Sacada Literária

Cultura, crítica e divulgação

PALOMITAS, cine cult – indicações de filmes [sessão 15.03.2024]

 PROVOCAÇÕES

&

PERFORMANCES MARCANTES

 

por Bioque Mesito

 

 

O BAR LUVA DOURADA

Título original: Der Goldene Handschuh

Direção: Fatih Akin

Gênero: Drama/Suspense

País/Ano: Alemanha, 2019

 

Um Serial Killer convincente

 

O Bar Luva Dourada é um filme que mergulha nas profundezas sombrias da mente de um serial killer, Fritz Honka, retratando de forma crua e perturbadora a sua jornada de degradação e violência. O diretor Fatih Akin, com uma abordagem mais contida, expõe a decadência e misoginia que permeiam a narrativa, ambientada na Alemanha dos anos 1970, pós-Segunda Guerra Mundial.

O protagonista, interpretado com intensidade por Jonas Dassler, é apresentado como um ser grotesco em busca de atenção, cujas vítimas são prostitutas velhas e desamparadas. A câmera distante observa sua brutalidade, enquanto o filme destaca a podridão que o cerca, desde os personagens até os ambientes decadentes.

A insistência em certos detalhes, como o fedor da casa de Honka, reforça a atmosfera angustiante e a iminência da tragédia. A motivação do assassino, ligada à sua frustração sexual, é explorada de forma quase simplista, contrastando com a complexidade psicológica do personagem.

Destaca-se a atuação marcante de Jonas Dassler, que se transforma sob uma pesada maquiagem para encarnar a repugnância de Honka. A sutil presença de uma adolescente, como um símbolo de beleza e esperança em meio ao caos, adiciona camadas à narrativa sombria.

O filme recebeu reconhecimento através de prêmios e elogios, destacando-se pela atuação do elenco, a direção de arte detalhada e a atmosfera densa e perturbadora. O Bar Luva Dourada é uma obra que desafia o espectador a refletir sobre a natureza humana e a crueldade, sem poupar detalhes na sua representação visceral e impactante.

 

 

 

 

 

 

A SALA DOS PROFESSORES

Título original: Das Lehrerzimmer

Direção: Ilker Çatak

Gênero: Drama

País/Ano: Alemanha, 2023

 

A encruzilhada de sutilezas

 

A Sala dos Professores é um filme que mistura mistério, drama e comédia de forma envolvente e cativante. A trama gira em torno de Carla, uma professora de matemática recém-chegada à escola, que se depara com um roubo em andamento. Determinada a resolver o mistério, ela mergulha em uma investigação que revela não apenas o crime, mas também a falta de comunicação e compreensão entre colegas, pais e alunos.

A personagem de Carla, interpretada pela brilhantemente atriz Leonie Benesch, traz uma mistura de determinação e vulnerabilidade que a torna cativante e realista. Seu confronto com a mãe de seu aluno Oskar, principal suspeita do roubo, adiciona camadas de tensão e complexidade à narrativa.

O elenco é repleto de atores e atrizes talentosos, que entregam performances convincentes e emocionantes. Destaca-se a química entre os personagens, que cria momentos de humor e emoção genuínos. A direção habilidosa e a trilha sonora envolvente contribuem para a atmosfera do filme.

A Sala dos Professores recebeu reconhecimento da crítica e do público, conquistando prêmios por sua abordagem original e pela qualidade das atuações. A sutileza na construção dos personagens e a maneira como o filme aborda questões como confiança, trabalho em equipe e superação de desafios tornam a história envolvente e inspiradora.

É uma obra cinematográfica que combina elementos de suspense, humor e drama de forma equilibrada, proporcionando uma experiência cinematográfica única e memorável. A Sala dos Professores é um filme imperdível para quem se interessa por temas como a educação, a ética e as relações humanas. Uma obra que nos convida a refletir sobre a importância da integridade e da luta por um sistema educacional mais justo e humano.

 

 

 

 

 

 

 

ZONA DE INTERESSE

Título original: The Zone of Interest

Direção: Jonathan Glazer

Gênero: Drama/Guerra

País/Ano: Estados Unidos / Reino Unido / Polônia / Irlanda do Norte, 2023

 

Frieza e crueldade ao lado da morte 

 

Zona de Interesse é um filme que aborda o Holocausto de uma maneira inusitada e provocativa, trazendo uma perspectiva diferente sobre os horrores vivenciados durante a Segunda Guerra Mundial. Dirigido pelo cineasta britânico Jonathan Glazer, o filme mergulha na vida de uma família alemã de classe média que reside ao lado do campo de concentração de Auschwitz, trazendo à tona a indiferença e perversidade que permeavam a sociedade da época.

No centro da trama, temos Rudolf, interpretado com intensidade por Christian Friedel, um oficial responsável pelo funcionamento de Auschwitz, e sua esposa Hedwig, vivida por Sandra Hüller, uma figura que representa a normalidade aparente em meio à barbárie. A dinâmica entre os personagens revela a complexidade moral e psicológica daqueles que estavam próximos aos horrores do Holocausto, sem se deixarem afetar pela brutalidade ao seu redor.

Zona de Interesse desafia as convenções ao explorar a banalidade do mal e a complacência diante da atrocidade, sem cair em clichês ou simplificações. A narrativa sutil e perturbadora expõe as camadas de desumanidade e crueldade que permeavam a vida cotidiana naquele contexto histórico, questionando a moralidade e a ética em tempos de extrema violência.

O filme recebeu reconhecimento (vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional em 2024) por sua abordagem corajosa e provocativa, conquistando prêmios por suas performances marcantes e pela direção habilidosa de Glazer. As nuances psicológicas dos personagens, a ambientação detalhada e a trilha sonora envolvente contribuem para a atmosfera densa e reflexiva do filme, que convida o espectador a refletir sobre as complexidades morais e éticas em situações extremas.

Zona de Interesse é uma obra cinematográfica impactante e provocativa, que desafia o espectador a confrontar a natureza humana em seus aspectos mais sombrios, oferecendo uma visão única e perturbadora sobre um dos períodos mais sombrios da história.

 

 

 

 

 

 

 

 

JOAQUIM

Título original: Joaquim

Direção: Marcelo Gomes

Gênero: Drama/Biografia

País/Ano: Brasil, 2017

 

A cabeça perdida por uma nação

 

Joaquim é um filme que desafia as convenções ao explorar a vida de Tiradentes antes de sua consciência política despertar, apresentando uma abordagem inovadora e provocativa sobre a figura histórica. A narrativa se inicia de forma impactante, com uma cabeça decapitada sob a chuva torrencial, introduzindo o espectador ao universo complexo e multifacetado do protagonista.

Júlio Machado brilha no papel de Joaquim, retratando-o como um homem bruto e impulsivo, cuja jornada é marcada por ações mais do que convicções. A estética do filme contribui para transmitir um senso de imediatismo e urgência, enquanto a narrativa se desdobra em uma série de eventos que revelam as nuances da sociedade da época.

O diretor Marcelo Gomes adota uma abordagem não linear e detalhada, explorando os bastidores e os momentos de espera, dúvida e cansaço que muitas vezes são negligenciados em narrativas históricas. O filme destaca a ironia dos perdedores e a complexidade das relações sociais, oferecendo uma visão crítica e profunda sobre a formação do país.

A atuação de Nuno Lopes como o militar português desajeitado proporciona um contraponto interessante para as explanações de Tiradentes, enriquecendo a dinâmica entre os personagens. As cenas que destacam a diversidade cultural e social do Brasil colonial são belas e significativas, ressaltando as transformações que ocorrem na base da pirâmide social.

Joaquim não se limita a retratar o herói popularmente conhecido, mas investiga os motivos por trás da conversão de Joaquim em militante, desafiando as expectativas do público. O filme conclui de forma selvagem e potente, convocando à reflexão sobre a revolta social diante da opressão, em uma mensagem relevante para os tempos contemporâneos.

O filme é uma obra ousada e fervorosa, que se destaca pela sua abordagem não convencional, pela profundidade do discurso político e pela complexidade na revisão da história do país. Uma película que desafia o espectador a repensar conceitos estabelecidos e a refletir sobre as lutas sociais em diferentes contextos históricos.

 

 

 

 

 

 

 

LICORIZE PIZZA

Título original: Licorice Pizza

Direção: Paul Thomas Anderson

Gênero: Comédia/Drama/Romance

País/Ano: Estados Unidos, 2021

 

Complexidades e traições

 

Licorize Pizza é um filme que se destaca por suas atrações e personagens envolventes. Com uma trama cativante, o filme apresenta uma atmosfera única, repleta de detalhes minuciosos que prendem a atenção do espectador. Os personagens são complexos e bem desenvolvidos, contribuindo para a riqueza da narrativa.

No universo musical, o conceito de drone, representado por sons sustentados ou repetidos com mínima variação, encontra paralelos interessantes com a abordagem cinematográfica de Paul Thomas Anderson. Seus filmes operam em um estado hipnótico, caracterizados por planos longos e zooms agressivos que criam uma sensação de urgência e expectativa.

O filme acompanha a jornada de um ator de quinze anos, Gary Valentine, e uma mulher na casa dos vinte, Alana Kane, enquanto eles navegam pelo romance e autodescoberta. A audácia narrativa de Anderson ao dissecar os mitos de Hollywood e sua aguda análise das narrativas autoindulgentes da indústria destacam este filme.

Apesar da diferença de idade entre os personagens, não há um relacionamento sexual, mas sim uma conexão emocional profunda enraizada em suas diferentes experiências de vida. O filme captura a energia e o ritmo da época, retratando uma história única e envolvente de juventude e autodescoberta.

Licorize Pizza é uma experiência cinematográfica envolvente e rica em detalhes, onde a combinação entre uma trama intrigante e personagens bem construídos se destaca. O filme certamente cativará os espectadores com sua atmosfera única e a profundidade de seus elementos visuais e sonoros.

 

 

 

 

 

 

Bioque Mesito – foto: divulgação