido e repleto de amor.

No caminho dos cães, onde ninguém quer ir.

Passagem a que apenas poetas recorrem,

quando já nada mais lhes resta.

Mas eu ainda tinha tantas coisas por fazer!

E ainda assim, lá estava: permitindo que me matassem

as formigas vermelhas e também

as formigas pretas, percorrendo aldeias desertas:

o terror que se agigantava

até roçar as estrelas.

 

Um chileno educado no México pode suportar tudo,

pensava eu, mas não era verdade.

À noite, meu coração chorava. O rio do ser, diziam

lábios febris que depois descobri serem os meus,

o rio do ser, o rio do ser, o êxtase

que se curva nas margens dessas aldeias abandonadas.

 

Sumulistas e teólogos, adivinhos

e salteadores de estradas emergiram

qual realidades aquáticas em meio a uma realidade metálica.

Só a febre e a poesia provocam visagens.

Só o amor e a memória.

Não esses caminhos nem essas planícies.

Não esses labirintos.

 

Até que por fim minha alma capturou meu coração.

Estava doente, é verdade, mas estava vivo.

Sonhei com detetives congelados no grande

refrigerador de Los Angeles

no grande refrigerador da Cidade do México.

 

Tradução: Rogerio Rocha.

 

Rogerio Rocha é professor, escritor e pesquisador com formação nas áreas do Direito e da Filosofia
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